Morte em Londres

Jean Charles pode ter sido morto por força especial do exército

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5 de agosto de 2005, 10h33

De Londres

O brasileiro Jean Charles de Menezes pode ter sido morto por tropas especiais do exército britânico que, naquele dia 22 de julho, pela primeira vez ganhavam as ruas de Londres para tentar combater atentados terroristas à paisana. Jean foi morto com 8 tiros na cabeça no metrô de Londres.

Essa é a principal conclusão a que chegou, depois de 15 dias de investigações, a Independent Police Complaints Comission. “Trata-se de uma espécie Ministério Público, que apesar de fazer parte do governo, tem uma independência que coloca o órgão ao lado do povo”, explicou à revista Consultor Jurídico Tim Cahill, chefe da seção brasileira da Anistia Internacional, maior entidade de direitos humanos do planeta.

“Essa operação se chamou Kratos, que prevê entre outras coisas que se atire na cabeça do suposto terrorista, para que ele não tenha tempo de ter uma reação corporal que o faça acionar o gatilho das bombas, que quase sempre fica nas mãos”, explica Tim Cahill.

Quando foi morto na estação de metrô de Stockwell, o brasileiro Jean Charles de Menezes estava cercado por homens à paisana que usavam rifles de repetição Heckler and Kock G3K e G36C modificados, com o cano serrado e com um apoio para o ombro do atirador adaptado a partir de outro rifle, um PSG -1. Trata-se de um estratagema empregado tão somente pelas forças especiais britânicas SAS.

Os homens que cercaram Jean Charles, mostram as primeiras investigações da Independent Police Complaints Comission, fazem parte de uma unidade especial chamada 14 INT ou DET. Tais homens dispõem da fama de jamais deixarem um suspeito sobreviver, como o fizeram por exemplo em 1998, num cerco a membros do IRA em Gibraltar.

A prestigiada revista britânica The Economist levantou a discussão jurídica sobre a novidade que é ser morto em Londres por homens especiais à paisana. Desde as primeiras explosões, no começo de julho, a polícia britânica já havia acionado estes homens de tropas especiais em 250 ocasiões diferentes. A Economist pergunta-se, num editorial de uma página: “Por que esses homens seguiram o senhor de Menezes mas o deixaram entrar no metrô? Se a polícia por outro lado sabia que ele era perigoso, porque primeiro deixaram que ele entrasse num ônibus? Ele foi avisado de que as pessoas que o seguiam e o pararam eram policiais à paisana? Por que o Parlamento inglês não foi avisado que o governo sabia desde 2002 que homens-bomba estavam planejando atentados em Londres?”

Tim Cahill, da Anistia, acompanha o caso diariamente e diz que este tipo de pergunta obviamente criará os precedentes jurídicos para uma indenização à família do brasileiro. “Temos que saber como a operação Kratos foi planejada, como os policiais dessa operação foram orientados, se um oficial superior deu ordens antes das ações, se o brasileiro foi alertado ou não sobre o que se passava naquele momento, se a ação se baseou enfim nos Princípios Básicos do Uso de Força e Armas de Fogo estabelecidos pelas Nações Unidas”.

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