O nome da crise

Mensalão: empréstimos ao PT podem ter sido simulações.

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14 de julho de 2005, 23h30

A proposta do publicitário Marcos Valério de Souza de revelar o que sabe ao Ministério Público em troca de benefícios judiciais é um péssimo agouro para o governo. O publicitário pode vir a confirmar, por exemplo, se faz sentido uma suspeita fulminante dos investigadores do caso: a de que os retumbantes empréstimos bancários feitos em favor do Partido dos Trabalhadores foram apenas simulados. Ou seja, serviram apenas como meio de “esquentar” dinheiro.

Essa hipótese está calcada na tese de que os generosos viabilizadores do projeto político petista fizeram suas doações pelo caixa dois, com a condição de serem mantidos no anonimato. Assim, os empréstimos teriam sido apenas manobras contábeis. Em contrapartida, os fundos de pensão comandados pelo governo irrigariam, como de fato irrigaram, os cofres desses bancos com generosos depósitos ou investimentos.

Nessa encruzilhada está escrito o nome do petista encarregado de zelar pela imagem do governo, pelas licitações oficiais de publicidade, pelo relacionamento com as agências e pelo comando dos fundos de pensão: o secretário de Comunicação do governo, Luiz Gushiken.

Zelador de um patrimônio em concordata — a reputação do PT — Gushiken tem no seu encalço a mesma Polícia Federal a quem ele tanto recorreu para acossar a concorrência. Em pelo menos um documento, as apurações mostram o secretário atuando em favor de empresas que andaram contribuindo com os cofres petistas.

Em outra ponta, mostra um relatório parcial que pode ser consolidado ou não no documento final — outra tortuosa e incômoda suspeita: a de que Gushiken participaria de um jogo destinado a levar ao desespero empresários encrencados. Na hora do gongo, esses empresários se socorriam do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares que, em troca de colaborações ao partido, oferecia indulgências.

As ligações físicas entre a Secretaria de Comunicação do Governo e as agências do publicitário Marcos Valério de Souza, foram divulgadas nesta quinta-feira pela Folha de S.Paulo. Casado com uma funcionária do publicitário, o diretor de eventos da Secretaria de Governo, Marco Antonio da Silva foi indicado por Gushiken para compor a comissão especial de licitação dos correios para a área de publicidade em 2003.

Informações do Coaf, divulgadas nesta quinta-feira, revelam indício material da ligação entre o mensalão e os fundos de pensão, área em que Gushiken é soberano no governo: Luiz Eduardo Ferreira da Silva, que trabalha como mensageiro da Previ, o poderoso fundo de pensão do Banco do Brasil, aparece na lista de nomes dos que que sacaram dinheiro vivo da conta da DNA, a agência de Marcos Valério, no Banco Rural. Os registros do Coaf anotam uma retirada em espécie feita pelo mensageiro de R$ 326 mil, no dia 15 de janeiro.

Nas investigações para saber as origens do mensalão que o PT usou para subornar votos favoráveis ao governo no Congresso, poucos fatos são tão comprometedores quanto os que cercam o profeta do PT que, segundo um ex-advogado do partido, ensinou um dia a seus companheiros: “O PT não chegará ao poder vendendo estrelinhas”. Ele estava certo. Mas é certo também que Dirceu e Genoíno, entre outros, caíram por muito menos.

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