Saúde em questão

Anaconda: filha de Bellini quer transferência do delegado preso na PF.

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14 de fevereiro de 2004, 7h57

Bruna, filha de José Augusto Bellini, em nome da família, procurou a revista Consultor Jurídico para dizer que o delegado federal está sendo mantido preso com a sua saúde deteriorada, em estado grave, mas que a Justiça despreza o fato. Em carta enviada a este site, Bruna diz que seu pai não tem tido o mesmo tratamento que outras pessoas presas nas mesmas condições de acusação tiveram quando na custódia da PF — como, por exemplo, o juiz aposentado Nicolau dos Santos Neto.

Na carta afirma-se que a juíza no comando do caso Anaconda, Therezinha Cazerta, estaria fazendo vista grossa às solicitações da família. “A Sra Desembargadora está passando por cima da dignidade e do direito de um ser humano”, diz. A desembargadora, contudo, baseia-se no parecer dos médicos que fazem o acompanhamento dos presos.

“Perguntamos: o que querem que ocorra? Uma morte na custódia da PF? O que querem criar, um “depositário para todas as culpas”? Sim, porque o quadro é de assassinato gradual-proposital. Sucessivas vezes foi solicitada a transferência dele para um local onde possa ser cuidado, assistido em suas questões físicas e psicológicas”, afirma.

A família atribui as condições em que Bellini se encontra, bem como o seu envolvimento com uma quadrilha acusada de vender sentenças, a uma recidiva de álcool, que se arrastaria há anos.

Bellini era um ícone na Polícia Federal. Fez nos anos 80 as maiores apreensões de cocaína da América Latina. Tanto que em 1988 recebeu uma capa do Caderno Cidades, da Folha de S. Paulo, em que a jornalista Júnia Nogueira de Sá o chamava de “o Elliott Ness brasileiro”, em referência ao implacável e incorruptível agente da série “Os Intocáveis”. Depois de angariada essa fama, Bellini foi secretário da segurança pública do Espírito Santo.

Nos anos 80, Bellini comandou uma equipe conhecida como “os meninos de ouro do combate ao pó, em São Paulo”. Entre seus comandados estavam, por exemplo, o atual superintendente da PF no Rio de Janeiro, Roberto Precioso Junior — para quem o juiz Nicolau resolveu se entregar; o atual presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais, Francisco Carlos Garisto — único policial federal do país com 42 elogios em seus registros funcionais; e o ex-porta-voz da PF paulista, delegado Gilberto Tadeu Vieira Cezar, que chegou a morar em Nova York para combater os cartéis colombianos, conectados à máfia italiana e com conexões no Brasil.

Leia a carta da família Bellini

Tomando conhecimento da existência do endereço www.consultorjuridico.com.br, resolvemos escrever para fazer o que poderia ser chamado de “denúncia” ou então de “solicitação de orientação” ou talvez de “pedido de ajuda”, visto que os canais legais encontram-se absolutamente “surdos e mudos”.

Trata-se da situação em que se encontra um homem com mais de 34 anos de serviços prestados ao Departamento de Polícia Federal. Um homem que ajudou a dar lastro e elevar o nome do DPF nacional e internacionalmente, o que, certamente, encontra-se documentado na instituição e na mídia.

Trata-se do Dr. José Augusto Bellini, que no transcorrer de sua caminhada, por motivos que não cabe descorrer aqui, mas que esbarram na natureza do trabalho que sempre desenvolveu, acabou por se tornar um dependente químico do álcool, o que veio agravar, grandiosamente a sua condição de portador de diabetes. Uma doença que solapa silenciosamente, mexe com o metabolismo, altera o estado emocional, debilita e mata, caso não seja tratada a contento.

Como todos sabem o Dr. Bellini, encontra-se a mais de 100 dias na custódia do DFP-SP. Dizem os advogados que ilegalmente, visto que leis óbvias estão sendo desrespeitadas, o que também acreditamos pois vemos assassinos confessos soltos, em liberdade, esperando julgamento, porém não é este o foco deste texto. O Dr. Bellini está sendo solapado física, mental e emocionalmente. Vários laudos médicos foram encaminhados a Sra. Desembargadora que insiste em não ouvir ou respeitar os pareceres e o direito humano à vida.

Perguntamos: o que querem que ocorra? Uma morte na custódia da PF? O que querem criar, um “depositário para todas as culpas”? Sim, porque o quadro é de assassinato gradual-proposital.

Sucessivas vezes foi solicitada a transferência dele para um local onde possa ser cuidado, assistido em suas questões físicas e psicológicas.

A Sra Desembargadora está passando por cima da dignidade e do direito de um ser humano.

Não sabemos mais a quem recorrer; a cada visita, de um mês para cá, as condições visivelmente pioram, sendo que há uma semana ele não conseguia levantar o talher para colocar a comida na boca, não conseguia levantar da cadeira, não podia se locomover, tendo que se arrastar apoiando-se na parede, estava com o rosto e as mãos com manchas avermelhadas e chorava seguida e convulsivamente, num estado lastimável.

Apelamos ao Consultor Jurídico para nos orientar: que canais podemos acionar? Que outro caminho poderíamos trilhar? Isso pode estar acontecendo?

O Dr Bellini tem ou não o direito a essa assistência? Onde fica o direito à vida? Agradecemos o espaço e esperamos aflitos um parecer, uma orientação, uma ajuda.

Obrigada

Bruna, em nome da família Bellini

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