Acidente da Gol

Familiares de vítimas de acidente da Gol criticam investigações

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5 de março de 2007, 10h22

Às vésperas de mais uma reunião na sede da Aeronáutica, prevista para quinta-feira (8/3), os familiares das vítimas do acidente do vôo 1907, da Gol, divulgam uma Carta Aberta à População Brasileira. Eles criticam as investigações sobre a tragédia e a dificuldade em obter informações das autoridades. Dizem temer que os culpados não sejam responsabilizados e julgados.

A carta também está sendo enviada aos presidentes da República, da Câmara Federal, do Senado e do Supremo Tribunal Federal.

“O presidente Lula tem tempo para receber diversas delegações de times de futebol, mas não tem lugar na agenda para atender 154 famílias enlutadas”, diz Angelita de Marchi, vice-presidente da Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Vôo 1907.

A colisão do avião Legacy com o Boeing da Gol, quando sobrevoavam a região norte de Mato Grosso, ocorreu no dia 29 de setembro de 2006. O acidente provocou a queda do Boeing causando a morte de 154 pessoas. O Legacy conseguiu pousar numa pista militar em Serra do Cachimbo, no sul do Pará, e seus sete ocupantes escaparam ilesos.

Leia a íntegra da carta

Considerando a negativa do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em receber os familiares das 154 vítimas do maior desastre aéreo brasileiro (vôo 1907, da Gol), para conhecer pessoalmente a dor e as preocupações daqueles que perderam seus entes queridos em acidente, ainda não esclarecido.

Considerando a conduta dos órgãos públicos e as dificuldades que os familiares enfrentam para ter acesso aos detalhes das investigações em curso no país e a demora na conclusão dos trabalhos da Comissão de Investigação da Aeronáutica sobre o choque entre o jato Lecacy, da ExcelAere, e o Boeing 737-800 da Gol;

Considerando o fato de que a Aeronáutica pode adiar, mais uma vez, as conclusões sobre as investigações que realiza para além de setembro, mês que marca um ano de nosso luto, decorrente da tragédia que se abateu sobre nós;

Considerando que os familiares não tiveram acesso à transcrição da caixa preta, mas apenas à divulgação pela mídia das Transcrições dos diálogos das gravações da caixa-preta do Legacy e entre as torres de controle, que deixaram transparecer a inexperiência e a imprudência dos pilotos do Legacy em operar os equipamentos e suas dificuldades de comunicação com os controladores brasileiros, além da confirmação de que os pilotos afirmam nos diálogos estarem com o TCAS (equipamento anti-colisão desligado) e terem batido em “alguma coisa”; fato que em depoimento às autoridades brasileiras negaram;

Considerando a decisão da Justiça brasileira de liberar os passaportes dos pilotos americanos, a despeito do indiciamento da Polícia Federal, e da negativa dos mesmos de voltarem ao Brasil para depor;

Nós, familiares das vítimas do vôo 1907, vimos a público manifestar nosso temor de que as investigações continuem sob um manto velado, com o intuito de atenuar evidências, esvaziar responsabilidades e, conseqüentemente, evitar a aplicação da lei aos responsáveis pela tragédia.

Continuamos reféns do silêncio das autoridades, que não esclarecem nossas dúvidas, não minimizam nossa dor e não sinalizam para a perspectiva de que será feita justiça a 154 brasileiros, que perderam a vida de forma tão dolorosa e violenta.

Com quem está o resultado da transcrição da caixa preta do Boeing da Gol? Onde estão a íntegra dos exames feitos nos pilotos americanos, ainda em Caximbo, e as perícias realizadas no Legacy? Por que foi colocado fogo no que restou do avião da Gol, eliminando dados sob investigação?

O nosso temor é que a queda do vôo 1907 também não seja investigada a fundo, nem apontados e punidos os culpados pela tragédia. Se, quem comete um ilícito, não está mais obrigado a repará-lo – por deficiência ou inoperância do Estado e da lei – isso terá, certamente, um efeito pernicioso sobre todo o tecido social, aprofundando uma chaga da qual o país padece.

O combate à impunidade pode não ser prioridade do Poder Público, mas é do povo brasileiro. Nós, os familiares das vítimas do vôo 1907, indignados, queremos respostas e queremos dizer “não” à impunidade.

Brasília, 5 de março de 2007

ASSOCIAÇÃO DE FAMILAIRES E AMIGOS DAS VÍTIMAS DO VÔO 1907.

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