Ministros em choque

Ele deve ter problemas, diz Eros Grau sobre Joaquim Barbosa

Autor

9 de setembro de 2008, 22h41

Apesar das divergências com o ministro Marco Aurélio, o ministro Eros Grau não se sente magoado com o colega do Supremo Tribunal Federal, pois entende que suas divergências se deram com respeito. Hoje, não há ressentimentos entre os dois.

Já com o ministro Joaquim Barbosa, a situação é diferente. Em entrevista à jornalista Carolina Brígido, do jornal O Globo, Eros Grau afirmou que seu colega não mede as palavras e foi muito duro com ele. “Coitado. Ele deve ter problemas. Cada um de nós tem as suas coisas. Suas angústias, suas culpas, suas características”, disse sobre o colega. E alertou: “Eu estou aqui para ser simpático só à Constituição”.

Recentemente, Eros Grau e Joaquim Barbosa protagonizaram uma briga que começou no Tribunal Superior Eleitoral e continuou no STF, quando os dois quase chegaram às vias de fato — clique aqui para ler texto sobre a briga. JB reclamou da decisão de Eros Grau que libertou o empresário Humberto Braz.

Na semana passada, um novo bate-boca na sessão do STF, entre Marco Aurélio e Joaquim Barbosa, trouxe à tona o mal-estar dos colegas com o ministro — clique aqui para ler.

Na entrevista publicada nesta terça-feira (9/9) pelo site O Globo OnLine, Eros Grau também falou se sua pretensão de fazer parte da Academia Brasileira de Letras e da pressão que o acúmulo de processos provoca sobre ele.

Leia a entrevista

O Globo — Em junho, o senhor teve uma discussão com o ministro Marco Aurélio Mello com troca de ofensas. O senhor está magoado?

Eros Grau — O Marco Aurélio é um cara que nem eu. A gente diverge, sem ódio.

O Globo — O senhor acha que ele tem o pavio curto?

Eros Grau — Isso qualquer um pode ter. Mas ele não tem ódio. Eu não tenho ódio também.

O Globo — O senhor está rompido com ele? E com o ministro Joaquim Barbosa? Ele chegou a dizer que o senhor é patético e arrogante.

Eros Grau — Bom, com o Joaquim é uma coisa diferente. Ele tem a maneira dele, não pesa as palavras. É uma coisa muito séria. O ministro Joaquim foi muito duro comigo.

O Globo — O senhor está magoado com ele?

Eros Grau — Coitado. Ele deve ter problemas. Cada um de nós tem as suas coisas. Suas angústias, suas culpas, suas características.

O Globo — Ultimamente, os ministros do STF têm discutido muito. O senhor não acha que aumentaram essas brigas?

Eros Grau — Nós temos um excesso de trabalho. Nós temos uma carga de responsabilidade muito grande. A sociedade e a imprensa, no pleno exercício de seus direitos, exigem muito de nós. E é natural que haja momentos de tensão. Nós somos seres humanos.

O Globo — O senhor se sente pressionado pela sociedade e pela imprensa?

Eros Grau — Não, nunca me senti pressionado.

O Globo — E pela quantidade de processos?

Eros Grau — Isso é outra coisa, não é pressão. Pela quantidade de processos eu fico desesperado às vezes, sem saber qual é a maior prioridade. Quando eu resolvo pegar um determinado processo para me dedicar, tenho que fazer a escolha em detrimento de outros. Saber o que é mais importante naquele momento é um negócio terrível. Você já começa a tomar decisões aí. Minha mulher às vezes me pergunta: “Você quer mais alface, mais tomate?”. Eu digo: “Pelo amor de Deus, tome essa decisão por mim”. Porque nós já passamos o dia inteiro tomando decisões.

O Globo — O excesso de trabalho e o clima pesado já fizeram o senhor pensar em antecipar a aposentadoria?

Eros Grau — Não. Pode ser que em algum momento, em alguma irritação, eu tenha dito: “Ah, eu quero ir embora!”, mas não como um projeto. Acho que o que eu faço aqui é muito importante. O destino me colocou nessa situação e eu tenho que cumprir meu dever. Eu estou aqui para ser simpático só à Constituição.

O Globo — O senhor foi preso na época da ditadura. Para o senhor, os assuntos relativos àquela época devem ser discutidos ou enterrados?

Eros Grau — Faz parte do passado, do meu passado. A vida da gente é a vida da gente, há um momento para tudo. Felizmente eu não me envergonho de nada do que vivi. Eu não tive nenhum momento do qual eu tenha que me envergonhar.

O Globo — E senhor teme ser grampeado?

Eros Grau — Não. Sinceramente eu não me lembro de ter falado qualquer coisa que, se eu fosse grampeado, pudesse resultar em qualquer imputação contra mim. Eu sei que a gente pode estar sujeito a grampos de toda ordem, inclusive de civis. Mas isso não me preocupa.

O Globo — O senhor acha que essas notícias generalizadas de grampo remontam ao que o senhor viveu na ditadura, de estar sendo de alguma forma vigiado, perseguido?

Eros Grau — Não tem nada a ver. Naquela época, o que nos vivíamos gravitava a partir ou em torno de idéias. Agora não há idéia nenhuma, existe apenas um medo de que alguma violência possa acontecer. A sociedade parece que desaprendeu as virtudes do estado de direito. De vez em quando, a sociedade parte com alguma violência contra determinados alvos.

O Globo — O senhor acha que o alvo da vez é o Judiciário?

Eros Grau — A imprensa investiu muito, com razão muitas vezes, mas às vezes exageradamente, contra o Poder Legislativo. E isso está acontecendo agora em relação ao Poder Judiciário. E uma sociedade que despreza as conquistas democráticas começa a correr riscos de auto-destruição. Cada vez que na sociedade levantam-se vozes contra o que se faz no âmbito do Judiciário, se está investindo contra a ordem constitucional. No momento em que o Judiciário for desrespeitado, nenhum de nós mais terá mais nenhuma garantia. Isto é muito grave. Temos que respeitar as instituições.

O Globo — Dizem que o senhor gostaria de ser indicado para a Academia Brasileira de Letras…

Eros Grau — Um homem da minha idade, que é ligado à literatura, um sonho passa pelo Rio de Janeiro e pelo Petit Trianon.

O Globo — O senhor trocaria o STF pela Academia?

Eros Grau — Ah, são inteiramente compatíveis… Houve vários ministros do Supremo que foram da Academia.

O Globo — E se agora o senhor tivesse que escolher um dos dois?

Eros Grau — (risos)

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!