Operação Anaconda

Reportagem da IstoÉ aponta falha nas investigações da Anaconda

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8 de junho de 2004, 16h33

Os policiais federais responsáveis pela Operação Anaconda teriam utilizado escutas telefônicas clandestinas (não autorizadas pela Justiça) e não teriam investigado os fatos captados nas interceptações feitas com respaldo judicial “para não prejudicar o sigilo da operação”. Esse é o ponto central da reportagem intitulada “A gula da cobra”, publicada esta semana pela revista IstoÉ.

O texto dá conta de que é “o próprio Ministério Público Federal que admite que estão ocorrendo interceptações telefônicas clandestinas — a chamada arapongagem. E admite isso ao ter encaminhado à Superintendência da Polícia Federal de São Paulo o ofício 678/04 pedindo a investigação desse fatos”.

A reportagem aponta que enquanto parte do Ministério Público quer investigar as supostas irregularidades, outra parte pede a interrupção das investigações sobre as escutas: “dois procuradores regionais da República entraram com pedido de habeas corpus para suspender as investigações — já conseguiram liminar determinando ‘sustar a instauração dos inquéritos policiais (…) ou para suspender seus andamentos, se já tiverem sido instaurados’”.

Em outro trecho, a notícia dá conta de que a operação valeu-se da interceptação telefônica judicialmente autorizada, mas escorregou no fato de “utilizar esse método para produzir provas, e não para corroborar provas a partir de fortes e claros indícios já detectados, como determina a lei”.

Segundo a IstoÉ, as conversas grampeadas partiram apenas de suspeitas e viraram provas em si. Também aponta erros que teriam sido gerados pela falta de checagem das informações obtidas pelas escutas telefônicas: “Essas ‘provas’ não investigadas geraram uma série de contradições e erros, a tal ponto que o policial João Guedes Tavares, falecido em 1963, foi colocado pela Polícia Federal no terceiro nível hierárquico da suposta organização criminosa, ao lado de delegados e juízes. E um inocente, Hugo Sterma, foi encarcerado por engano durante 11 dias. Grampearam o telefone errado, prenderam o Sterma e só depois descobriram que ele não era de fato o procurado: Hugo Carlette”.

Ainda segundo a revista, é a partir das conversas entre os policiais federais César Hermam e José Augusto Bellini, ou deles dois com terceiros, que outras pessoas são envolvidas nas acusações — sobretudo os juízes Casem e Ali Mazloum. E, nesse trecho, a reportagem insiste em apontar para o “perigo do uso de escutas telefônicas como produtoras de provas, provas essas que não foram investigadas nem pela Polícia Federal nem pelo Ministério Público Federal. As conversas que foram interceptadas viraram provas em si, e ponto final”.

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