Fim de uma era

Mudança na PF gera inquietação interna entre grupos

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6 de setembro de 2007, 0h00

A mudança na diretoria da Polícia Federal, com a posse de Luiz Fernando Corrêa, estaria gerando temores entre os delegados e agentes que participaram mais ativamente da era Paulo Lacerda, que assume agora a Abin. O novo Diretor-Geral chegou dando recados explícitos sobre as mudanças que devem acontecer.

Ele não poupou palavras no discurso de posse, afirmando que as operações terão menos pirotecnia. “O que vai ocorrer é a continuidade das ações de combate ao crime organizado, mas, a partir da avaliação de conjunto, tendo mais cuidado com exposição de pessoas”, disse.

Um Manual de Planejamento Operacional foi inclusive editado por Lacerda para balizar o novo comportamento a ser seguido nas operações. Os próprios agentes ainda não receberam o documento. O manual impediria a exibição de presos diante de câmeras, restringiria o uso de algemas a casos indispensáveis e criaria mecanismos para proteger a imagem de acusados em início de investigação.

Segundo reportagem de O Estado de S. Paulo, publicada no domingo (2/9), alguns delegados estariam até limpando a gaveta e levando para casa documentos secretos, papéis relacionados a operações futuras, que temem, venham a ser abortadas.

Corrêa, que estava na Secretaria de Segurança Pública, é um dos principais agentes de inteligência da corporação. Ele foi um dos responsáveis pela implantação do Guardião, sistema de interceptação telefônica e a principal ferramenta da PF nas investigações. Em maio do ano passado, por exemplo, foi a Bruxelas, na Bélgica, e a Tel Aviv, em Israel, para conhecer as instalações da Central de Inteligência da Polícia belga e israelense.

Quando assumiu a secretaria, Corrêa foi indicado pelo ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. Ele tem apoio do PT, com o qual é afinado. A saída de Lacerda é interpretada inclusive com o fim do reinado de 25 anos do senador Romeu Tuma (DEM-SP), que construiu sua carreira política com a imagem de xerifão da Polícia Federal.

Desde o governo Sarney, Tuma tem grande influência sobre a direção da PF. Paulo Lacerda, por exemplo, estava lotado no gabinete do senador antes de ser chamado por Márcio Thomaz Bastos para dirigir a corporação. Informaçõesdivulgadas na imprensa dão conta de que Corrêa pertenceria ao grupo que sempre se opôs à influência de Tuma na PF.

O grupo que segue a orientação do senador é que estaria temeroso com a mudança. Até para deixar o senador mais calmo, o presidente Lula alçou o ex-deputado e filho do senador, Romeu Tuma Júnior, para a Secretaria Nacional de Justiça.

A saída de Lacerda encerra uma era da PF marcada por grandes operações com foco na corrupção e em quadrilhas do crime organizado. Em 393 operações realizadas de janeiro de 2003 a julho de 2007, a PF levou para a cadeia 6.256 pessoas, das quais 980 eram servidores públicos e 77 policiais federais. A grande maioria, porém, não ficou na cadeia.

Corrêa decidiu trocar todo o alto comando da PF, a começar pelo titular da Diretoria de Inteligência Policial (DIP), Renato da Porciúncula, substituído pelo delegado Daniel Lorenz, superintendente da PF em Mato Grosso e responsável pela Operação Sanguessuga. O diretor-executivo, Zulmar Pimentel, segundo da hierarquia da PF, deu lugar ao delegado Romero Menezes, superintendente em Pernambuco.

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