Um fato e duas versões

Leia mais trechos do depoimento de Chicaroni à Justiça

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22 de agosto de 2008, 17h06

No depoimento à Justiça Federal em que mudou sua versão sobre o episódio da tentativa de suborno na Operação Satiagraha, o empresário e professor universitário Hugo Sérgio Chicaroni afirma que foi orientado pelo delegado Protógenes Queiroz a fazer a negociação.

Chicaroni foi acusado de tentar subornar o delegado federal Victor Hugo para que ele excluísse da investigação da Satiagraha os nomes de Daniel Dantas e de sua irmã, Verônica, a pedido de Dantas. Em seu primeiro depoimento à Polícia, segundo a própria PF, ele confirmou essa versão.

No depoimento prestado em 7 de agosto à Justiça, obtido pela revista Consultor Jurídico, Chicaroni muda a história e diz que não foi oferecido suborno, mas que os delegados é que pediram propina. Segundo o professor, Protógenes se valeu de uma amizade de pelo menos sete anos para armar o flagrante.

De acordo com Chicaroni, em um primeiro encontro, foram dados R$ 50 mil ao delegado federal Victor Hugo. E que, em uma segunda ocasião, repassou mais R$ 80 mil a ele. A meta seria o repasse de R$ 1 milhão. “Eu não dei um passo nesse caminho todo que não tenha sido orientado pelo delegado Protógenes Queiroz”, disse.

Veja o que Chicaroni diz agora sobre o episódio divulgado como a oferta de US$ 1 milhão. Além do juiz Fausto De Sanctis, estavam presentes no depoimento os procuradores da República Rodrigo de Grandis e Anamara Osório Silva, e o advogado Alberto Carlos Dias, que representa o professor.

Leia trechos do depoimento

O milhão, página 171:

A tratativa após isso ficou no seguinte: ele faria um jantar, o executivo do Opportunity… um jantar entre o delegado Victor Hugo e o senhor Humberto Braz. Aí aconteceu um fato. No dia 19 pela manhã eu estava em casa ainda e recebi um outro telefonema do delegado Protógenes Queiroz que perguntou se eu podia tomar café da manhã com ele. Eu disse a ele que tinha acabado de acordar, não tinha tomado banho ainda, nem nada: “Então toma seu tempo aí depois você vem para cá” (disse Protógenes)… tomei banho, e cheguei lá (no hotel Selton, na avenida Cásper Líbero, centro de São Paulo). Aí ele (Protógenes) me disse o seguinte: “Olha, o delegado Victor Hugo vai pedir um milhão de dólares para conversar com o Humberto Braz”. Aquilo para mim foi um pouco assustador. Aí eu falei :”Olha, não sei o que dizer. Eu vou passar a informação, eu não sei o que vai acontecer com isso”. Um milhão de dólares para conversar é complicado. Nessa ocasião, até o delegado Queiroz me perguntou se eu conhecia o senhor Daniel Dantas. Eu disse a ele que não, que nunca tinha falado com ele, e então ele (Protógenes) me fez uma outra recomendação, ele falou “olha, você chegue lá, apresente o Humberto, apresente o senhor Humberto e vá embora”…eu fiquei meio assim…Mas eu fui ao restaurante, quando eu cheguei no restaurante eu encontrei o delegado Victor Hugo no bar, eu sentei com ele, o senhor Humberto viria do aeroporto, o trânsito estava muito ruim… o senhor Humberto chegou, sentamos ali, começamos a tomar cerveja, essa coisa toda, aí aconteceu o jantar, mas nesse momento todo mundo já sabia do um milhão de dólares…eu sabia porque o delegado Protógenes Queiroz tinha me falado. Eu já tinha a amizade do senhor Humberto Braz por telefone… Quando nós fomos para a mesa, isso aí está até bem claro nesse áudio, o delegado Victor Hugo olha para o senhor Humberto disse assim “Quanto você tem disponível?” O senhor Humberto ficou até meio desconcertado… foi até desconcertante de tanto que ele (delegado Victor Hugo) insistia… aí eu até mudei de lugar para que eles falassem mais perto, o assunto era deles, e aí o delegado Victor Hugo mostrou lá o envelope com alguns papéis dentro, que eu não sei di que se tratava, não olhei.

Chicaroni respondendo ao juiz De Sanctis se o delegado Victor Hugo estava pedindo propina, página 172:

Ele, sem dúvida. Sem dúvida, infelizmente. O amigo Queiroz me disse isso pela manhã e à noite ele perguntou para o senhor Humberto quanto ele tinha disponível, se um milhão. Isso está no vídeo. Não sei se o áudio, o áudio eles não mostraram ainda.

Respondendo ao juiz De Sanctis se o delegado iria pedir dinheiro, mesmo sabendo que estava sendo filmado com o acompanhamento da Justiça, página 173:

Ele não pediu, ele perguntou: “quanto você tem disponível?” O dr. Protógenes Queiroz disse na manhã do café da manhã que o delegado Victor Hugo Ferreira pediria um milhão de dólares para conversar com o senhor Humberto Braz…eu fiquei tão meio assim com aquilo, até de não esperar de ouvir uma coisa daquele tipo do Queiroz, ele mesmo me disse “Você sabe que eu não tenho nada com isso, você me conhece há muito tempo, você sabe que eu não ponho a mão em dinheiro”… eu acho que ele (Protógenes) estava fazendo a coisa correta, sempre confio, sempre confiei muito nele, como profissional.

Perguntado se ouviu a conversa entre o delegado Victor Hugo e Humberto Braz, página 175:

Ouvi. Não me lembro de todo o teor da conversa… ficou aquela coisa de “vamos ver quando é que você me arruma o dinheiro, eu preciso do dinheiro, eu estou fazendo um negócio, estou mudando para São Paulo, eu preciso do dinheiro”. E o senhor Humberto falou que precisava de alguns dias para pensar para ver o que podia fazer.

Orientação de Protógenes, página 178:

Na segunda-feira me ligou o delegado Victor Hugo perguntando se o dinheiro estava comigo. Eu disse “o dinheiro está na minha casa” (50 mil reais)… teve mais 80 mil que eu entreguei para o delegado Victor Hugo, ele foi em casa buscar 80 mil reais. Na garagem do meu prédio… não tem nada a ver com os 865 mil… eu não dei um passo nesse caminho todo que não tenha sido orientado pelo delegado Protógenes Queiroz.

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