8/3/2002

Primeira Leitura: desgovernada candidatura Roseana pode descarrilhar.

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9 de março de 2002, 16h49

Lógica política

Enquanto não surgem as primeiras pesquisas sobre a reação dos eleitores ao caso Roseana-Murad, algumas tendências podem ser apontadas, tendo em vista as condições estruturais da atual sucessão presidencial. E é a estrutura que sugere que a candidata do PFL pode perder alguns pontos nos próximos levantamentos de intenção de voto.

Imaculada

A força de Roseana Sarney era a “novidade”. Uma mulher bonita, de aspecto sereno, surgia em uma campanha publicitária muito competente. Os comerciais de TV não discutiam idéias, apenas mostravam alguém sem passado, acima das classes e dos partidos – o PFL, a realidade do Maranhão e o pai, José Sarney, ficaram escondidos.

De carne e osso

A descoberta de R$ 1,3 milhão em dinheiro vivo no escritório de Roseana-Murad e a crise política resultante apagaram a imagem de uma mulher acima de tudo: ela é, afinal, uma política como qualquer outro – com passado, com contas a prestar de suas atividades e com uma vinculação partidária explícita, para o bem ou para o mal.

Despreparo

É claro que os eleitores podem não ter essa percepção e se solidarizar com a governadora, que posa de vítima de um suposto complô tucano. Mas pode-se imaginar o incômodo dos chamados financiadores de campanha diante do destempero de Roseana, que foi às TVs exigir que a Constituição fosse rasgada. Em todo o episódio, mostrou não estar à altura dos desafios impostos pelo cargo.

Vítima?

Roseana disse ontem que será candidata “pela vontade do povo” e que foi vítima de uma “invasão na calada da noite”. A verdade é que a escolha dela foi imposta pelos Sarney à cúpula do PFL, e a ação da Polícia Federal (PF) na empresa de Roseana e Murad aconteceu à luz do dia e com um mandado judicial de busca e apreensão.

Passo decisivo

O PMDB deu um passo decisivo ontem para enterrar de vez a candidatura própria e – como deseja a maioria da cúpula partidária – apoiar José Serra (PSDB) na corrida ao Planalto. A convenção convocada pela ala governista conseguiu cancelar as prévias marcadas para o dia 17. Os oposicionistas, favoráveis à candidatura própria, devem recorrer na Justiça.

Ganhando tempo

Embora o apoio a José Serra seja o caminho mais provável a ser trilhado pelo PMDB, uma ala do partido pressiona para que o partido só se defina “aos 44 minutos do segundo tempo”, segundo definição do líder no Senado, Renan Calheiros (AL).

Cuidados

Entre outras coisas, o PMDB quer antes saber a resposta do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a chamada “coligação-camarão”, em que um partido não apóia ninguém para presidente. E, deseja, claro, evidências de que o candidato tucano vai crescer nas pesquisas e, por último, quer ver se as denúncias vão “colar” em Roseana Sarney (PFL).

Assim falou. Jorge Bornhausen

“Ela não será a Joana D’Arc dos nossos adversários.”

Do presidente nacional do PFL, ao dizer que a candidata Roseana Sarney “não será queimada em praça pública” devido às denúncias contra ela e seu marido, Jorge Murad.

História em números

Ontem foi o dia mais sangrento no Oriente Médio desde o início da atual intifada: 42 palestinos e um soldado israelense morreram depois que Israel lançou ataques a cidades e campos de refugiados palestinos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. O levante em curso começou em 28 de setembro de 2000. De lá para cá, morreram 1.162 palestinos e 332 israelenses.

Revista Consultor Jurídico, 9 de março de 2002.

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