Sexta-feira, 17 de maio.

Primeira Leitura: Malan não tem autoridade política para dar pito

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17 de maio de 2002, 17h10

O cenário que não há

Algumas lideranças do país e da mídia apostam em uma grande impostura: o Brasil viveria um clima de paz, ordem, tranqüilidade e consistência dos fundamentos econômicos, que pode vir a ser perturbado ou destruído pela eventual eleição do petista Luiz Inácio Lula da Silva.

Trata-se, evidentemente, de uma fraude, pois é falsa a oposição entre a suposta desordem que seria criada por Lula e a ordem representada pelo malanismo. Lula até poderia ser a desordem, mas Malan não é a ordem.

Juro de ocasião

Não por acaso, está hoje o Banco Central a criar a categoria de “arte” para a condução da política monetária – que é, no fundo, apenas uma justificativa para reduzir os juros. Descobriram o óbvio: a economia, que não cresce e que promove a retração da renda, atrapalha a candidatura do governo.

O alvo que atira

Quer fique claro, portanto, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, não tem autoridade política para dar pito em ninguém. A responsabilidade pela vulnerabilidade da economia é sua. E, convém destacar, parte da onda de descontentamento que colheu a candidatura Serra foi ditada pelo reajuste dos combustíveis, medida tomada na esfera de decisão do ministro da Fazenda: uma boa soma de ortodoxia e idiotia.

Ônus da liderança 1

O candidato petista, que lidera as pesquisas de intenção de voto, deve, sim, algumas explicações à coerência política, até porque, caso as eleições fossem hoje, seria o novo presidente. E a pergunta é simples: o que vai valer? O programa de governo, que chega a flertar com a revisão de medidas já tomadas por esse governo, ou a personagem cheia de lhaneza e bonomia que aparece nos programas da TV?

Ônus da liderança 2

O principal assessor econômico de Lula, Guido Mantega, fala em romper o acordo com o FMI? Qual acordo? Aquele que nem mais existirá quando Lula chegar, se chegar, ao poder? E se o Brasil for alvo de um forte ataque especulativo, e se as reservas despencarem? Vamos fazer o quê? Recorrer ao FMI ou centralizar o câmbio?

Pragmatismo

Quando menos, o petista deveria fazer como Aloizio Mercadante: seja pragmático como ele foi ao orientar a Previ a aderir ao consórcio de Benjamin Steinbruch por ocasião da privatização da Vale do Rio Doce…

Cair na tentação 1

É bom que Serra não se curve ao desespero precoce da turma do pega-e-esfola. É claro que terá de polarizar com Lula. Mas é preciso resistir à tentação de se diferenciar de Lula no que diz respeito ao passado. As diferenças têm de aparecer no que diz respeito ao futuro.

Cair na tentação 2

Serra precisa tomar cuidado com a armadilha de transformar Serra no “continuísmo com continuísmo”, como quer o malanismo. O risco é não haver continuidade nenhuma. Afinal, mostra a pesquisa Datafolha, 70% querem mudar o governo.

Caixa

Os Estados Unidos costumam liderar o bloco das altas de juros, mas desta vez será diferente. Por conta da retomada dos EUA, os países periféricos tendem a aumentar seus juros para manter o fluxo de capital. Por países periféricos entenda-se também, neste caso, os que participam da União Européia.

Fim da lua-de-mel

A notícia de que George W. Bush foi avisado de que Osama Bin Laden poderia seqüestrar aviões vai, certamente, vai pôr um fim à lua-de-mel entre o presidente e os americanos. A popularidade de Bush já não era a mesma dos primeiros instantes pós-11 de setembro, mas ainda ronda a casa dos 70%.

Agora, deve cair. A incapacidade do governo americano de responder com eficiência aos informes da CIA e do FBI deve abalar a imagem de “comandante-em-chefe” da chamada guerra ao terror.

Assim falou…Aécio Neves

“Respeito muito o candidato do PT, mas o entorno dele ainda está despreparado para assumir o país”.

Do presidente da Câmara, quinta-feira, em entrevista concedida na Espanha, como forma de adesão à decisão de seu partido, o PSDB, de apontar contradições do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva

Tudo é história

Mark Twain disse certa vez que “se você diz a verdade, não precisa lembrar-se de nada”. É o melhor recado que o presidente dos EUA, George W. Bush, poderia ouvir.

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