Água na fervura

Para Carlos Britto, Joaquim Barbosa está sendo injustiçado

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10 de setembro de 2008, 14h55

O ministro Carlos Britto, presidente do Tribunal Superior Eleitoral e membro do Supremo Tribunal Federal, está “no limite da tolerabilidade com essa injustiça que está se fazendo com o ministro Joaquim Barbosa”. A afirmação foi feita à repórter Carolina Brígido, do jornal O Globo, quando questionado sobre as recentes discussões nas quais JB se envolveu e sobre sua fama de briguento.

Carlos Britto saiu em defesa de Joaquim Barbosa. Disse que eles são vizinhos, saem juntos para tomar vinho e convivem há cinco anos: “Isso me dá condições de atestar que ele é uma pessoa admirável em muitos aspectos”. Na opinião do ministro, muitas vezes Joaquim Barbosa é rude e usa uma linguagem mais contundente nas discussões, mas “ele não quer ofender ninguém”. Segundo Britto, esta é uma forma de “persistir na sua autenticidade. Ele é um homem verdadeiro”.

Na terça-feira (9/9), o ministro Eros Grau, também em entrevista ao site O Globo OnLine, afirmou que JB não mede as palavras e foi muito duro com ele. “Coitado. Ele deve ter problemas. Cada um de nós tem as suas coisas. Suas angústias, suas culpas, suas características”, disse sobre o colega. E alertou: “Eu estou aqui para ser simpático só à Constituição”.

Recentemente, Eros Grau e Joaquim Barbosa protagonizaram uma briga que começou no Tribunal Superior Eleitoral e continuou no STF, quando os dois quase chegaram às vias de fato (clique aqui para ler o texto sobre a briga). JB reclamou da decisão de Eros Grau que libertou o empresário Humberto Braz.

Na semana passada, um novo bate-boca na sessão do STF, entre Marco Aurélio e Joaquim Barbosa, trouxe à tona o mal-estar dos colegas com o ministro (clique aqui para ler).

O ministro Carlos Britto, na entrevista ao site O Globo OnLine, declarou que as desavenças entre os colegas não denotam qualquer crise no Supremo Tribunal Federal. “Acho que o Supremo atravessa um bom período de afinidade com a Constituição. O Supremo está tirando a Constituição do papel, impedindo que ela seja um elefante branco. Isso me agrada muito.”

Leia a entrevista

O Globo — Qual sua posição nessa polêmica?

Carlos Britto — Eu estou no limite da tolerabilidade com essa injustiça que está se fazendo com o ministro Joaquim Barbosa. Ele convive comigo há cinco anos e isso me dá condições de atestar que ele é uma pessoa admirável em muitos aspectos. Vamos tirar o ministro Joaquim dessa alça de mira, como se ele fosse um encrenqueiro, um criador de caso, ou pior, um inadaptável à função. Ele é admirável pela excelente capacidade técnica. É possível notar isso nos votos escritos e nas sessões de julgamento. Ele é corajoso, arejado mentalmente, contemporâneo. O Joaquim, de retrógrado e reacionário, não tem nada. É um homem de seu tempo. No plano ético, ele é irretocável, incensurável. Ele é dotado de uma absoluta independência política, o que diz bem da sua imparcialidade, seja qual for o interesse em jogo.

O Globo — O senhor acha que o ministro Joaquim Barbosa sofre preconceito racial entre seus colegas?

Carlos Britto — Não digo isso. O Joaquim tem sido por vezes rude no linguajar, e isso tem gerado atritos aqui e ali. A rudeza no Joaquim não é um fim: ele não quer ofender ninguém, ele não tem essa raja de sangue no olho. Quando ele usa uma linguagem mais contundente, é pra persistir na sua autenticidade. Ele é um homem verdadeiro.

O Globo — O senhor é amigo de Joaquim?

Carlos Britto — Ele é meu vizinho. Às vezes saímos juntos para tomar um vinho. Ele é uma pessoa alegre, descontraída, tem um fino gosto musical, ri com extrema facilidade, é uma presença leve e sabe distinguir muito bem altivez de arrogância. Ele não é nada arrogante. Tenho muito orgulho e muita honra de ser colega dele.

O Globo — O senhor acha que o Supremo passa por uma fase de crise interna?

Carlos Britto — Gosto de ver as coisas pelo lado positivo. Acho que o Supremo atravessa um bom período de afinidade com a Constituição. O Supremo está tirando a Constituição do papel, impedindo que ela seja um elefante branco. Isso me agrada muito.

O Globo — As brigas entre os colegas te incomodam?

Carlos Britto — Eu não gosto de confusão. O dissenso (divergência) é no plano das idéias. Já o confronto é nocivo porque se dá no plano subjetivo. Você desqualificar subjetivamente o argumentador é outra coisa. Eu repudio o confronto e louvo o dissenso.

O Globo — O senhor chegou a conversar com os dois ministros para tentar pacificar os ânimos?

Carlos Britto —Quando houve aquele atrito, eu cheguei já no fim. Eu sempre chego pra dar uma palavrinha de “peraí, tá superado”. É da minha natureza isso.

O Globo — O senhor ficou chateado com a entrevista dada pelo ministro Eros Grau?

Carlos Britto —Prefiro não comentar isso.

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