CPI dos Grampos

Ex-assessor da Abin diz que não sabia da Satiagraha

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7 de abril de 2009, 19h18

José Cruz/Agência Brasil
O delegado da Polícia Federal Renato Porciúncula presta depoimento à CPI das Escutas Telefônicas. Na mesa, o relator da comissão, deputado Nelson Pellegrino (à esquerda) e o presidente, Marcelo Itagiba - José Cruz/Agência BrasilO ex-assessor especial da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o delegado da Polícia Federal Renato Porciúncula [na foto, à direita], disse nesta terça-feira (7/4) que não sabia da operação Satiagraha, alvo da CPI dos Grampos justamente por causa de parceria entre a Abin e a Polícia Federal. Em depoimento à CPI dos Grampos, o ex-assessor afirmou que não sabia dos métodos utilizados pelo delegado Protógenes Queiroz e tampouco da parceria entre o delegado e a Abin. Detalhe: Porciúncula disse que não sabia de nada, mas se classificou como “braço esquerdo” do ex-diretor da Abin, Paulo Lacerda, também delegado e ex-diretor geral da Polícia Federal.

O depoimento de Porciúncula deu o tom do que pode ser o esperado depoimento de Protógenes Queiroz à CPI nesta quarta-feira (8/4). Porciúncula eximiu a Abin de qualquer culpa com supostas irregularidades na Satiagraha, e jogou a responsabilidade para o colo de Protógenes, que comandou a operação. “Uma autoridade policial, quando preside uma operação, tem autonomia para peticionar formal ou informalmente em qualquer foro, e o chefe não fica sabendo”, disse o ex-assessor da Abin. “O controle da legalidade das ações é do delegado”, completou.

Apesar de alegar não ter acompanhado os trabalhos da Satiagraha, o ex-assessor da Abin confirmou que encontrou o araponga Francisco Ambrósio em uma meia-noite de sexta feira para saber se ele seria o tal “homem bomba” da operação.  À época, Porciúncula e Lacerda já tinham sido afastados em razão de supostas irregularidades cometidas na Satiagraha. “Recebi uma ligação do doutor Lacerda para acompanhar o Campana e o Paulo Maurício (diretores da Abin) num encontro com o ‘cara que sabia de tudo’”, disse Porciúncula. “Havia realmente uma preocupação, mas esse frisson foi exagerado”, completou.

O trio, segundo Porciúncula, ficou encarregado de “dar uma assombrada” em Ambrósio, ex-agente do Serviço Nacional de Informações (SNI). “Aí eu vi que não tinha nada e liguei para o Daniel Lorenz (diretor na PF) para dizer que o cara era ‘fraco’”. Porciúncula marcou um encontro entre Lorenz e Ambrósio para o dia seguinte. Parêntesis: Porciúncula ganhou notoriedade quando ainda era diretor de Inteligência da Polícia Federal, em 2007, por usar uma BMW de quase R$ 300 mil apreendida pela PF em uma operação.

O depoimento de Porciúncula irritou os deputados da oposição. O ex-assessor da Abin minimizou as críticas, principalmente em relação ao fato de “não saber da Satiagraha”. “Não é um demérito eu não saber. Essas questões (a investigação) não eram da minha área”, justificou Porciúncula. Em resposta, o deputado Raul Jungmann (PPS-PE) classificou o depoimento de “paradoxal”. “É impressionante, porque conversar com o Ambrósio também não era da sua área”, disse o deputado. “O senhor é o assessor para frisson?”, completou Jungmann. Porciúncula preferiu não responder.  

Para o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), o depoimento de Porciúncula, lotado atualmente no Ministério da Justiça, faz parte de uma estratégia do governo. “Parece que há uma blindagem do governo a respeito do senhor e do Paulo Lacerda, e uma série de procedimentos contra o delegado Protógenes”, afirmou.

Isolado, Protógenes Queiroz prometeu dar “nome aos bois” no depoimento à CPI nesta quarta. Isso, é claro, se não preferir o silêncio do Habeas Corpus que conseguiu no Supremo Tribunal Federal.

[Foto José Cruz – Agência Brasil]

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