Tribuna de boteco

‘Escória’ conquista o Onze com promessa de “balada e bebida”

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12 de novembro de 2004, 22h31

“Bebemos sim e não é pouco, mas quero ver nêgo mais responsável para tocar o Onze do que nós”. A frase é de Fernando Borges Filho, o Purunga, presidente eleito do Onze de Agosto, o Centro Acadêmico de umas das instituições de ensino mais conservadoras e um dos mais tradicionais centro de produção de inteligência e de liderança do país: a escola de direito do Largo São Francisco, da Universidade de São Paulo.

A posse na diretoria do Onze de uma chapa que se autodenomina Escória, e se orienta ideologicamente pelo slogan “Balada, Bebida e Putaria” certamente fará tremer as venerandas arcadas do Largo São Francisco. Com 101 anos de existência, o Centro Acadêmico Onze de Agosto é a entidade estudantil mais representativa da América Latina e já foi abrigo de notáveis da história brasileira.

Palco de manifestações estudantis que vão da adesão à Revolução Constitucional de 1932 às passeatas pelo impeachment de Fernando Collor de Mello, passando pela resistência ao regime militar, ele já teve entre seus dirigentes e membros nomes como Ulysses Guimarães, Monteiro Lobato, Jânio Quadros e muitos ministros do Supremo Tribunal Federal, como Celso de Mello, autor de um estudo a respeito.

“Não somos apolíticos, mas não somos politiqueiros. Louvamos a política com P maiúsculo,” diz Purunga. A crítica é endereçada à gestão atual, a cargo do Partido Acadêmico, e à chapa ‘Ruptura’ que incute uma “política barata, com clichês ideológicos, um ‘recorte e cole’ do PT”. A ‘Escória’ é, segundo ele, a favor da criatividade e não da cópia de modelos e “vai ser gerida pelos alunos, não importa se ele é comunista, fascista ou anarquista”, afirma.

Para justificar o sucesso do partido que existe há quatro anos no Centro Acadêmico e acaba de ganhar sua primeira eleição, Purunga evoca um dos hinos mais tradicionais do Largo São Francisco. “Onde é que mora a amizade?/ Onde é que mora a alegria?/ No largo de São Francisco/ Na velha Academia”. “O bom humor sempre foi uma das armas mais usadas pela São Francisco. A festa e a boemia são tradições indiretamente ligadas à irreverência e à crítica”, diz. “Os alunos da faculdade são críticos, revoltados, fazem farra para cacete, enchem a cara, mas são extremamente responsáveis”.

O discurso pretende neutralizar as acusações de que a ‘Escória’ seria uma chapa apolítica e alienada indicativa do empobrecimento cultural da entidade, como atacam seus adversários. “Eles não possuem propostas concretas e estimularam a compra de votos.”, diz o estudante Israel Alexandre Souza, rerpesentante da chapa derrotada por Purunga no segundo turno. “Na campanha, eles pregavam cartazes dizendo ‘Faça algo útil com seu voto, venda-o’”, diz Souza. Purunga diz que foi só mais uma brincadeira. “Foi um recado para a faculdade de que estamos de saco cheio de política barata”.

A vitória da Escória sobre a concorrente Resgate Arcada se deu por meros quatro votos: 550 a 546.

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