21/3/2002

Primeira Leitura: ninguém deu bola ao discurso de Sarney

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21 de março de 2002, 9h56

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O fim de Sarney

O discurso do senador José Sarney (PMDB-AP) contra o governo foi de uma violência inaudita. Em qualquer país do mundo, um ex-presidente que assim falasse poderia gerar uma crise política e até institucional. A Sarney ninguém deu bola.

Nem te ligo

Ex-presidente deveria receber uma medalha e ficar em casa para não passar essa vergonha: Sarney fez um discurso destinado a abalar os alicerces da nação e a bolsa paulista, imediatamente, reduziu o ritmo da queda.

Alinhamento

Sem explicar o R$ 1,34 milhão em dinheiro vivo na empresa de Roseana e revisitando a teoria da conspiração tucana contra a candidatura da filha, Sarney se alinha com o ex-prefeito Paulo Maluf, que acusou o Ministério Público de agir como “nazista” para defender os interesses do tucanato.

Órfãos da “redentora”

O discurso de Sarney marca os estertores da tradição golpista no Brasil. O ex-presidente deveria se juntar com Maluf numa ONG em defesa de estrelas da ditadura que estão encontrando dificuldades para exercer seu ofício na democracia.

Política de mercado

Quem conhece um pouco de política sabe que discursos como o de Sarney são negociados. Desde a busca na empresa de Roseana ele ameaça o governo com esse texto: põe ataque, tira ataque, faz emendas. Não era uma fala à nação, mas uma peça de negociação, uma moeda de troca. O Planalto mandou Sarney catar coco de babaçu na praia do Calhau…

Nosferatu

Se ainda tivesse algum poder efetivo, o senador não queimava os navios. Age como ele quem vai liderar uma revolução ou golpe ou quem vai para o retiro de Santa Helena, como um Napoleão – no caso, Curupu. Sarney vampirizou o sistema político e a democracia. Não vampiriza mais.

Nota de falecimento

É notável que o ex-presidente tenha feito uma referência ao atentado da rua Toneleros, em 1954, o estopim da crise que levou à morte de Getúlio Vargas, acossado pela UDN. O discurso de Sarney ainda será lembrado como o último suspiro do velho partido.

Assim falou… José Sarney

“Irei bater às portas da ONU, da OEA (…), pedindo observadores para as eleições, a fim de assegurar a vigilância internacional da nossa sucessão.”

Do ex-presidente e senador do PMDB, rompendo os limites do ridículo ao comparar a sucessão brasileira às eleições no Zimbábue…

Tudo é história

Um homem que se identificou como membro das Brigadas Vermelhas reivindicou a autoria do assassinato, em Bolonha, do professor Marco Biagi, assessor do governo Silvio Berlusconi e responsável pela elaboração de uma reforma trabalhista.

Organização terrorista de esquerda que ganhou notoriedade nos anos 70 por suas ações violentas, como seqüestros e assassinatos, as Brigadas Vermelhas anunciavam como seu objetivo o desgaste do Estado italiano como preparação para um levante marxista liderado por um “proletariado revolucionário”.

Seus primeiro atentados a bomba datam de novembro de 1970, e seu primeiro assassinato foi cometido quatro anos depois. Em 1978, as Brigadas Vermelhas seqüestraram e assassinaram o ex-primeiro-ministro italiano Aldo Moro, sua ação mais conhecida. No final dos anos 80, a maioria dos líderes e militantes do grupo tinha sido presa, com o virtual desmonte da organização. Nos anos 90, porém, um grupo que disse ser as Brigadas Vermelhas se responsabilizou por vários atentados na Itália.

Revista Consultor Jurídico, 21 de março de 2002.

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