Estranho na linha

Gilmar Mendes confirma grampo para delegados da PF

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8 de setembro de 2008, 21h15

O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, recebeu nesta segunda-feira (8/9) dois delegados da Polícia Federal em seu gabinete no Supremo. Ele foi ouvido como testemunha no inquérito que apura a escuta ilegal em seus telefones. O ministro confirmou a conversa que teve com o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), revelado há duas semanas pela revista Veja.

A revista informou ter tido acesso à transcrição de um dos grampos, que registra diálogo entre Gilmar e Demóstenes, mostrando que as autoridades estão sendo monitoradas pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A transcrição, informou a revista, foi obtida de um funcionário da própria Abin.

Os delegados pediram também para o ministro reproduzir as circunstâncias da ligação com o senador. Perguntaram como Gilmar recebeu a ligação (se a secretária quem passou a ligação ou se Demóstenes ligou em seu celular).

Quando questionado também se era a primeira vez que fora grampeado, Gilmar Mendes disse que estava sendo monitorado desde a Operação Navalha. Contou que uma conversa sua com o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, tornou-se pública minutos depois e que ficou sabendo através de uma jornalista da Folha de S.Paulo. “A jornalista ligou em seguida citando trecho da conversa com o PGR”, disse ele.

Ainda na Operação Navalha, Gilmar Mendes sofreu outra tentativa de intimidação. Em agosto de 2007, policiais vazaram a informação de que ele estava na lista das autoridades que receberam mimos da empreiteira Gautama, investigada pela Polícia Federal na operação.

A informação foi divulgada logo depois de o ministro dar liminar para soltar um dos presos pela PF. O verdadeiro nome na lista era de outra pessoa: o engenheiro Gilmar de Melo Mendes. A Polícia sabia que era apenas coincidência, mas divulgou-a assim mesmo.

Reportagem da revista Istoé desta semana apontou o ex- agente Francisco Ambrósio do Nascimento, aposentado do Serviço Nacional de Informações (SNI), como o coordenador na Polícia Federal da equipe que fez a escuta de 18 senadores, 26 deputados, ministros do governo e também do ministro Gilmar Mendes.

O texto, assinado pelos jornalistas Mino Pedrosa e Hugo Marques, aponta Ambrosio do Nascimento como o “espião” que coordenou a atuação de um grupo de agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na Operação Satiagraha, da Polícia Federal.

De acordo com o texto, a pedido do delegado Protógenes Queiroz, responsável pelas investigações contra o grupo do banqueiro Daniel Dantas, Ambrósio se instalou no começo do ano em uma sala no Máscara Negra, como é conhecido o edifício-sede da PF em Brasília. Tornou-se uma espécie de braço direito do delegado, funcionando como elo entre Protógenes e os agentes operacionais da Abin, cedidos à Satiagraha.

Os jornalistas apontam também que muitas das escutas extrapolaram as autorizações legais da Justiça. Sendo que numa delas gravou-se a conversa telefônica de Gilmar com Demóstenes Torres.

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