Nova pista

MP abre linha de investigação no caso Toninho do PT

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11 de novembro de 2005, 17h18

O Ministério Público de São Paulo passou a buscar uma nova pista no assassinato do então prefeito de Campinas, Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT. Ele foi morto em setembro de 2001 quando dirigia seu carro, perto de um shopping da cidade. Na última terça-feira (8/11), Roseana Morais Garcia, a viúva de Toninho, sustentou, em depoimento prestado na CPI dos Bingos, que o marido, quando estava à frente da prefeitura de Campinas “contrariou pelo menos 11 setores com negócios no município”.

Agora o MP procura saber se é verdade ou não que dois empresários do setor de jogos teriam ameaçado de morte Toninho do PT por ele supostamente ter vetado as casas de jogos na cidade de Campinas. A ameaça teria sido ouvida por um garçom que confirmou a parlamentares a informação.

Os nomes desses dois empresários aparecem em conexões surgidas nas investigações que o MP promove a partir dos depoimentos prestados por Rogério Buratti, dentro de uma negociação para delação premiada. A revista IstoÉ Dinheiro, na edição deste final de semana, estabelece os laços de uma suposta conexão angolana revelada por Buratti. Buratti contou que quando era executivo da Leão Leão, concessionária de coleta de lixo de Ribeirão Preto na épcoa em que o ministro Antonio Palocci foi prefeito da cidade, viajou a Angola com o propósito de vender os serviços da empresa. Não deu certo.

Segundo a revista, Buratti se estendeu também em revelar as atividades dos portugueses “Caio” e “Vadinho”. Além de fabricar máquinas caça-níqueis no Brasil, seriam donos de mina de diamantes em Angola, teriam negócios no México e nos Estados Unidos e manteriam residência em Miami. Chegados ao Brasil há mais de 20 anos, a dupla possui luxos como jato executivo, iate e mansão em Angra dos Reis e companhia constante de belas mulheres. Segundo a revista “Caio e Vadim entraram no ramo dos jogos montando a primeira indústria de máquinas caça níqueis do País, a Fabama. A pedido da CPI dos Bingos, desde a terça-feira 8 a Polícia Federal procura os dois portugueses. No dia 12 de outubro, o senador Aelton Freitas (PL-MG) apresentou requerimento para que eles sejam ouvidos pela CPI”.

A reportagem da IstoÉ segue com as revelações do ex-secretário de Buratti. Segundo a revista “em suas conversas ao telefone, grampeadas com autorização judicial, Buratti falava muito de negócios no governo com um certo Rodrigo. O promotor Aroldo quis saber de quem se tratava. Burati então revelou que era Rodrigo Cavallieri, dono da MC Consulting, com sede em Belo Horizonte. Eles se conheceram quando Rodrigo prestou consultoria para a Leão Leão, em julho de 2003, quando Buratti era diretor — e acabaram amigos. Ano passado começaram a trabalhar juntos para “acelerar” a liberação dos empréstimos, segundo o verbo usado por Burati.

Segundo a revista, “a MC fechou contratos com os Estados de Sergipe, Ceará e Distrito Federal. Também fechou com as prefeituras de Belo Horizonte, Recife, Joinville e Betim. Burati tentou convencer o promotor de que ele e Rodrigo não teriam praticado qualquer irregularidade, mas apenas feito lobby legal.

IstoÉ Dinheiro revela que “Burati apontou dois casos que deveriam ser investigados. Um diz respeito a um empréstimo de US$ 140 milhões para a prefeitura de Manaus. “Esse é do José Dirceu”, disse Burati. Outro é um empréstimo de R$… para Goiânia. “Esse é do Palocci”, disse. No governo Lula, a Cofiex já aprovou o aval federal para 169 empréstimos externos. Por coincidência, somente dois foram aprovados sem passar pelo exame (e voto) dos 10 conselheiros da Cofiex: Manaus e Goiânia”.

A publicação revela que Burati também disse ao promotor quem seria um outro amigo, o Bill, que aparece muito nos grampos telefônicos. “Trata-se do executivo Jorge Iazigi, que foi diretor da Leão Leão, e que na reta final da campanha presidencial de 2002 passou a ocupar o cargo de vice-presidente de Relações com o Mercado da Visanet. Nesse posto, Bill era também responsável pelo marketing e pela publicidade da empresa. Foi para ele que o Banco do Brasil, em fevereiro de 2003, passou a ordem de adiantar R$ 35 milhões para a agência de Marcos Valério — a CPI dos Correios já provou que R$ 10 milhões desse total foram repassados para o PT. Burati contou também que em meados de 2004 Bill saiu da Visanet e começou a trabalhar com Rodrigo Cavalieri. Numa das gravações em poder do Ministério Público, Burati propõe a Rodrigo que os dois dividissem um escritório com Bill – uma sala para cada um. “Era só brincadeira”, defende-se Rodrigo. “O Bill estava desempregado e lhe arrumei uma consultoria”. Burati revelou também que Bill fazia parte do grupo de Palocci em Ribeirão Preto. A CPI dos Bingos tem em seus arquivos a agenda eletrônica da secretária pessoal que Palocci dividia com seu antigo chefe de gabinete na Fazenda, Juscelino Dourado. DINHEIRO teve acesso a essa agenda. Jorge Iazigi foi indexado três vezes. Como “Bill”. Como “Jorge Iazigi (Bill), da Leão Leão”. E como “Jorge Iazigi, da Visa”. “Teremos que quebrar os sigilos telefônico, fiscal e bancário de Cavalieri e de Iazigi”, diz o senador Efraim Morais, presidente da CPI”.

A publicação revela também que o promotor perguntou também a Burati quem seria Carlos Eduardo Valente, outro personagem que aparece muito nos grampos telefônicos, principalmente nas conversas com Ralph Barquete e Vladimir Poleto. “Valente tem uma empresa de factoring que opera no Rio de Janeiro. Foi ele quem organizou a DTVM, corretora do Banco do Brasil. Segundo Burati, Valente está ligado às relações do grupo de Palocci com o Banco Prosper, instituição com sede no Rio que se especializou em operar com a Petrobrás e com as petroquímicas. Burati contou que o Prosper fez um empréstimo para a Ribeirão Preto quando Palocci era prefeito. A partir de então, Valente teria ficado muito próximo a Ralph, Poleto e Juscelino Dourado. Procurado por DINHEIRO, um membro da família Peixoto de Castro, que controla o Prosper informou que no início deste ano Valente teria levado uma proposta de compra, por R$ 20 milhões, de 33% das ações do Prosper. Mas o patriarca Antônio Peixoto de Castro, dono da Refinaria de Manguinhos, não aceitou”.

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