Segredo de polichinelo

Caso Kroll: emails de Demarco vazaram há 3 anos.

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28 de julho de 2004, 15h24

Há três anos que cópias do lote de cerca de 4 mil e-mails enviados e recebidos pelo empresário Luis Roberto Dermarco Almeida deixaram de ser segredo. A correspondência de Demarco — ex-sócio e atual adversário do dono do Banco Opportunity, Daniel Dantas — com o atual ministro Luiz Gushiken, da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, tornaram-se ponto central do escândalo em torno das investigações da Kroll no Brasil.

As cópias das mensagens eletrônicas, extraídas do computador de Demarco, transitaram entre inquéritos policiais e foram anexadas em processos que ainda tramitam na Justiça do Estado de São Paulo, nas áreas civil e criminal.

No processo 000.01.086439-3/00, da 28ª Vara Cível, em que Demarco reivindica uma indenização “por perdas e danos morais” de R$ 2,5 milhões da ex-mulher, Maria Regina Yaszbek (de quem se separava litigiosamente), há cópias de dezenas das mensagens retiradas do correio eletrônico do empresário. Uma delas confirma que, em 14 de fevereiro de 2001, foi lida a mensagem mandada na véspera pelo sócio de Demarco, Marcelo de Oliveira Ellias, a Gushiken.

O empresário, que luta para incriminar Daniel Dantas, afirma que entre as suas mensagens eletrônicas apreendidas na casa e na empresa de sua ex-mulher não se encontram as que trocou com Gushiken. O fato é que tanto a polêmica troca de mensagens quanto a sua apreensão localizam-se no mesmo ano de 2001.

As cópias das mensagens eletrônicas — inclusive uma para o então deputado federal do PT-RJ, Milton Temer, com denúncias sobre um fundo de investimento do Opportunity nas Ilhas Cayman — foram anexadas ao processo junto com o Laudo n° 01/090/18817/2001, do Instituto de Criminalística Octávio Eduardo de Brito Alvarenga, de Secretaria de Segurança Pública. Assinado pelos peritos Edson Amaral e José Martins de Oliveira, em 29 de junho de 2001, o laudo é resultado da perícia feita no notebook Toshiba (n° de série “80000066 B”) que pertencia a Maria Regina e no qual se encontravam as mensagens extraídas do computador de Demarco.

Os peritos concluíram que o computador pessoal de Maria Regina possuía mensagens encaminhadas para ela pelo técnico em informática José Luiz Galego Junior — outro sócio de Demarco –, copiando correspondências recebidas e enviadas pelo ex-marido dela, sem que elas tivessem sido remetidas para o correio eletrônico de Galego Júnior. Ou seja, segundo o laudo, tais mensagens tinham sido tiradas do correio eletrônico do computador de Demarco.

O furto das mensagens foi motivo de uma queixa-crime, apresentada em 24 de maio daquele ano, junto à 14ª Delegacia Policial de São Paulo, no Bairro de Pinheiro, pelo advogado Marcelo Ellias. Ao registrar o caso, ele apresentou cópia de uma carta anônima enviada a Demarco denunciando seu então sócio, José Luiz Galego Junior, pelo roubo das mensagens que seriam encaminhadas posteriormente a Maria Regina.

Estas mensagens acabaram sendo repassadas para o empresário Daniel Dantas, dono do Banco Opportunity, com quem Demarco já travava diversas disputas judiciais no Brasil e nas Ilhas Cayman.

Registrada no dia do dia 21 de maio, uma segunda-feira, a queixa-crime teve uma tramitação inicial bastante ligeira. No dia 24, quinta-feira, a polícia paulista colheu cinco depoimentos, inclusive o de Demarco. No mesmo dia 24, o delegado João Batista Araújo instaurou o Inquérito Policial 597/01 de forma a conseguir, já no dia 25, uma sexta-feira, um mandado de busca e apreensão junto ao juiz Júlio Caio Farto Salles do Departamento de Inquéritos Policiais e Polícia Judiciária da Capital, autorizando a busca do notebook de Regina na casa dela ou no seu escritório.

O mandado foi cumprido na mesma tarde com a apreensão do computador pessoal que, no dia 29 de maio, foi remetido à perícia, cujo laudo ficou pronto em exatamente 30 dias.

Um mês depois, o laudo estava anexado à ação de indenização movida contra Maria Regina. Na época, enquanto o inquérito policial corria em segredo de Justiça, o processo de indenização não estava sob sigilo, apesar de diversas mensagens eletrônicas enviadas ou recebidas por Demarco estarem ali reproduzidas. Hoje, o inquérito, segundo informou o jornal O Globo, está sendo reaberto, depois de ter sido arquivado em 2002, e a ação de indenização, com sentença favorável a Maria Regina, encontra-se no tribunal de Justiça, em fase de recurso, sob segredo. Gilberto Cipullo, advogado de Demarco na área cível, está tentando reverter o resultado, até agora desfavorável ao seu cliente. Os seis inquéritos gerados por essa teia de encrencas foram arquivados pelo Ministério Público.

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