Protesto pirata

Lideranças criticam aluguel de manifestantes

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5 de agosto de 2009, 12h23

A atitude da Nova Central Sindical de alugar manifestantes para fazer volume nos protestos e defender qualquer ideia foi repudiada por lideranças de partidos, entidade de classe e até pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes. De acordo com notícia exclusiva publicada pela revista Consultor Jurídico, com R$ 40 por cabeça, é possível reunir até duas mil pessoas na Esplanada dos Ministérios para defender ou atacar qualquer coisa, tomar partido contra ou favor de qualquer um.

Deputados, a Ordem dos Advogados do Brasil e o presidente do Supremo classificaram o aluguel de manifestantes como uma crise de legitimidade nos sindicatos que adotaram esse expediente. Clique aqui para ler a reportagem da ConJur.

O presidente do STF afirmou: "Chegamos ao fundo do poço em matéria de moralidade e será muito mais grave se for constatado que estão usando recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador. O caso é digno de investigação". E a investigação sugerida pelo presidente do STF acontecerá.

Após a reportagem feita pela ConJur, o deputado Ronaldo Caiado (GO), líder do DEM, anunciou que o partido pedirá que o Tribunal de Contas da União investigue a Nova Central. “É uma atitude criminosa, feita com dinheiro público dado aos sindicatos, pago pelos trabalhadores. Além do ressarcimento desse dinheiro, tem que ter a dissolução desse sindicato”, disse. Para Caiado, a Nova Central Sindical perde credibilidade na hora de protestar, ao pagar pelos manifestantes. “Isso tira a representação popular dos sindicatos, na medida em que eles preferem pagar para conseguir ter gente reivindicando. É um absurdo.”

As críticas vieram também do deputado Vicentinho (PT-SP), conhecido líder da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e sindicalista há 32 anos. Vicentinho rebateu a acusação do secretário-geral da Nova Central Sindical, Moacyr Auersvald, que havia dito que todos os sindicatos adotam a mesma prática. “Sou sindicalista há muito anos e é a primeira vez que eu ouço falar disso em qualquer sindicato. É uma coisa nova”, afirmou o líder da CUT.

Vicentinho disse, ainda, que a Nova Central Sindical não consegue mobilizar os trabalhadores e prefere um jeito mais barato e prático de conseguir gente. “Essas pessoas (manifestantes) não são sindicalistas, então não tem retorno para a categoria. E é esse retorno que conscientiza. Eles não voltam para as fábricas e mobilizam mais pessoas. Talvez, eles façam isso para demonstrar”, disse.

A Ordem dos Advogados do Brasil classificou de “artificial” os protestos feitos à base de sindicalista postiço. O secretário-geral da OAB, Alberto Zacharias Toron, se manifestou sobre o tema. "A OAB registra sua estranheza diante da circunstância de existirem organizações que locam manifestantes. O fato revela que muitas manifestações são marcadas pelo artificialismo. Mais grave, prestam-se à manipulação da opinião pública, com protestos que não têm a dimensão e espessura que aparentam ter. A OAB repudia a prática", disse Toron.

A imprensa também repercutiu a notícia publicada com exclusividade pela ConJur. O jornal O Globo tentou entrevistar o secretário-geral da Nova Central e presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade (Contratuh), Moacyr Auersvald. O dirigente deu a mesma resposta: “Isso é um problema interno”. Os blogueiros Ricardo Noblat e Josias de Souza também reproduziram a notícia.

Volume e crise
A relação entre a Contratuh e a Nova Central é umbilical. Segundo Sandra Ribeiro, recrutadora dos manifestantes, as duas entidades “trabalham juntas”, na hora de pagar para fazer volume. Apesar de recorrer a manifestantes artificiais, a Contratuh não poupou emoção para defender a categoria, quando o presidente Lula chamou os senadores de “pizzaiolos”. “
O profissional suporta as altas temperaturas do forno à lenha, numa luta incansável contra o tempo, com a destreza de sempre se lembrar de individualizar cada matéria-prima para, por fim, sua obra, a pizza, representada por traços e cores, ser entregue aos clientes.” 

A crise no sindicalismo também chegou ao Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat), órgão responsável por um orçamento de R$ 43 bilhões. O Codefat sofreu um racha nas últimas semanas, após um acordo de quase duas décadas ter sido quebrada. Pela tradição, o sistema de rodízio do comando do órgão passaria, em 2010, para os representantes patronais. Entretanto, a nanica Confederação Nacional de Serviços lançou candidatura própria, apesar de ter sido criada apenas em dezembro. Resultado: as quatro maiores confederações de empresários do país abandonaram o Codefat em repúdio à manobra.

Mas não são somente os sindicatos que optam por inflar manifestações com práticas artificiais. Quem também aderiu à moda foi o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), alvo de uma saraivada de denúncias contra sua conduta e de sua família na vida pública. Segundo o jornal Correio Braziliense, o senador contratou 15 jornalistas para analisar as notícias publicadas e bolar estratégias de contra-informação. Sarney não difere muito dos sindicalistas: contratou gente para se passar por apoiadores, com usuários falsos em sites da internet como Twitter e Orkut, de acordo com o jornal. 

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