8/3/2002

Primeira Leitura: partidos optarão por denuncismo na corrida eleitoral

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8 de março de 2002, 9h44

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O terceiro homem

A sete meses da eleição, o PFL tem uma candidata sob suspeita e que demonstra, a cada embate, absoluto despreparo para enfrentar os desafios a que está sujeito um presidente.

O tucano José Serra pode esperar: vem por aí uma borrasca de denúncias. Se a governadora se sustentar nas pesquisas – no que poucos apostam –, muito bem. Caso contrário, o pefelismo voltará a acenar a FHC com o apoio a um terceiro nome: nem Roseana nem Serra.

República dos dossiês

Para tanto, é imperativo que o tucano também não deslanche. E, para que não deslanche, o PFL confia em seus próprios dossiês e na fase do denuncismo explícito. Escribas dispostos a ligar o ventilador fazem fila na porta do senador José Sarney, o pai de todos.

Currículo

O próprio Sarney está a falar sobre os seus “amigos” na comunidade de informações. Sua vida política útil, convenhamos, tem mais tempo de ditadura nas costas do que de democracia. De “comunidade de informações” ele entende… E sempre se poderá contar com Ciro Gomes no teatro de operações.

Nivelou por baixo

Mais: lançada a corrida da baixaria, qualquer suspeita vira manchete até prova em contrário. Justiça seja feita: o PFL conseguiu nivelar por baixo a disputa. Pego de calças curtas pelo despreparo de Roseana, o partido partiu para o ataque.

Casa-grande & senzala

Ao se falar aqui de despreparo, nem nos referimos à sua competência técnica, também por ser provada, mas à política. O salseiro que armou na esteira da investigação da empresa de que é dona e o que argüiu em sua defesa – exige privilégios de casa-grande, não concedidos à senzala – esbarra no primarismo.

Senhor feudal

Lembremos, por comparação, como se comportou o petista Lula em 1998, quando lhe foram vender a farsa do Dossiê Cayman. Não quis nem ouvir e foi fazer política. Lula é o menos “estudado” dos candidatos. Mas tem uma sabedoria política, forjada no campo democrático, que, convenhamos, nunca foi muito influente no solar dos Sarney e no Maranhão, o feudo que a família domina há mais de 40 anos com mão de ferro e palavras açucaradas.

Cassino político

Até onde se sustenta a farsa? É o que se vai ver. Depende, é claro, de o eleitor ter a curiosidade de saber por que Roseana, que diz querer ser investigada, se mobilizou para que nada seja apurado; depende de o eleitor fazer a mesma aposta arriscada que o PFL fez esta semana.

Rede de proteção

A diferença é que o partido de Bornhausen e Marco Maciel – se não o de ACM – dá um passo ousado na certeza de que haverá uma rede de proteção na hipótese de Roseana despencar e Serra não emplacar.

O PFL tem a segunda hipótese como certa, e a primeira como duvidosa. Dadas as duas hipóteses e suas respectivas qualificações, considerou que estava em melhor situação que o adversário e decidiu correr o risco.

Um lance de dados

A sorte está lançada. Para o PFL, o resumo do jogo é o seguinte: Roseana é a primeira hipótese; a segunda é qualquer um que não Serra — e, é óbvio, Lula. O acaso, claro, este nunca será abolido.

Assim falou… Marc Grossman

“Vim para consultas políticas com meus parceiros colombianos”.

Do subsecretário de Estado norte-americano, em Brasília, referindo-se aos diplomatas brasileiros…

Tudo é história

Na terça-feira, o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) atacava o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira (“um assaltante de banco”), fazendo referência à sua militância em um dos grupos que aderiram à luta armada contra a ditadura militar. Na revolta dos pefelistas de Roseana Sarney, o roteiro de opereta está presente, bem ao gosto histórico dessa turma.

“Getúlio mergulhara o país no mar de lama”; “Juscelino entregaria o Brasil aos estrangeiros”, “Jango vergava a cerviz aos comunistas”. Mais uma vez, não falta o gostinho do complô. Como não perguntar: se, em plena democracia, cria-se um salseiro desses porque uma candidata quer privilégios que afrontam a Constituição, do que não era capaz essa gente quando podia mobilizar uma força armada?

Revista Consultor Jurídico, 8 de março de 2002.

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