MM responde

Ex-diretor da Abin cria site para falar de segurança

Autor

12 de março de 2007, 0h00

Delegado formado pelo FBI, a polícia federal dos Estados Unidos, Mauro Marcelo Lima e Silva, ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), resolveu quebrar o jejum de silêncio e deve levar ao ar ainda nesta segunda-feira (12/3) seu site particular que poderá ser acessado em www.mauromarcelo.com

Mauro Marcelo saiu da Abin há dois anos. Hoje trabalha no 23º Distrito Policial, em Perdizes, bairro da zona oeste de São Paulo. Sua amizade com o presidente Lula aliada à expertise em assuntos de internet e tecnologia de segurança o levaram à Abin. O delegado chegou a fazer as medidas anti-grampo telefônico na casa de Lula, em São Bernardo, quando este era candidato à presidência. E comandou a primeira delegacia de crimes informáticos criada no Brasil.

Mauro saiu da Abin quando teceu agudas críticas ao Congresso Nacional. Chamou os parlamentares de “bestas-feras”, na tentativa de defender um agente na Abin, que grampeara o funcionário dos Correios Maurício Marinho recebendo uma propina de R$ 3 mil. O agente levou o grampo à imprensa, segundo ele na tentativa de “ganhar o prêmio Esso”. Ligado ao PTB, Maurício Marinho leu o episódio como uma tentativa de o PT usar a Abin para desarticular o presidente petebista Roberto Jefferson. Que logo saiu, como um galeão holandês, atirando e afundando ao mesmo tempo. Suas denúncias derrubaram o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.

Em sua página na internet, no entanto, Mauro Marcelo manterá o acordo que firmou com a Abin quando assumiu seu comando: jamais revelar assuntos sigilosos depois de abandonar a pasta. O delegado pretende colocar no site, porém, artigos com seus comentários de assuntos referentes à Abin que ele comandou, sobretudo os que pretende tecer a respeito de “falsas interpretações” que a mídia deu à Abin durante seu mandarinato.

O delegado Mauro Marcelo pretende que seu site, antes de mais nada, funcione como referência para assuntos de segurança pública, corporativa e tecnologia digital. Nesse sentido, trará ícones para vários setores do tema segurança. Neste final de semana, Mauro Marcelo decidiu criar um ícone especial: sua defesa para ataques que a imprensa italiana vem fazendo contra a Abin que ele comandou.

Itália

Mauro Marcelo quer explicar ele mesmo o que a imprensa italiana tem repetido à exaustão. Por exemplo: na semana que passou, a Procuradoria de Milão resolveu prolongar por mais seis meses as investigações sobre a Telecom Itália.

Segundo o jornal La Repubblica, os investigadores estão interessados em identificar se a matriz italiana usou a Brasil Telecom, da qual é sócia, para fazer pagamentos a lobistas e informantes brasileiros através de uma empresa de investigações inglesa, a Business Security Agency. O dinheiro teria passado pela Suíça.

A agência pertence ao ex-detetive Mario Bernardini, que prestou serviços à Telecom Itália até 2006. Bernardini é principal testemunha do caso que investiga operações nebulosas da Telecom Itália no mundo. Sustenta que um grupo de altos executivos usou a estrutura da operadora para criar uma rede internacional de espionagem e venda de informações.

Em sua reportagem, o La Repubblica afirma que procuradores rastreiam o pagamento de “lobistas especializados em comunicação próximos a políticos brasileiros, importantes servidores públicos, mas também simples policiais”.

A reportagem do jornal italiano aponta ex-funcionários da Abin, advogados e empresários paulistas, além de detetives particulares que atuam no Brasil. Cita os nomes de Mauro Marcelo, do advogado Marcelo Elias de Toledo e do empresário Luís Roberto Demarco. O jornal diz ainda que outro testemunho que está sendo levado em conta é o do ex-chefe de Segurança para a América Latina da Telecom Itália, Angelo Janonne.

O jornal italiano cometeu um erro: como o maior e mais famoso detetive particular do Brasil leva o mesmo sobrenome do atual diretor da PF, delegado Paulo Lacerda, o La Repubblica apontou que “policiais federais” teriam recebido dinheiro da TIM. Ainda que integrantes da PF tenham se consorciado com a multinacional italiana, o detetive particular, que tem o mesmo sobrenome do delegado Lacerda não parece ter algo com a história. Ele era contratado da TIM alegadamente para investigar funcionários que a empresa italiana pretendia contratar. O delegado Mauro Marcelo vai explicar em seu site que, três meses antes de virar diretor da Abin, em agosto de 2004, fez palestra no Rio de Janeiro, sobre segurança e telecomunicações, para a TIM. Quem o convidou foi o detetive particular.

Este deve ser apenas um dos tantos pontos polêmicos que Mauro Marcelo pretende esclarecer em seu site –cujo foco principal, revela o delegado, é prestar serviços e informações sobre a área de segurança.

Autores

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!