O complô de Dirceu

Dirceu insinua possibilidade de golpe e convoca o povo

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18 de outubro de 2006, 17h13

Lula não está enfrentando apenas Geraldo Alckmin na atual corrida eleitoral. Junto a ele, na oposição, estão setores do Judiciário, do Tribunal Superior Eleitoral, do TCU e a imprensa. O alerta, em tom alarmista, foi feito pelo ex-ministro José Dirceu, em seu blog. “Vamos manter a guarda alta, a vigilância, mobilizar a militância, ir para as ruas, aprofundar o debate programático e vencer as eleições dia 29” — convoca Dirceu.

O ex-ministro insinua que a candidatura petista está ameaçada — algo estranho para um quadro em que Lula desponta quase 20 pontos percentuais à frente de seu adversário. Ou seja: cogita de um possível golpe.

Diz Dirceu que “nunca um presidente e um partido enfrentaram uma frente tão ampla de oposição, que inclui não apenas PSDB, PFL e PPS, mas, infelizmente, setores do Judiciário, do TSE e do TCU, os novos burocratas da mídia, que tomaram de assalto – por decisão, anuência, concordância ou omissão dos seus proprietários – as redações dos jornais, as rádios e as TVs, e, por fim, as eternas elites privilegiadas do nosso Brasil, sejam da oligarquia política que ACM tão bem representa, sejam do mundo agrário, seja a partidária, que o PFL, agora acompanhado de Roberto Freire, espelha tão bem, seja a nova direita que FHC e os tucanos encarnam nesses dias que vivemos”.

Ao conclamar o povo para ir às ruas, Dirceu, sempre em tom revolucionário, afirma que a mobilização popular é o caminho para “garantir a implantação de um verdadeiro programa de transformação do nosso Brasil em uma nação justa e desenvolvida”.

Repercussão

A Consultor Jurídico ouviu personalidades do mundo político e jurídico a respeito das afirmações de José Dirceu. Veja o que elas disseram:

Ministro Marco Aurélio, presidente do TSE

“A conclamação para o povo sair às ruas é extravagante e despropositada. É inadmissível que se coloque em dúvida a eqüidistância de uma instituição como o Tribunal Superior Eleitoral, considerado o trabalho que ele vem desenvolvendo. Não contribui a declaração para o fortalecimento do Estado Democrático de Direito. E discrepa até mesmo do que tem sido divulgado em termos de pesquisa. Quando a posição é tão confortável, como a estampada nas últimas pesquisas, não se apela para meios extravagantes. Aí há um descompasso, para o qual eu não encontro uma razão de ser. A não ser que as pesquisas não procedam. Devemos manter a tranqüilidade e esperar que o eleitor se pronuncie no dia 29 de outubro e que o faça de forma conscientizada, que vençam aqueles que tenham votos. Que prevaleça a vontade do povo estampada nas urnas. Assim estaremos a homenagear o Estado Democrático de Direito. Não é conclamando o povo para sair às ruas. Não há espaço na nossa democracia, apesar de muito nova, para a babel.”

Senador Arthur Virgílio (PSDB-AM)

Segundo o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), esses comentários só revelam o caráter golpista e autoritário de José Dirceu. “Não me surpreende que ele não goste do TSE, afinal, ele não é um democrata. Também não me surpreende que ele não goste do TCU, uma vez que ele foi apontado como um dos 40 ladrões”. “Este Zé Dirceu, que incita as pessoas a irem às ruas para defender Lula é um Zé Dirceu pirata, tentando imitar o líder estudantil do passado.”

Senador Marco Maciel (PFL-PE)

“Acredito que estamos em plena estabilidade institucional. O debate político está em plena harmonia. A oposição é necessária para a democracia e, na minha opinião, a oposição está se comportando de forma mais contida do que o PT quando era oposição.”

Octávio Gomes, coordenador do Colégio de Presidentes de Seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil

“O José Dirceu, do mesmo modo que o candidato dele, o Lula, está fomentando a luta de classes, o que é um retrocesso. Ele não tem porque reclamar do Judiciário, que na verdade é até benevolente com o governo deles. O Zé Dirceu tinha mais era de explicar o Valerioduto, o Delubio Soares, o Silvinho Pereira, tinha mais era explicar de onde veio o dinheiro para comprar o dossiê. Ele sonha com os tempos da ditadura, quando tinha motivos para se passar por vítima. Ele tem o ranço do guerrilheiro, não sabe viver em democracia e tem saudades dos tempos em que viveu em Cuba”.

Leia o manifesto de Dirceu

Hora de avançar

Chegou a hora de avançar e garantir a vitória no segundo turno. Com a nova pesquisa Datafolha e a maior manifestação popular espontânea da eleição, ocorrida ontem no Rio de Janeiro, a campanha muda de caráter, já é uma campanha popular, já não pertence mais ao PT ou ao próprio Lula. É o povo que está nos dando, de novo, a possibilidade de mudar o Brasil, de realizar transformações sociais e políticas tão sonhadas e esperadas por todos nós e pelo povo brasileiro.

Pela ação, melhor dizendo, reação da oposição, reuniu-se de novo no Brasil a fina flor da direita conservadora, as oligarquias, as elites endinheiradas de São Paulo, setores da classe média udenista, todos numa cruzada contra a esquerda progressista e tudo aquilo que o PT e Lula representam na história recente do Brasil.

Assim, iniciou-se, agora no segundo turno, o verdadeiro debate programático que não aconteceu em 2002. Colocou-se o dedo na ferida social e econômica do país. O candidato da direita revelou sua verdadeira face autoritária e reacionária e seu programa de governo privatista e anti-social. Do nosso lado, Lula, particularmente agora no “Roda Viva”, defendeu um programa desenvolvimentista e de transformação social.

Nestas eleições de 2006, o Brasil dividiu-se realmente entre dois caminhos, e tudo indica que praticamente dois terços dos brasileiros e brasileiras ficarão com Lula e com um programa de transformações econômicas, sociais e políticas.

A maravilhosa manifestação popular do Rio é o caminho da mobilização em todo Brasil. O apoio majoritário dos eleitores de Cristovam Buarque e Heloísa Helena demonstra que o eleitorado progressista tomou posição. Deu-se conta, inclusive, do caráter antidemocrático e golpista da oposição, que insiste em transformar a CPI dos sanguessugas num tribunal de exceção, numa Corte de Justiça privada, de partidos aliados a setores da mídia. Deu-se conta, também, de que a oposição quer judicializar não só a eleição, mas a vida política institucional do país.

Nunca um presidente e um partido enfrentaram uma frente tão ampla de oposição, que inclui não apenas PSDB, PFL e PPS, mas, infelizmente, setores do Judiciário, do TSE e do TCU, os novos burocratas da mídia, que tomaram de assalto – por decisão, anuência, concordância ou omissão dos seus proprietários – as redações dos jornais, as rádios e as TVs, e, por fim, as eternas elites privilegiadas do nosso Brasil, sejam da oligarquia política que ACM tão bem representa, sejam do mundo agrário, seja a partidária, que o PFL, agora acompanhado de Roberto Freire, espelha tão bem, seja a nova direita que FHC e os tucanos encarnam nesses dias que vivemos.

Vamos manter a guarda alta, a vigilância, mobilizar a militância, ir para as ruas, aprofundar o debate programático e vencer as eleições dia 29.

E não vamos parar. Até a posse de Lula, e no primeiro ano de governo, vamos travar a grande batalha de garantir a governabilidade, que dependerá, não nos iludamos, de novo da participação popular, da unidade no PT e da formação de uma ampla coalizão partidária, social e popular para garantir a implantação de um verdadeiro programa de transformação do nosso Brasil em uma nação justa e desenvolvida.

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