Espionagem por contágio

Protógenes mira em um e espiona dezenas

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10 de abril de 2009, 5h13

Os arquivos apreendidos no computador particular do delegado Protógenes Queiroz revelam as espionagens feitas por agentes da Abin na casa do porta-voz do ex-presidente da República, e assessor do atual presidente do Senado, José Sarney. O esquema de espionagem contra o jornalista Fernando César Mesquita foi montado por que, segundo os agentes da Abin, ele mantinha contato com Guilherme Henrique Sodré Martins, que por sua vez “mantém contato diário com Daniel Dantas e cuida da realização de tráfico de influência em Brasília”. Fernando César Mesquita não era investigado na Satiagraha e não havia determinação judicial para que fosse monitorado.

Agora se entende porque os arapongas da Abin seguiram e fotografaram a arquiteta Manuela Cantanhêde Rampazzo. Manuela Rampazzo é filha da colunista da Folha de S. Paulo, Eliane Cantanhêde, e do também jornalista Gilney Rampazzo, ex-editor da TV Globo em Brasília. Manuela virou vítima da operação simplesmente por ter ido à casa do jornalista Fernando Cesar Mesquita, assessor do senador José Sarney, para submeter-lhe um projeto de arquitetura.

Protógenes Queiroz, em sua protológica, intuiu que pelo fato de Eliane Cantanhêde trabalhar na sucursal da Folha de S. Paulo em Brasília, sob o mesmo teto da repórter Andréa Michael (de quem o delegado chegou a pedir a prisão preventiva, alegando ter ela vazado a Satiagraha) poderia colocar, a ambas, naquilo a que na PF se chama de “Orcrim” (Organização Criminosa).

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Carro do delegado Reinaldo Sobrinho em visita Fernando Cesar Mesquita - ReproduçãoPela mesma via de observação, Protógenes chegou a seguir, através de agentes da Abin, um seu colega, o delegado federal Reinaldo de Almeida Cesar Sobrinho, apenas porque este também compareceu a uma festa na casa de Fernando César Mesquita. A foto do carro do delegado estacionado à frente da casa de Fernando Mesquita [à direita], foi reproduzida no relatório.  Explica a Abin que “Reinaldo, Delegado da Polícia Federal, exerceu em 2002 a função de Assessor Parlamentar do DPF. Reinaldo é o atual Primeiro Secretário da Diretoria da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal. Reinaldo de Almeida Cesar Sobrinho, dentre as funções exercidas no DPF, atuou no Núcleo de Inteligência Policial”.

Um almoço na casa de Fernando César Mesquita no dia 1º de abril de 2008, colocou na mira dos espiões de Protógenes representantes do primeiro escalão dos três poderes da República, além de membros do Ministério Público e da imprensa. Entre eles, são citados no relatório do delegado, os ministros do Superior Tribunal de Justiça Humberto Gomes de Barros, Cesar Asfor Rocha (ex e atual presidente da corte) e Napoleão Nunes Maia Filho, os ministros do Tribunal de Contas da União Ubiratan Aguiar e Walmir Campelo, o ministro do Superior Tribunal Militar José Coelho, o desembargador do Tribunal Regional Federal da 3ª Região e atual conselheiro do Conselho Nacional de Justiça Mairam Gonçalves, o subprocurador-geral da República Roberto Gurgel, o deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE) e o vice-governador do Distrito Federal, Paulo Octavio.

À revista Veja, o investigado de Protógenes manifestou toda sua indignação com a bisbilhotagem indevida: “Estou indignado. Fui secretário de imprensa do presidente da República e governador de estado. Não podem invadir minha privacidade dessa forma, apenas por causa das minhas amizades”. Segundo os agentes da Abin, “Fernando Mesquita transita em ambientes de alto nível social e entre pessoas importantes. Seu comportamento sugere que atue como lobista político no senado embora sua vinculação exata à casa não tenha sido aferida”.

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