Fé cega

Justiça nega que tenha feito intimação a Kaká na Itália

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7 de março de 2008, 15h00

Não existe o documento judicial que convoca o jogador Ricardo Izecson Santos Leite, o Kaká, a prestar esclarecimentos sobre suas relações com Estevam Hernandes Filho e Sonia Haddad Moraes Hernandes, líderes da igreja Renascer em Cristo. A informação consta do processo contra o casal que corre na 1ª Vara Criminal de São Paulo.

A informação foi expedida pela Justiça depois que o advogado do casal, Luiz Flávio Borges D´Urso, pediu esclarecimentos sobre caso em razão de reportagem publicada pela revista CartaCapital em 15 de janeiro de 2008, sob o título de Fé, Família e Dinheiro. O texto da semanal afirmou que o promotor paulista Marcelo Mendroni, em ofício enviado à Justiça de Milão, na Itália, queria que o jogador esclarecesse quais eram suas relações com o casal que comanda a igreja Renascer.

CartaCapital publicou cópia fotográfica do pedido de oitiva de Kaká que teria sido enviado à Justiça italiana. A revista confirma que o ofício foi enviado à Itália. E afirmou, em nota publicada nesta sexta-feira (7/3), que obteve a confirmação do Ministério da Justiça de que o documento publicado é verdadeiro e foi encaminhado ao Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional do Ministério pelo promotor Marcelo Mendroni (leia a nota abaixo).

O Judiciário paulista diz que o documento não existe. À Justiça, o promotor Mendroni disse que “o que não está nos autos, não está no mundo”. Trocando em miúdos, afirmou que não fez o pedido que a revista publicou. O juiz da 1ª Vara Criminal de São Paulo, em despacho, escreveu: “por parte do Juízo, em momento algum se determinou ou se expediu ofício à Justiça italiana para intimação da mencionada testemunha”.

Segundo o jornalista Paolo Manzo, autor da reportagem publicada por CartaCapital, “o promotor Mendroni confirmou a existência do ofício e disse que ele seria encaminhado pela segunda vez à Justiça italiana, porque da primeira vez o documento voltou por um erro formal”. Ele garante que esteve com o promotor, que confirmou a autenticidade do documento. E que Mendroni assinou o pedido de oitiva. A direção da revista também afirmou que a acusação de que o documento que publicou é falso é uma evidente "tentativa de intimidação".

Marcelo Mendroni foi procurado pela revista Consultor Jurídico para falar sobre o episódio, mas não foi encontrado e não retornou às ligações.

Defesa da Renascer

Depois que a reportagem da semanal foi publicada, D´Urso oficiou o juiz do caso e o promotor, para que esclarecessem a suposta intimação feita ao jogador. O juiz negou ter enviado qualquer documento à Justiça italiana. O promotor de Justiça Marcelo Mendroni também negou o envio do documento.

D´Urso diz que pediu que os fatos sejam investigados. “Tudo o que foi noticiado não tem qualquer fundamento. Não existe. Por conta disso, vamos tomar todas as providências cabíveis contra quem de direito, já que foi causado enorme constrangimento para o casal Hernandes e obviamente para o próprio Kaká”, disse o advogado à reportagem da revista ConJur.

Líderes da igreja Renascer em Cristo, que tem 2 milhões de seguidores e 1,2 mil templos, Sônia e Estevam Hernandes cumprem pena de dez meses de prisão nos Estados Unidos por entrarem irregularmente com US$ 56 mil no país. No Brasil, os dois são processados por lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e estelionato.

A reportagem

A reportagem Fé, Família e Dinheiro, assinada por Paolo Manzo, (clique aqui para ler) foi publicada em janeirodepois de o jogador receber o título de melhor do mundo e doar à igreja o troféu que ganhou.

O texto descrevia que o apoio pessoal do jogador Kaká à família Hernandes tinha despertado o interesse da Justiça brasileira. Por isso, o promotor de Justiça Marcelo Mendroni teria mandado um ofício para a Justiça italiana, pedindo que Kaká prestasse depoimento como testemunha e esclarecesse qual grau de amizade e que relação tinha com Estevam e Sônia Hernandes. O texto ainda dava conta de que a opção religiosa de Kaká sempre teria sido malvista pela sua sogra, Rosangela Lyra.

A reportagem repercutiu amplamente dentro e fora do país. A Igreja Renascer e a assessoria de imprensa do jogador Kaká desmentiram as informações e disseram que não foram procurados pela revista para comentar o ocorrido. CartaCapital disse que todas as informações da reportagem foram checadas e apuradas com outras fontes. “Se você tivesse um documento importante e oficial como a petição de um promotor para investigar as relações de Kaká com a Renascer, você o entrevistaria antes?”, justificou na ocasião o autor do texto, o jornalista Paolo Manzo.

A revista afirmou que usou informações do promotor Marcelo Mendroni e outras de domínio público, apuradas pela Folha de S.Paulo e pelo jornal italiano La Gazetta dello Sport. No site da CartaCapital, o repórter disse que seu único engano foi atribuir o cargo de juiz ao promotor Marcelo Mendroni. “Tudo que escrevi é autêntico”, disse. Em seu site, a revista também publicou: “CartaCapital faz questão de acentuar que o promotor, embora não desminta a autenticidade do documento publicado há duas semanas, não foi fonte da revista, não procurou a imprensa e não deu entrevistas sobre o assunto a quem quer que seja.” Em entrevista ao Comunique-se, o repórter explicou sua posição: “Jamais falei na publicação que entrevistei Rosangela Lyra, Kaká ou membros da Renascer. Eu não tenho que entrevistar Kaká”.

Leia a nota da divulgada pela CartaCapital

Os representantes da Igreja Renascer, cujos fundadores cumprem pena de prisão nos Estados Unidos, iniciaram uma nova ofensiva para tentar desqualificar a reportagem de capa de CartaCapital da edição 478, de 16 de janeiro de 2008.

O texto, do jornalista Paolo Manzo, revelava o interesse do promotor Marcelo Mendroni, do Ministério Público de São Paulo, de entender as relações do jogador de futebol Kaká com a Igreja.

Os advogados e a assessoria do apóstolo Hernandes e da bispa Sônia, que enfrentam vários processos no Brasil, acusaram CartaCapital de basear-se em documentos falsos, em evidente tentativa de intimidação.

A revista obteve a seguinte confirmação do Ministério da Justiça: o documento publicado na edição 478 é verdadeiro e foi encaminhado ao Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional do Ministério pelo promotor Marcelo Mendroni.

Uma primeira versão dos documentos com as perguntas de Kaká foi remetida em setembro do ano passado, mas em português. O ministério solicitou ao MP a tradução para o italiano. Feitas as correções, o material foi reenviado em fevereiro último. Como não havia nenhum obstáculo, o Ministério da Justiça já enviou as questões à Itália. Ou seja, a qualquer momento, Kaká pode ser chamado a responder às perguntas.

CartaCapital, diante dos fatos, irá tomar as medidas cabíveis contra quem a acusa de mentir e dar guarida a documentos falsos.

Notícia alterada às 18h dessa sexta-feira para acréscimo de informações.

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