Quem não deve é que teme

No país dos grampos, quem não deve é que teme

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7 de abril de 2009, 15h26

Quem deve, que pague. Mas é dura a vida de quem não deve: sofre os mesmos constrangimentos de quem deve, e sem ter aproveitado antes.

Um exemplo: Manuela Rampazzo, arquiteta, teve a vida xeretada pela equipe do delegado Protógenes Queiroz na Operação Satiagraha (seu nome está no computador do delegado, apreendido por ordem judicial). Manuela é filha de jornalistas, Eliane Cantanhede, da Folha de S.Paulo, e Gilney Rampazzo, diretor de uma grande e prestigiada produtora, a GW. Mas não foi bisbilhotada por causa dos pais: meteram-se na sua vida porque levou um projeto arquitetônico ao jornalista aposentado Fernando César Mesquita, que estava sendo monitorado – e estava sendo monitorado sem qualquer ordem judicial.

Dois grandes grupos, os fascistas e os ingênuos, têm apoiado a bisbilhotagem da vida de qualquer um. Os fascistas, porque faz parte de sua ideologia: no Estado que querem, pensar diferente é crime grave, que deve ser detectado e punido. Os ingênuos, porque acham que quem não deve não teme, e se orgulham de dizer que se alguém os monitorar não vai encontrar nada. Mas vai: vai encontrar um namoro escondido, uma fofoca contra o chefe, os segredos dos filhos. E há as interpretações policiais: aquele buquê de flores, dirão os relatórios, pode ser código para ecstasy. E dizer que o filme é bom pode se referir à qualidade da cocaína.

Temam, pois. Como diria um dos maiores líderes da História, cuja Ressurreição festejamos agora, quem não tiver pecado que atire a primeira pedra.

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