Lula fica

Não existe vontade política para o impeachment

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19 de agosto de 2005, 10h32

Cogita-se, na imprensa, sobre o impeachment do Presidente da República. Há algumas insinuações nesse sentido, mas entre o propósito e a realidade há enorme distância. Inexiste, em primeiro lugar, a denominada “vontade política” de partir para tal iniciativa. Em seguida, em todos os setores, sem exceção qualquer para o industrial e o financeiro (principalmente o financeiro), o tratamento outorgado ao tema pelas denominadas lideranças é muito prudente, contrito até. Por fim, embora o povo, como tal considerada a denominada classe trabalhadora, constituída por sindicatos e quejandos, não esteja de bem com o metalúrgico, ainda demonstra pelo mesmo uma ligação quase carnal, protegendo-o na desgraça.

Disso há testemunho nos movimentos populares iniciados há pouco, muito menores do que os esperados ou estimulados, mas, ainda assim, demonstrativos de uma certa compatibilidade de tendência com o “fico”.

Por fim, o Supremo Tribunal Federal, constituído por juristas diferenciados, sim, mas trazendo princípios ideológicos colhidos lá fora e entranhados na toga, não parece impressionado com a remotíssima perspectiva. Em suma, inexistindo a descoberta de ligação direta do presidente com as ilegalidades em apuração, Luiz Inácio Lula da Silva termina o mandato, melancolicamente, mas termina, partindo depois para uma prudente expectativa, quiçá para o ocaso. No fim das contas, e atrás de tudo, valem considerações atinentes aos dinheiros, satisfazendo-se, então, os exportadores (ou importadores), em geral, e os banqueiros em particular. Obtém-se, então, uma espécie de “paz armada”, no sentido de se estabilizar o menos ruim, pois com o impedimento seria pior.

Ao lado de tudo isso, haverá, evidentemente, cassações, umas esperadas, outras surgindo no frigir dos ovos, havendo, também, uma espécie de moeda de troca nos bastidores, sabendo-se que nos momentos de crise política vale a dupla arte da retenção e da entrega, aquilo que ressumbra da peça “Chicago”. Ali, em dado momento, a carcereira afirma: “se tu faz pra mama, mama faz pra tu”.

É mais ou menos assim, repercutindo, até mesmo, num doleiro famoso, preso há algum tempo e ouvido por Comissão Processante. Realmente, a denominada “delação premiada” — até esse acidente híbrido mal copiado dos americanos e, diga-se, revestido de grande dose de imoralidade —, é uma espécie de “se tu faz pra mama, mama faz pra tu”, embora seja tragicômico ver-se o Ministério Público, por hipótese, participando dessa tentativa de impossível concretização desse expediente quase mafioso.

Quanto ao resto, há no Estatuto da OAB proibição expressa à tessitura de comentários sobre causas entregues a colegas criminalistas. Qualquer referência a tais conflitos soaria como interferência indevida, mesmo havendo sérios presságios, advindos dos babalaôs, quanto a particularidades represadas, até o momento, nos escaninhos da acusação oficial paulista.

Comentários esparsos surgem nos jornais. Aumentarão nas proximidades das eleições, condensando-se sensivelmente. A manobra é conduzida com método e sofisticação. É esperar para ver.

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