Dia do advogado

Advocacia cresce, se ramifica e cria oportunidades

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11 de agosto de 2007, 0h00

O Direito nunca esteve tão em alta como ultimamente. E tão próximo da população. Advogados brilham em grandes julgamentos e tomam as páginas dos principais jornais, juízes são pegos dando entrevistas, o Ministério Público vira e mexe aparece em uma grande operação, sem falar no boom dos concursos públicos de carreiras jurídicas.

O crescimento do interesse pelo Direito está demonstrado na quantidade de faculdades, que cresceu alarmantemente nos últimos anos. Em 2001, eram 414,5 mil cursos espalhados pelo Brasil. Em 2005, o país já tinha 861 cursos e hoje, existem quase 1,1 mil faculdades de Direito. Em 2008, a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, que completa 180 anos também neste sábado (11/8), abrirá mais 100 vagas no campus da USP em Ribeirão Preto, interior paulista.

Para quem escolhe a carreira jurídica, a advocacia ainda é a menina dos olhos. É a profissão que traz maior chance de sucesso e consequentemente de fracasso. É aquela que, pelos mesmos motivos, atrai e espanta jovens talentos. “O mercado do advogado está em grande expansão. Talvez seja um dos melhores momentos da advocacia na história do Brasil”, considera o advogado criminalista Luiz Flávio Borges D’Urso, presidente da OAB em São Paulo. Para ele, a complexidade cada vez maior da sociedade cria um ambiente propício e clama pela participação de advogados.

Mas a advocacia de hoje não é mais a mesma de anos atrás. Nesse dia 11 de agosto, o Dia do Advogado, a advocacia que todos comemoram mudou e muito.

O desembargador federal aposentado Vladimir Passos de Freitas definiu em uma frase a situação pela qual passa a advocacia: “aquele advogado de quando me formei, que entregava um cartão de visitas dizendo ‘cível, criminal e trabalhista’, é um figura do passado.” Hoje, se esse mesmo advogado passear por possíveis clientes e entregar seu cartão, a identificação provavelmente estará: especialista em societário. Ou em direito ambiental. Ou em biodireito ou em propriedade intelectual. Mas dificilmente em mais de uma especialidade.

O fato é que o Direito está se especializando cada vez mais. Nos tribunais, o fenômeno da especialização das varas já é irreversível. Na advocacia, não poderia ser diferente. O advogado hoje não pode mais tratar de tudo. Ele tem de se diferenciar em uma área para ter seu nome reconhecido e seu espaço garantido.

Diferenciar-se é justamente a chave do sucesso numa profissão tão competitiva. Mas não é fácil. O jovem tem de buscar um conhecimento amplo do Direito, na teoria (faculdade) e na prática. Ainda assim, não pode nunca deixar de lado a necessidade de seguir apenas um caminho na advocacia.

A especialização, que é um fenômeno relativamente recente, é uma exigência cada vez maior do mercado. O advogado de hoje é como o médico. O clínico geral tem cada vez menos espaço. Tem de conhecer bem todo o corpo humano, mas precisa saber detalhes e minúcias de determinada região. Sem isso, será só mais um.

Novas áreas

Jullyanno Azevedo da Cunha Nogueira, 22 anos, está no segundo ano de Direito. Ele não conhece muito o mercado de trabalho da advocacia, já que nunca trabalhou na área, mas sonha em se tornar advogado criminalista.

Ainda que jovens como Nogueira sonhem em se tornar advogados para brilhar em áreas tradicionais, como a criminal, são as novas especialidades que oferecem melhores oportunidades. Biodireito, direito ambiental, desportivo e informático são as grandes promessas no mercado da advocacia. Consumidor, ainda que não tão novo, também é um mercado fértil para os advogados de hoje.

“Esses novos ramos do Direito são um reflexo da sociedade que vivemos”, observa Fernando Castellani, coordenador de cursos preparatórios do Complexo Damásio de Jesus.

Nessas novas áreas, há espaço demais e profissionais preparados de menos. “A cada dia há um espaço a mais no mercado para os advogados. Há áreas onde a quantidade de profissionais é insignificante. Estas áreas estão escancaradas por aí à procura de profissionais qualificados”, diz D’Urso.

Tornar-se um profissional gabaritado e concorrer às melhores vagas requer um esforço árduo. Nomes como Ives Gandra Martins não nascem do acaso. Estudo, dedicação e inteligência fazem parte da fórmula do sucesso.

“Sou daqueles antiquados que não gostam da palavra mercado. Advocacia não é mercado. Mas acredito que advocacia tende a crescer, pois estamos num país cada vez mais conflituoso”, aponta o advogado Ives Gandra da Silva Martins, exemplo de sucesso para os jovens estudante.

A escolha da faculdade é o ponto de partida para o jovem se tornar um bom profissional. Há mais de mil no país, mas apenas 87 (dados de 2006) têm o aval de qualidade da OAB. Além disso, o alto índice de reprovação no Exame de Ordem, condição para o bacharel se tornar advogado, prova que a qualidade dos cursos de Direito diminui na mesma proporção que cresce a quantidade. Em média, apenas dois de dez bacharéis passam no exame da Ordem.

A OAB explica que as boas faculdades têm um índice de aprovação alto: cerca de 80%. No entanto, o péssimo desempenho dos estudantes da grande maioria de faculdades derruba o índice de aprovação para baixo. A melhoria dos cursos de Direito é uma das bandeiras da OAB — e uma das ameaças para os cursos preparatórios para o Exame de Ordem, que crescem na mesma proporção da baixa qualidade das faculdades. “São mais de 1,5 milhão de estudantes de Direito hoje. O número é absurdo se pensarmos que há, em todo o mundo excluindo o Brasil, nem 2 milhões de advogados”, considera Cezar Britto, presidente da OAB nacional.

Cursar uma boa faculdade é condição indispensável para fazer carreira na advocacia, mas não basta. “A faculdade dá um conhecimento jurídico e ensina como estudar. Mas não há advogado teórico. Tem de aprender na prática”, orienta Ives Gandra.

O estudo continuado também é fundamental para o sucesso na carreira de advogado, principalmente para quem não tem as portas abertas já no início da carreira. Ives Gandra aponta para a necessidade de estudar novas línguas. Afinal, o mundo está cada vez mais globalizado.

Os advogados mesmos sabem quão difícil é começar, principalmente para aqueles que não têm família tradicional no Direito. O fator foi um dos motivos que levou o estudante do quarto ano de Direito Rodrigo Henrique Rodrigues, 26 anos, a pensar em ser delegado federal. “Para quem não tem tradição na família, é muito difícil começar na advocacia. Isso deve ter me influenciado lá atrás. Desde então, quis ser delegado federal.”

A orientação dos profissionais é que procurem grandes escritórios e façam suas carreiras lá. Depois, com nome e especialização, é mais fácil seguir sozinho. “Não é o caminho natural começar pelas áreas novas. O jovem tem de começar nas áreas tradicionais e ir se especializando depois”, diz Fernando Castellani, do Damásio

Álvaro Villaça Azevedo, diretor do curso de Direito da Faap, acredita que está cada vez mais difícil para os escritórios pequenos sobreviverem. Ele observa que as fusões e aquisições na advocacia são cada vez mais comuns. Os escritórios que se mantêm pequenos acabam sendo massacrados. “As pessoas tendem a procurar escritórios grandes e conhecidos.”

Outra tendência forte da advocacia hoje é o crescimento do interesse pelas carreiras públicas — aí incluem-se a advocacia pública, magistratura, Ministério Público e polícia. O fascínio pelos concursos públicos é explicado pela segurança e pela garantia de bons salários que a carreira pública trás. No entanto, ela não permite alçar vôos altos como a advocacia privada.

Para Fernando Castellani, o caminho de ingresso na advocacia pública, coloca uma armadilha da qual não escapam muitos candidatos. A Emenda Constitucional 45/04 criou a exigência de experiência jurídica para ingressar na carreira pública. Assim, antes de prestar concurso público na área jurídica, o bacharel tem de comprovar experiência de pelo menos três anos na área. Para muitos o período de experiência acaba mudando a opção. Muitos gostam, têm resultados positivos e ficam por lá.

Perfume de mulher

A presença das mulheres no Direito é cada vez mais marcante. Segundo o advogado Arnoldo Wald, há 20 anos, apenas 5% dos advogados eram mulheres. Hoje, as mulheres já representam 50%. “A profissão de advogado pode se tornar feminina.”

Álvaro Villaça, diretor da Faap, também tem notado o crescimento do contingente feminino nas salas de aula. Elas querem ser advogadas para trabalhar com Direito de Família ou seguir carreira na magistratura.

“O Direito é sempre mercado em alta. Por mais que a sociedade mude, ela sempre vai ter litígios”, considera Fernando Castellani. Arnoldo Wald lembra de outras áreas em que a função do advogado é fundamental: mediação de conflitos e arbitragem. “O mercado se ampliou em todos os sentidos.” A conclusão a que se chega é que a advocacia é um campo fértil de possibilidades. É a profissão do passado, do presente e do futuro. Parabéns pelo dia dos advogados!

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