Reflexos da crise

Em meio à crise, Polícia Federal pressiona Ministro da Justiça

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11 de abril de 2006, 13h47

A Federação Nacional dos Agentes da Polícia Federal e a Federação Nacional dos Delegados da Polícia Federal, as duas maiores associações de servidores da corporação, acompanham com interesse a crise no Ministério da Justiça. Ninguém admite oficialmente que estaria condicionando um eventual apoio ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, às tratativas de novas negociações salariais. Mas nos bastidores tanto agentes como delegados mandam recados explícitos para Thomaz Bastos nos quais oferecem apoio ostensivo apenas se o governo cumprir algo que vem jogando para debaixo do tapete há pelo menos dois anos: o reajuste dos salários na PF.

A Federação Nacional dos Policiais Federais chegou a fazer greve de 60 dias bem no início do governo Lula, mas no ano passado condecorou Thomaz Bastos com medalha. A Federação dos Delegados da PF fez greve de um dia, no final do ano passado, prometeu retormar a greve em fevereiro e agora ensaia um manifesto de apoio ao ministro da Justiça.

Com um título retomando o personagem de Chico Anysio, que defendia o aumento do salário dos professores, a Fenapef botou em sua página esta semana um anúncio encomiástico constante do Boletim Informes da Liderança do PT na Câmara dos Deputados, em que se louva as ações do goveno Lula. Segundo o informe, “entre os anos de 2000 a 2005, as ações da Polícia Federal no combate ao crime cresceram 815%. Durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Polícia Federal realizou 183 operações e 2961 prisões — uma média de 987 presos por ano. Já nos dois últimos anos do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, foram realizadas apenas 20 operações, com a prisão de 54 pessoas, ou seja, uma média de 27 capturas por ano. O balanço foi divulgado pelo Ministério da Justiça.”

Sobre essas informações, os agentes escreveram, retomando Chico Anysio “E o salário, ó”.

O informe traz avaliação do deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), para quem “diferentemente de outros governos, onde a ação da Polícia Federal era direcionada com objetivos de natureza política, no governo Lula as investigações são feitas com transparência, de maneira absolutamente isenta”.

O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) diz no boletim que o governo Lula estabeleceu mais autonomia para a Polícia Federal. “Nunca a Polícia Federal teve tanta independência e condições para trabalhar como agora no governo Lula. Quadrilhas que atuavam há décadas foram desbaratadas”, disse. Para ele “qualquer pessoa que analise de maneira isenta, percebe que nunca se combateu tanto a corrupção como no governo Lula”.

Prossegue o boletim que “os dados das ações da Polícia Federal revelam que o governo Lula investiu no fortalecimento da instituição. O efetivo saltou de 9.289 pessoas, em 2002, para 11.749, em 2005 — um aumento de 26,5%. O objetivo do governo federal é de que, até 2007, 15 mil homens e mulheres estejam engajados no combate à criminalidade — um acréscimo de 61,5% em relação ao número de policiais existentes no início da atual gestão.”

Os dados do Ministério da Justiça referem que nos últimos três anos, a Polícia Federal realizou 67 operações especiais de combate à corrupção. Foram presas 1,3 mil pessoas, dentre as quais 515 servidores públicos federais, estaduais e municipais e 130 policiais federais e rodoviários federais, acusados de crimes que vão do superfaturamento na compra de derivados de sangue à adulteração de leite em pó.

Diz o relatório que “em apenas 12 operações (Farol da Colina, Perseu, Vampiro, Ajuste Fiscal, Big Brother, Praga do Egito, Cavalo de Tróia, Pororoca, Mamoré II, Mascates, Matusalém e Curupira), a Polícia Federal identificou fraudes no valor de R$ 67,8 bilhões. A instituição conseguiu identificar ainda ligações entre a quadrilha acusada de fraudar por 12 anos as licitações no Ministério da Saúde e o suposto esquema de compras superfaturadas nos Correios”.

Ainda segundo o levantamento, “Houve um aumento de 1.421% nos inquéritos abertos para investigar lavagem de dinheiro e de 1.955% nas ações penais. Na operação Farol da Colina, realizada em agosto de 2004, os investigadores descobriram fraudes em evasões de divisas ocorridas desde 1997, em valores próximos a US$ 24 bilhões. Foram abertos 3,5 mil inquéritos contra pessoas e empresas, suspeitas pelo envio ilegal de cerca de US$ 1 bilhão ao exterior, entre 1999 e 2002. No combate ao tráfico de drogas, foram feitas 56 operações especiais, que resultaram em 320 toneladas de drogas apreendidas e prisão de 750 pessoas. Somente em 2005, a Polícia Federal abriu 1.712 inquéritos para apurar esse tipo de crime”.

Metido numa crise sem precedentes, precisando de pares na PF, e somando tais tentos anunciados em tom de festa, Marcio Thomaz Bastos vai ter que sentar logo logo com os federais para acertar as promessas que fez mas condenou ao opróbrio.

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