Cidadania reconhecida

Itália pode investigar repressão a descendentes no Brasil

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30 de dezembro de 2007, 8h24

O Brasil é o país com o maior número de descendentes de italianos fora a Itália. Alguns deles foram mortos ou desapareceram durante o regime militar (1964-1985). Os familiares dessas pessoas podem driblar a Lei de Anistia, de 1979, e pedir à Justiça italiana a investigação dos casos, diz José Luiz Del Roio, 65, senador da Itália pela Refundação Comunista.

Del Roio foi eleito senador no ano passado e vive no país de onde vieram seus avós desde 1977. Militou na clandestinidade pela ALN (Ação Libertadora Nacional) e foi casado com Isis Dias de Oliveira, também ligada à ALN e desaparecida desde 1972. “Se ninguém na linha de descendência renunciou à cidadania italiana, ele continua sendo italiano, não tem limite”, disse Del Roio em entrevista para o repórter Leandro Beguoci, do jornal Folha de S. Paulo. “Todos os descendentes de italianos que foram mortos ou desapareceram durante as ditaduras militares podem buscar reparação na Itália”, afirma.

Segundo ele, o mandado de prisão expedido pela Justiça italiana contra 140 pessoas acusadas de envolvimento com a Operação Condor (inclusive 11 brasileiros) leva em conta tanto pessoas com dupla cidadania como também descendentes. A Condor uniu ditaduras do Cone Sul para reprimir opositores em vários países, inclusive fora da América do Sul.

O processo na Itália atingiu os brasileiros porque os ítalo-argentinos Horacio Campiglia e Lorenzo Viñas desapareceram no país em 1980, durante a Condor. No começo do ano, a Itália já havia julgado e condenou oficiais argentinos que torturaram e mataram descendentes de italianos.

Há vários ítalo-brasileiros que desapareceram durante o regime, como o guerrilheiro Carlos Marighella, líder da ALN morto em 1969, e Libero Castiglia, desaparecido durante a guerrilha do Araguaia (1972-1974).

Para Del Roio, é improvável que os brasileiros acusados de envolvimento com a Condor sejam presos. A lei italiana não permite o encarceramento de pessoas com mais de 70 anos nem há acordo com o Brasil para extraditar pessoas que nem sequer estão na cadeia por aqui.

Para o senador, o importante é a conseqüência política e o significado histórico. “O processo da Condor pode levar a uma pressão internacional pela abertura dos arquivos brasileiros”, diz ele. E emenda: “Ficará para a história que essas pessoas, embora não tenham sido presas, foram condenadas, sim”.

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