Volta à ordem

Acabam rebeliões em presídios e diminui violência nas ruas

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16 de maio de 2006, 11h53

Depois de três dias de tumultos e atos de violência generalizados, São Paulo desperta quase tranqüila nesta terça-feira (16/5). Não há mais rebelião em nenhum presídio do estado e os ataques contra pessoas e imóveis diminuíram consideravelmente desde a noite de segunda-feira (15/5).

O confronto mais grave entre supostos criminosos e a polícia ocorreu em Osasco, na grande São Paulo, quando bandidos dispararam contra o quartel de um batalhão da Policia Militar e também contra o Fórum. Quatro suspeitos morreram e um está internado. Também foram presos vários homens armados em diferentes pontos da Grande São Paulo, inclusive um rapaz que preparava coquetéis molotovs.

Companhia de Engenharia de Tráfego estendeu à terça-feira a suspensão do rodízio de veículos. Os ônibus voltaram a circular, enquanto o metrô e os trens continuam operando normalmente. Apesar disso, o trânsito na cidade apresenta um movimento muito abaixo do normal. Alguns estabelecimentos que tradicionalmente operam 24 horas, como postos de gasolina, supermercados e outros voltaram a abrir.

Segundo a Agência Estado, o balanço de três dias de violência no estado registra mais de 180 ataques, 96 mortes, 55 feridos e mais de 60 ônibus queimados. Rebeliões atingiram mais de 70 unidades mas nenhum preso fugiu.

Negociação

Informações publicadas pela imprensa nesta terça-feira dão conta de uma suposto negociação entre o governo e a facção criminosa PCC — Primeiro Comando da Capital que teria resultado no fim das rebeliões nos presídios e a suspensão dos atentados a quartéis, delegacias policiais, fóruns, agências bancárias e estações do metrô.

A trégua teria sido ordenada após uma longa conversa entre o líder da facção, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, uma advogada além de um coronel da PM, um delegado e um corregedor que representaram o governo do estado. A Secretaria da Administração Penitenciária nega o acordo, mas outras fontes do governo não reveladas confirmaram as informações.

A ordem para o fim dos atentados teria sido transmitida a partir da manhã de segunda-feira, através de telefone celular, menos de 12 horas depois do encontro nas dependências do Centro de Readaptação Penitenciária de Presidente Bernardes, onde Marcola está detido desde o fim da tarde de sábado (13/5).

Segundo reportagem de Rita Magalhães e Marcelo Godoy, publicada no jornal O Estado de S. Paulo, a determinação para o fim dos motins foi enviada na mesma noite por meio de um “salve geral” com o seguinte conteúdo: “Deixamos todos cientes que as faculdades (presídios) que se encontram em nossas mãos estarão se normalizando a partir das 9 horas de amanhã, desde que nossos irmãos (líderes) já se encontrem em banho de sol em Venceslau.”

Apesar de os líderes do PCC transferidos para a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau permanecerem trancados nas celas, sem banho de sol, os rebelados teriam obedecido a determinação pondo fim à maior rebelião simultânea do país, com a adesão de detentos de 73 presídios no estado.

Policiais civis que investigam os crimes acreditam que os ataques vão diminuir à medida que os “soldados”, denominação dada aos membros menor hierarquia dentro da organização criminosa, forem notificados da nova ordem.

De acordo com um integrante da secretaria, que pediu que seu nome não fosse divulgado, a conversa com Marcola ocorreu a pedido de uma advogada. “Os policiais apenas a acompanharam para saber o que era conversado. Ela não podia falar com ele sozinho”, alegou.

Funcionários da região se revoltaram ao saber da notícia do acerto. “Mais uma vez estão negociando com o Marcola. É por isso que o estado perdeu o controle da situação. Se o governo ceder desta vez, é melhor entregar a chave do estado para ele”, avaliaram os servidores indignados.

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