O japonês e o caipira

Grampo indica que Gushiken e Dirceu preferem Schin

Autor

17 de junho de 2005, 20h46

Enquanto a Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro investigava a sonegação, “em escala industrial”, praticada pela cervejaria Schincariol, ministros do governo Lula acompanhavam uma operação em sentido contrário: uma tentativa de proteger a imagem da cervejaria, fabricando notícias favoráveis.

Essa noção, que parece beirar as raias do absurdo, emerge de trecho da degravação de interceptação telefônica feita pela Polícia Federal, que capturou diálogos entre o empresário Adriano Schincariol e o publicitário Luiz Lara, da Lew Lara Propaganda.

As três páginas da degravação mostram o publicitário, que tem diversos contratos com o governo petista, conversando com o empresário sobre reportagens favoráveis à empresa que estariam sendo obtidas em emissoras de TV e revistas. Trechos foram reproduzidos nesta sexta-feira pelo jornal Valor.

As possíveis negociatas entre empresas, contudo, impressionam menos que o possível envolvimento de integrantes do alto escalão do governo. Esse envolvimento, por sua vez, chama a atenção por si só, mas também pelo seu vazamento.

Afinal, se a Polícia Federal, no todo ou em parte, atende ao comando do governo, mas se permite vazar imputações comprometedoras a seus chefes tem-se de dois fatos um: ou a PF é efetivamente independente e o Brasil chegou ao primeiro mundo nesse aspecto; ou, o provável, que há mesmo uma ala oposicionista na força policial.

A segunda alternativa tem a respaldá-la a prisão do publicitário Duda Mendonça em rinha de galo, contra a vontade do Planalto. Não por coincidência, também no Rio de Janeiro. O mesmo estado em que é secretário da Segurança Marcelo Itagiba, acusado, durante a campanha eleitoral da disputa presidencial, de, como superintendente da PF no Rio, grampear ligações petistas em favor da campanha tucana.

A assessoria de imprensa do Palácio do Planalto foi procurada para comentar os comentários gravados mas não se manifestou a respeito.

No trecho que se segue, o publicitário Luiz Lara (LA) informa ao empresário Adriano Schincariol (A) que levou a Brasília gravações de reportagens de TV supostamente favoráveis à cervejaria. O teor da conversa, aliás, aponta para um esforço em mostrar que a empresa nada deve ao fisco. Lara, que cuida da publicidade de alguns produtos da Schincariol e da propaganda do governo, em entrevista ao Valor, reconheceu que os diálogos realmente foram travados, mas que fez “mau uso da palavra” e pediu desculpas à Editora Três e “demais veículos de imprensa” que, pelos diálogos, pode-se supor que participaram de barganhas.

Acompanhe o trecho do grampo que se refere a Gushiken e José Dirceu:

LA – olha eu recebi a fita com as quatro matérias e ontem eu estive lá naquela cidade (Brasília) e mostrei para duas pessoas uma o Japonês (LUIZ GUSHIKEN) e aí entrou o caipira que hoje está na casa civil (JOSÉ DIRCEU) não o barbudo (presidente LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA) e ele viu também.

A – o que é que falaram?

LA – acharam ótimo, acharam ótimo, aí eu mostrei de novo a ÉPOCA (revista) que eles não tinham visto, então foi feito o trabalho, aí eu estava dizendo aqui para o Luis, numa guerra dessa, … agora eles vão responder com este efeito pipoca, tentando desqualificar FENADIB (FONÉTICO) conforme o EDILSON te falou, FENADIB e SECRETARIA DA RECEITA EM CADA ESTADO, precisa ter um jornal como este na mão para poder responder, porque tudo bem dá cinco, sete, três de audiência não é uma globo, mas lhe dá credibilidade para você brigar…

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!