Primeira Leitura

Lula faz mea-culpa por não ter apoiado obra da ferrovia Norte-Sul

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3 de setembro de 2004, 12h16

O PT e a Democracia – 1

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou ontem da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o chamado Conselhão, e fez uma espécie de pregação do regionalismo ao contrapor a riqueza do Sul e do Sudeste às condições do Norte e do Nordeste.

O PT e a Democracia – 2

Lula chegou a questionar as decisões por maioria no Congresso, que, na ótica dele, beneficiariam os Estados mais ricos por causa do poder de pressão do dinheiro. “É uma coisa contraditória. Vocês percebem que nem tudo é resolvido pela maioria, porque, se for fazer o somatório no Congresso Nacional, você vai perceber que a maioria dos congressistas é do Norte e Nordeste. (…) Então, significa que tem muito deputado do Norte e Nordeste votando nas políticas do Sul e Sudeste, e não votando nas do Nordeste. E por que predomina isso? Por causa do poder de pressão, dos interesses da parte mais rica do país.”

Errado

O presidente está obviamente errado: na Câmara, que conta com 513 deputados, há 216 do Norte-Nordeste e 256 do Sul-Sudeste. Caso Lula revolucionasse a geografia e passasse a considerar o Centro-Oeste uma parte do Norte-Nordeste, ainda assim, a diferença seria de apenas um deputado contra o Sul-Sudeste.

No Senado

A desproporção de que fala o presidente existe, de fato, no Senado, onde a Região Norte, que tem a mais baixa densidade demográfica do país, tem 21 senadores, o mesmo número das superpopulosas regiões Sudeste e Sul. Ocorre que, no sistema bicameral, o Senado representa as unidades da federação, ficando a cargo da Câmara a representação da população — uma representação imperfeita, que prejudica São Paulo, por exemplo. Vale dizer: o conjunto do raciocínio é, por assim dizer, desconjuntado. Da aritmética imperfeita, sobrou mesmo um rosário de críticas ao Congresso.

Autocrítica

Em outro momento do discurso, Lula fez mea-culpa por não ter apoiado, quando na oposição, nos anos 80, a construção da ferrovia Norte-Sul. “De vez em quando, cometemos erros por paixões”, disse. A ferrovia Norte-Sul era uma proposta de José Sarney, hoje seu aliado. Lula defendeu ainda o projeto de transposição das águas do Rio São Francisco e os incentivos à Zona Franca de Manaus. Disse que é normal governadores e prefeitos lutarem por suas regiões, mas declarou que o governo tem de lutar pelo país. “Quando eu era dirigente sindical, meu único interesse eram os metalúrgicos. O mundo, para mim, se resumia aos metalúrgicos. Agora que eu sou presidente, o mundo se resume ao Brasil.”

Overdose de nacionalismo

Por fim, bateu na tecla do otimismo. “Quanto mais otimistas nós formos, mais as coisas vão dar certo neste país”. A reunião aconteceu em Brasília, que já está enfeitada para os festejos de Sete de Setembro. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, a Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica (Secom) pediu envolvimento de empresários nas comemorações: usou um catálogo de 2 mil empresas do Ministério do Desenvolvimento e enviou “idéias” para que as empresas pudessem aderir às festividades. O folheto distribuído fala em “resgatar o patriotismo cívico, o orgulho e a auto-estima do nosso povo” e sugere a confecção de camisetas, adesivos e bandeiras alusivas ao tema.

Assim falou… Alberto Goldman

“Todos os governadores foram enrolados e agora a ficha caiu.”

Do deputado federal tucano, ao decretar o fim da lula-de-mel entre governadores e o governo Lula

Uma proposta

O núcleo duro do governo Lula está pensando seriamente em resumir a proposta das PPPs (parcerias público-privadas) numa Medida Provisória. Está achando incômodo que alguns parlamentares da oposição tenham decidido ter opiniões distintas das do governo, o que, sem dúvida, é mesmo um absurdo, não é? As oposições não estão entendendo que, nas democracias, quando algum partido se elege, torna-se também detentor da verdade absoluta, cessando o direito ao contraditório e também a legitimidade de qualquer restrição a planos oficiais.

Ora, é assim no… na…. onde mesmo? Bem, não é assim em democracia nenhuma, mas isso não significa que o governo Lula esteja errado. Na verdade, em dias de exaltação dos valores pátrios, o PT deveria fundar a República das Jabuticabas, uma coisa tipicamente nacional.

*A coluna é produzida pelo site Primeira Leitura – www.primeiraleitura.com.br

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