Origem do mensalão

Mensalão vinha de estatais e empresas, diz Jefferson

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11 de junho de 2005, 22h51

O dinheiro usado pelo PT para pagar uma mesada de R$ 30 mil para deputados da base aliada do governo vinha de estatais e empresas privadas. A afirmação é do deputado federal e presidente do PTB Roberto Jefferson – pivô da maior crise do governo Lula – em nova entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, na edição deste domingo (12/6).

Segundo o deputado, o dinheiro chegava à Brasília em malas e era distribuído, sob o comando do tesoureiro do partido Delúbio Soares, por dois “operadores”: o publicitário Marcos Valério e o líder do PP na Câmara dos Deputados, José Janene (PR). Ao contrário do que se especulou durante a semana, Roberto Jefferson afirmou que não tem fitas gravadas para provar suas acusações: “tenho a palavra e a vivência desta relação de dois anos e meio com o governo do PT”.

O presidente do PTB afirmou também que os ministros foram covardes com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, muitos sabiam do esquema e nunca alertaram Lula. “O ministro Palocci (Fazenda) sabia do mensalão porque eu falei para ele. O ministro Walfrido (Turismo) errou por não ter dito ao presidente sobre o mensalão, porque eu falei com ele. O ministro Ciro (Integração) sabia. O Zé Dirceu. Conversei com ele várias vezes sobre o mensalão”, afirmou o deputado.

A cúpula petista esteve reunida durante toda à tarde. O presidente do partido, José Genoino, classificou de “contraditória, descontrolada, raivosa e cheia de ódio” a nova entrevista de Jefferson.

Para Genoíno, o deputado “está procurando se defender acusando todo mundo de maneira desequilibrada. O PT repudia esse tipo de fantasia. Não aceita que o acusado vire acusador”, disse, numa referência às denúncias de corrupção nos Correios e no IRB – Instituto de Resseguros do Brasil, em que dirigentes indicados pelo PTB estão no centro das irregularidades.

Campanha financiada

Roberto Jefferson reafirmou que o PTB não recebia o mensalão, mas contou que prometeu apoio ao PT em troca do financiamento de campanhas municipais de 2004. Segundo ele, o partido apresentou uma planilha de campanhas de petebistas que custariam R$ 20 milhões.

A planilha teria sido aprovada por José Genoíno, Delúbio Soares e pelo secretário de Comunicação do PT, Marcelo Sereno. “O repasse do dinheiro se daria em cinco etapas. O primeiro recurso chegou na primeira quinzena de julho: R$ 4 milhões em dinheiro, em espécie”, disse Jefferson à Folha.

Genoíno negou o financiamento. “O que tivemos foram acordos de trabalho em comum nas cidades em que fizemos alianças. Isso envolvia apenas material de campanha, propaganda na TV e shows”.

Em nota oficial assinada pelo presidente nacional do PT, o partido afirma que “adotará todas as medidas legais para que o senhor Roberto Jefferson responda perante a lei por suas falsas acusações e pelos seus irresponsáveis atos”.

Veja a nota oficial divulgada pelo PT

A edição da Folha de S.Paulo de domingo (12/06/05) traz nova entrevista com o senhor deputado Roberto Jefferson, na qual ele volta a reiterar acusações contra o PT e seus dirigentes. Sobre as referidas acusações, o PT, em respeito à opinião púbica e à sociedade, tem a esclarecer o seguinte:

1 – O deputado Roberto Jefferson repete as mesmas acusações falsas contra o PT, inventa situações e supostos detalhes e, como sempre, não apresenta provas – confessando, inclusive, não as ter. Roberto Jefferson que r transformar uma mentira em verdade. De nossa parte, reafirmamos que o PT não tem nada a ver com o pagamento de mensalidades para deputados e com qualquer outro comportamento ilegal ou ilícito. Queremos que todas as acusações sejam investigadas e o PT e seus dirigentes se colocam à disposição de qualquer órgão de investigação para que as acusações sejam esclarecidas.

2 – O PT adotará todas as medidas legais para que o senhor Roberto Jefferson responda perante a lei por suas falsas acusações e pelos seus irresponsáveis atos. Esclarecemos que mantemos a mesma relação respeitosa com o conjunto do PTB, bem como com todos os demais partidos.

3 – Nossa história vinculada às lutas sociais, à ética e à justiça social fez do PT um sólido instrumento de combate à corrupção. Não serão acusações falsas – emitidas por alguém que se encontra em situação de desespero por ter que responder perante a sociedade e à Justiça pela sua conduta pública inadequada – que mancharão uma história de 25 anos de luta e compromisso com a moralização da vida pública.

4 – O PT manifesta a convicção de que o Congresso, a Justiça e demais órgãos públi cos de investigação saberão fazer um trabalho eficaz para estabelecer a verdade dos fatos. Neste momento, o que existe são provas documentais contra o deputado Roberto Jefferson e acusações sem provas desse mesmo deputado contra o PT, partidos da base aliada e contra o governo Lula. O deputado Roberto Jefferson quer passar a ser o acusador para tentar esconder sua condição de acusado.

5 – O PT agirá com a firmeza e a segurança de quem é depositário da confiança de grande parte da sociedade e conclama seus filiados, militantes e simpatizantes a defenderem o patrimônio histórico do partido e os valores éticos construídos ao longo destes 25 anos.

José Genoino – Presidente Nacional do PT

São Paulo, 11 de junho de 2005.

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