Síndrome do pânico

Onda de boatos aumenta sensação de insegurança em São Paulo

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15 de maio de 2006, 17h22

Um onda de boatos, com intensidade similar à da onda de atentados a instalações e a pessoas do sistema de segurança pública atribuídos à facção criminosa Primeiro Comando da Capital, varreu a cidade de São Paulo, nesta segunda-feira (15/5), provocando apreensão e transtornos na vida da população. Nada mais do que boatos mas que, escorados nas emoções suscitadas por alguns fatos reais, acabaram ganhando ares de verdade.

Desde a noite de sexta-feira (12/5), atentados supostamente praticados por membros do PCC resultaram na morte de 81 pessoas, a maioria de policiais. Ao mesmo tempo, presos se rebelavam em quase uma centena de presídios de São Paulo e de estados vizinhos. Na esteira destes fatos, nem todos claramente relacionados com o suposto plano de crimes seriados do PCC, boatos começaram a surgir.

O mais grave deles dizia que havia sido decretado toque de recolher a partir das 20 horas. As autoridades negaram a ordem de voltar mais cedo para casa, mas o boato continuou. Passou a correr por conta do próprio PCC. Um rapaz foi preso em flagrante na Zona Oeste da cidade, quando mandava um bar fechas as portas em nome dos bandidos.

Atitudes oportunistas descambando para atos de vandalismo que se repetiram. Desocupados e inconformados de diferentes matizes aproveitaram a ocasião para tirar sua casquinha. Um homem foi preso quando apedrejava uma agência bancária.

Por via das dúvidas, comerciantes resolveram fechar as portas antes da hora. E a idéia de que havia um toque de recolher em curso ganhou força.

Nas primeiras horas do dia, empresários do setor de transporte urbano resolveram retirar os ônibus do serviço. Os coletivos de seis das sete empresas que atendem à Zona Sul deixaram de circular. O precedente que justificou a medida foram os cerca de 50 ônibus queimados nos tumultos. Com isso, 4.100 ônibus ficaram na garagem e a população ficou a pé. O rodízio de carros foi suspenso e os congestionamentos multiplicaram-se pela cidade, aumentando a insatisfação das pessoas e o clima de insegurança.

No correr do dia a notícia mais repetida foi a de bomba explodindo. Eram apenas boatos, mas teve bomba em supermercado, em faculdades, em estação do metrô e no aeroporto. A do metrô era um tiro. A do aeroporto de Congonhas provocou o fechamento do saguão de embarque de passageiros. Mas os vôos continuaram decolando e pousando normalmente.

O Tribunal de Justiça de São Paulo suspendeu os prazos processuais e decretou o encerramento antecipado da jornada de trabalho. Outras repartições públicas também decidiram antecipar o fim do expediente, da mesma forma que empresas privadas.

Com o comércio fechado e o expediente encerrado, as ruas se entupiram de carros mas ninguém conseguia andar. Um super congestionamento parou o trânsito nas avenidas do campus da Universidade de São Paulo, que decidiu encerrar suas atividades às 15 horas.

Mais combustível para o caos civil que não existiu foi jogado na internet. Emails alertavam as pessoas para o toque de recolher. Um deles dizia em letras maiúsculas e enormes:

“ISSO É URGENTE!! > >HOJE ÀS 18HS HAVERÁ UM ATAQUE DE VIOLENCIA NA CIDADE…. POR FAVOR, ESTEJAM >EM SUA CASA ÀS 18HS!!! > > AS 18 HS, VAI TER UMA AÇÃO DE VIOLÊNCIA NA CIDADE, A DIRETORIA DE UMA > GRANDE EMPRESA RECEBEU UMA CARTA DA POLÍCIA ÀS 10H DE HOJE AVISANDO A > RESPEITO DISSO…. > >”.

Um outro advertia em tom mais pessoal, quase íntimo: “uma funcionária do escritório de contabilidade da minha mãe, que está há 35 anos trabalhando lá, tem um sobrinho que está preso e é do PCC. Ele acabou de ligar, de dentro da cadeia óbvio, pra avisá-la pra não freqüentar lugares de muito movimento como shoppings, supermercados etc … não se sabe o que farão, mas deve ser coisa grande. Quando soube disso, resolvi dar um toque em quem conheço pra não termos maiores problemas. Não custa se prevenir”.

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