Chance perdida

Primeira Leitura: Plano Real não redistribuiu renda no país.

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31 de março de 2002, 15h24

O malanismo acabou

Os números que o IBGE acaba de divulgar – o PIB (que mede a riqueza produzida), o PIB per capita (a distribuição dessa riqueza entre os habitantes) e o rendimento real – mostram uma diferença fundamental entre o quadro econômico do Brasil em 1994, ano da primeira eleição de FHC, e a situação atual, em que o presidente tenta, depois de dois mandatos, fazer seu sucessor.

Mais renda…

Do segundo semestre de 1994 a 1996, o rendimento real dos trabalhadores cresceu 27%, enquanto o PIB per capita teve uma expansão de 4%. A queda do chamado “imposto inflacionário” proporcionada pelo Plano Real dava início a um processo de redistribuição de renda no país. Não à toa, FHC foi eleito já no primeiro turno.

…para poucos

Entretanto, de julho de 1997 a julho de 2001, o PIB per capita cresceu apenas 1%, e o rendimento real do trabalhador brasileiro caiu 4%. Ou seja, a renda que foi criada no período não foi apropriada pelos salários. E o país vem crescendo menos: o PIB cresceu 1,5% em 2001, somando R$ 1,184 trilhão. O PIB per capita foi de R$ 6.873,00 no ano – crescimento de apenas 0,19% em relação ao ano anterior.

Tradição preservada

Vistos em conjunto, esses números, além de dar uma medida da situação social do país, consolidam uma tendência perversa que ficou muito bem desenhada entre 1997 e 2001: a concentração de renda no Brasil.

Calcanhar de Aquiles

A análise dos números do IBGE deixa claro que o debate sucessório deveria se dar em torno dos principais problemas econômicos do país: a falta de crescimento e a concentração de renda. Esses pontos fracos do governo tucano seriam um prato cheio para a oposição construir seu discurso de campanha. Até agora, não mostrou competência para isso.

O passado condena

O PT tem uma dificuldade histórica para apontar as avarias no casco da estabilidade construída nos mandatos de FHC: em 1994, o partido atacou o real e, com isso, selou sua derrota. Garotinho (PSB) não carrega esse ônus, e não teria problemas para incorporar esse discurso.

Dilema

O partido de Lula está numa situação complicada diante da população: quando o trabalhador ganhou renda, ele ficou contra o real; agora, quando ele perde renda de modo inequívoco, o PT não se empenha em uma campanha que denuncie o problema.

Gargalos do crescimento

A ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que reduziu a taxa básica de juros no último dia 20 convenceu de vez o mercado que o BC será mais flexível em relação à inflação. A novidade acabou sendo o destaque dado à queda da renda dos trabalhadores e ao aumento do desemprego, que reduzem a possibilidade de crescimento da economia.

Vida real

Diante dos problemas apresentados pela economia real, já era mesmo tempo de o Copom reduzir a ênfase nos rituais econométricos e procurar meios de estimular o crescimento.

Assim falou. Uzi Landau

“Não basta responder, temos de destruir a Autoridade Palestina.”

Do ministro de Segurança Interna de Israel, classificando de “um crime de guerra, um massacre”, o atentado de um extremista palestino que matou 20 pessoas em um resort israelense, na última quarta-feira. Desde o início da intifada, em setembro de 2000, mais de 1.600 pessoas morreram vítimas da violência na região – 1.257 palestinas.

Estava escrito

Em novembro de 2001, Primeira Leitura já escrevia: “O governo FHC que propiciou a estabilidade da economia, que promoveu as privatizações virtuosas, que democratizou alguns serviços públicos e que redistribuiu renda ao promover o fim da inflação não encontrou o seu caminho no segundo mandato, vítima que foi da (…) ‘lógica do caixa’. Esse modelo acabou”.

Revista Consultor Jurídico, 31 de março de 2002.

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