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Bancas profissionalizam gestão com eleição de dirigentes

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8 de maio de 2005, 10h00

Para dar conta da demanda por serviços jurídicos e oferecer aos clientes o mais amplo leque de possibilidades na solução de controvérsias, os grandes escritórios de advocacia crescem num ritmo frenético. O crescimento reforça o staff, mas traz em seu bojo dois problemas: como instaurar uma administração profissional sem perder de vista a relação pessoal entre advogado e cliente e como administrar dezenas de sócios com visões nem sempre convergentes sobre as diretrizes da banca?

Com democracia. Essa foi a solução encontrada por oito das maiores bancas de advocacia do Brasil. Escritórios com, em alguns casos, mais de 300 profissionais e dezenas de sócios perceberam que para conferir legitimidade ao grupo de vai decidir os rumos da banca, a eleição — aliada à profissionalização da administração — se tornou fundamental.

No Tozzini, Freire, Teixeira e Silva, por exemplo, a escolha eletiva ocorre há pelo menos cinco anos. O comitê executivo tem seis membros: três permanentes e três eleitos pelos sócios 52 sócios da banca. No Demarest & Almeida, que têm quase 80 sócios, o conselho também é formado por seis integrantes e pelo diretor-geral, função atualmente ocupada por Rogério Lessa, cargo para o qual foi reeleito para um mandato de dois anos.

O grupo executivo no Pinheiro Neto está completando seu primeiro ano de um mandato de seis anos e é formado pelo próprio Pinheiro Neto – membro vitalício – e por três sócios eleitos dentre os mais de 60 do escritório. A experiência do voto também deu certo no Machado, Meyer, Sendacz e Opice (32 sócios), cujo conselho é composto por nove sócios, dentre os quais seis são eleitos por voto secreto para um mandato de um ano, admitida a reeleição. O escritório escolhe seu conselho executivo há quatro anos.

Bons resultados

Os resultados da medida são considerados positivos. “A fórmula se mostrou muito adequada, pois com o crescimento da sociedade a instalação de um conselho executivo tornou as decisões mais rápidas e eficientes”, diz Carlos José Santos da Silva, diretor de comunicação do MMSO. A assembléia de sócios representa o órgão máximo da estrutura do MMSO. As atribuições da assembléia são aprovar alterações estatutárias, o plano anual de negócios e a abertura de filiais e parcerias, e a admissão de novos sócios, entre outras.

No Barbosa, Müssnich & Aragão, o sócio-diretor também é eleito pelos sócios do escritório. Ele é responsável por tocar as questões estratégicas de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo conselho de sócios. O escritório Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey e Quiroga também elege seu conselho executivo, formado por sete sócios – cinco efetivos e dois suplentes.

O Veirano Advogados decidiu combinar dois fatores. Tem um conselho de administração formado por sócios eleitos – que indicam aqueles que desempenham funções administrativas em cada uma das cidades em que opera – e um conselho consultivo, formado por executivos (não-advogados), que auxilia na elaboração dos planos estratégicos de longo prazo. “É uma estrutura mista, formada por diversos sócios com qualidades de administrador e por administradores profissionais. Aos primeiros compete a gestão da prática e da definição estratégica do escritório, cabendo aos demais a condução administrativa do escritório”, conta o advogado Robson Barreto.

Administração legal

Com as eleições, o papel do administrador ganha um reforço necessário para o bom gerenciamento do escritório e dá espaço para que o advogado cuide daquilo que mais lhe dá prazer: o relacionamento com o cliente.

“A liberação dos sócios das responsabilidades inerentes à gestão propiciou uma maior interação com os clientes, ponto já tradicionalmente forte no Leite, Tosto e Barros”, atesta Rogério Góes, CEO do escritório. A composição do conselho, que elege o CEO, é fixa. Góes foi eleito para um mandato de um ano, com direito à recondução ao cargo.

Para Rogério Lessa, do Demarest, a função de diretor-geral num escritório de advocacia é bem diferente da de um administrador de empresas. “Nas empresas os acionistas delegam as funções e cobram resultados no final do ano. Num escritório, os sócios estão 12 horas por dia nos corredores querendo (com ótimas intenções, sempre) dar as suas contribuições e cobrando cotidianamente os mais diferentes tipos de resultados dos administradores”, afirma.

Em todos os escritórios, o sócio que cuida de efetivar as diretrizes estabelecidas pelo conselho ou é advogado ou tem familiaridade com a área jurídica. É o caso de Rogério Góes. Administrador de empresas profissional, ele é bacharel em Direito e participa de um grupo no Conselho Regional de Administração paulista que estuda a administração legal.

A idéia do grupo é formar uma grade curricular de administração de escritórios de advocacia. Góes conta que o caminho da administração legal deve ser o mesmo da administração hospitalar. “Há cerca de 20 anos foram criadas as primeiras disciplinas sobre o tema. Até então, quem cuidava do hospital era o médico, depois a administração passou a ser profissional. A advocacia trilha os mesmos caminhos”, afirma.

*Reportagem publicada na revista Update, da Câmara Americana de Comércio de São Paulo.

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