Costa Leite deixa PSB

Costa Leite desiste de eleições e se desfilia do PSB

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9 de maio de 2002, 16h15

A repercussão da reportagem da revista Época, dando conta de que o ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça, Paulo Costa Leite, trabalhou no extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) provocou, nesta quinta-feira (9/5), a sua saída do PSB.

Embora já se soubesse do passado de Costa Leite, a reportagem detalhando que sua permanência no serviço de inteligência durou onze anos e que ele atuara como professor da Escola Nacional de Informações (Esni) acabou provocando um fato político.

Segundo o general Ivan de Souza Mendes – último chefe do SNI -, Costa Leite desfrutava de grande respeito junto à cúpula do órgão e, com isso, conseguiu evitar que ilegalidades fossem praticadas pelo serviço de informações.

Em entrevista à rádio CBN, Costa Leite disse que se sentiu desrespeitado publicamente em razão de críticas de pessoas do partido: “Eu não encontrei no partido o apoio que deveria ter encontrado”. Segundo ele, “apanhar de fora tudo bem, agora apanhar de pessoas de dentro do partido, isso eu não vou aceitar”.

O juiz aposentado mostrou-se ressentido por não ter sido ouvido.”Eu tenho todo o direito de achar que o partido deveria ter me escutado e a partir daí avaliar a situação”. Reafirmando não ter cometido qualquer ato de que possa se envergonhar, Costa Leite comparou a sua situação com a que envolve as denúncias de corrupção na privatização da Vale: “Isso sim me parece difamante. Difamante é roubar dos cofres públicos”

Sobre seu passado, o ex-presidente do STJ afirmou que “o fato de ter trabalhado no SNI não é motivo suficiente para eu não atue politicamente no PSB. Mas entendo quem pensa assim”

Costa Leite emitiu uma nota pública explicando as razões de sua desfiliação do partido de Anthony Garotinho. Leia:

Nota Pública

Quando coloquei meu nome à disposição do Partido Socialista Brasileiro, atendendo a reiterados convites, o fiz movido pelo sentimento de que duas décadas de experiência na Magistratura, culminadas com a Presidência do Superior Tribunal de Justiça, nacionalmente conhecido como o “Tribunal da Cidadania”, poderia contribuir para as discussões dos problemas que afligem a sociedade brasileira nos dias de hoje. A política, no meu entender, seria a trincheira natural dessa nova etapa de minha vida.

Ainda que alertado para o que poderia advir dessa decisão, surpreendeu-me a dimensão que ganhou, nos meios de comunicação, a notícia segundo a qual eu fui, no passado, funcionário do Serviço Nacional de Infomrações. Muitas vezes, alimentado por pessoas que sempre souberam desse fato e sobre o qual jamais manifestaram uma só palavra contra.

Em nota que encaminhei à Revista Época, afirmei, peremptoriamente, que esse fato, por si só, não constitui nada que desabone minha biografia. Jamais omiti isso de ninguém, jamais compartilhei de atos que ferissem a minha consciência jurídica. Nada tenho, em absoluto, do que me envergonhar.

Desejo e pretendo continuar na luta pela construção de um país mais digno – até porque a ação política de um cidadão não se esgota em um partido – mas, neste momento, prefiro apresentar o meu pedido de desfiliação do PSB. Tenho a convicção de que, com esse gesto, estarei contribuindo para a caminhada do candidato do partido à Presidência da República, Anthony Garotinho, a quem dirijo um agradecimento especial por suas palavras encorajadoras e almejo serenidade para que possa enfrentar as turbulências provocadas por aqueles que fazem da política não um fim, mas um meio para satisfazer interesses dissociados da grande maioria dos brasileiros.

Paulo Costa Leite

Brasília, 9 de maio de 2002.

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