Justiça em números

Em SP e RS, Justiça tem problemas iguais e resultados diversos

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8 de fevereiro de 2008, 23h01

Rio Grande do Sul e São Paulo são os dois estados que mais recebem processos por ano. São também os dois que mais têm processos parados. No entanto, a realidade dos dois é bem diferente.No Rio Grande do Sul, o número de novos processos que ingressam na Justiça e o de processos julgados é praticamente o mesmo. Em São Paulo, o número de processos encerrados que saem da pauta de julgamento não acompanha o ritmo de entrada de novos processos que entram. A conclusão é extraída do Justiça em Números — Levantamento Estatístico do Poder Judiciário divulgado pelo Conselho Nacional de Justiça na quarta-feira (6/2).

Em 2006, o Rio Grande do Sul recebeu 1,2 milhão de processos e conseguiu julgar 1 milhão em primeira instância. Os 200 processos não julgados se somaram aos 2,2 milhões parados nas prateleiras. A taxa de congestionamento na primeira instância gaúcha ficou em 70,06%, abaixo da média das 27 unidades da Justiça Estadual, que é de 79,92%. O número significa que, no Rio Grande do Sul, de casa 10 processos, três são julgados.

Já em São Paulo, chegaram 4,1 milhões e 2,9 milhões foram julgados. Ou seja, só em 2006, 1,2 milhão de processos se somou aos já 12,4 milhões de processos engasgados na primeira instância paulista. A taxa de congestionamento no estado é de 81,96%. Ou seja, de cada 10 causas esperando julgamento no estado, apenas dois são julgados no ano.

Em segunda instância, o Rio Grande do Sul recebeu 359,8 mil casos novos e julgou 335,9 mil. Terminou o ano com 108,4 mil. Em São Paulo, foram 496,9 mil casos novos, 467,7 mil julgados e um estoque de 583 mil.

Falando-se em Brasil, as 27 unidades da Justiça Estadual (primeira e segunda instâncias e Juizado Especial) começaram o ano de 2007 com 36,7 milhões de processos — os que já estavam parados mais os novos que chegaram em 2006, menos os que foram julgados. Se a Justiça Estadual é a responsável pela fama de morosidade pregada no Judiciário, o seu gargalo é, de fato, a primeira instância. Dos 36,7 milhões de processos que terminaram o ano de 2006 nas prateleiras, 31,9 milhões estão na primeira instância. É lá que reside o problema.

Em 2006, foram 10,4 milhões de novos processos, 8 milhões julgados e 29,5 milhões de processos acumulados de anos anteriores na primeira instância. Enquanto a taxa média de congestionamento na segunda instância é de 44,84%, na primeira chega a 79,92%.

Os números comprovam a máxima de que, quando se trata de Justiça Estadual, cada estado é uma realidade. Revelam também que, se continuar assim, a Justiça Estadual caminha para o precipício, afinal, apenas três estados conseguiram julgar, em 2006, mais processos do que receberam, podendo, assim, diminuir um pouco a longa fila de espera na Justiça. São eles: Alagoas, que recebeu 18,8 mil e julgou 19 mil; Distrito Federal, que recebeu 151,3 mil e julgou 157,6 mil; e Rondônia, que recebeu 102,6 mil e julgou 161,2 mil. Fora os três, nenhum outro conseguiu diminuir a sua pilha de processos.

A comparação dos dois maiores responsáveis pela quantidade avassaladora de processos nas prateleiras da Justiça Estadual — Rio Grande do Sul e São Paulo — mostra que maneiras de administração diferentes podem ajudar ou atrapalhar a tramitação das ações. Afinal, os números sozinhos não explicam o porquê de a Justiça de um estado funcionar melhor do que a outra. No Rio Grande do Sul, a carga de trabalho dos juízes é maior e os investimentos na Justiça são parecidos com os de São Paulo.

Em território gaúcho, cada desembargador recebeu, em 2006, 3,5 mil processos. Em São Paulo, cada um recebeu 2,9 mil. Mesmo assim, os desembargadores gaúchos conseguem dar maior fruição aos processos. Enquanto um desembargador gaúcho julgou em média 2,7 mil processos naquele ano (deixou apenas 200 na gaveta), seu colega paulista deu acórdão para 1,3 mil (sobraram 1,6 mil na gaveta. O resultado dos desempenhos se reflete na taxa de congestionamento: Em RS, é de 24,4%; em SP, 55,49%. A média nacional em segunda instância é de 44,84%.

Na primeira instância o resultado da comparação é parecido, embora os fatores sejam diferentes. Para cada um dos 1,7 mil juízes paulistas cabe um estoque de 9,5 mil processos para julgar, dos quais eles conseguem julgar 1.725. O número de julgados dos 605 juízes gaúchos é idêntico (1.724) ao dos paulistas, só que sua carga de trabalho é quase a metade da dos gaúchos: 5,7 mil. O resultado também é a taxa de congestionamento mais favorável do Judiciário gaúcho de primeira instância: 70% contra 82% de São Paulo.

A despesa da Justiça de cada estado — SP e RS — por habitante está acima da média e são bem próximas. Em São Paulo, são gastos R$ 93,28% por habitante. No Rio Grande do Sul, são R$ 108,24%. A média é de R$ 81,17. Gastos com informática também são bem próximos: 2,17% da despesa da Justiça em RS e 1,94% em SP, os dois acima da média que é 1,88%. A descoberta da causa e da possível solução do problema requer, portanto, uma análise aprofundada da realidade de cada tribunal, o que os números sozinhos não são capazes de oferecer.

JUSTIÇA ESTADUAL EM NÚMEROS

Despesas
Despesa total da Justiça Estadual

R$ 14.188.327.205

Despesa por habitante

R$ 81,17

Pessoal
Magistrados

10.936

Magistrados por 100.000 habitantes

5,86

Servidores

193.647

Litigiosidade
Carga de Trabalho
(Número de processos por magistrados)
2º Grau

1.770

1ª Grau

4.771

Juizados Especiais

8.651

Taxa de Congestionamento
(Relação entre sentenças e processos)
2º Grau

44,84%

1ª Grau

79,92%

Juizados Especiais

47,64%b

Taxa de Recorribilidade
(Porcentagem de sentenças recorridas sobre o total)
2º Grau

24,10%

1ª Grau

12,56%

Juizados Especiais

6%

Pessoas atendidas

16.100.648

Participação governamental na demanda

Ativa

3.208.145

Passiva

733.842

Numero de processos

Julgados Casos novos Pendentes
2º Grau

1.415.467

1.519.007

1.047.038

1º Grau

8.036.319

10.438.729

29.591.773

JEE

4.072.364

4.181.909

3.595.463

Total

13.524.150

16.139.645

34.234.274

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