Quinta-feira, 20 de junho.

Primeira Leitura: presidenciáveis não explicam política econômica.

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20 de junho de 2002, 9h48

Na lua

Só a queda do dólar é conseqüência da decisão do BC. Já a taxa de risco continua elevadíssima porque nada mudou na percepção dos investidores externos sobre o grau de solvência do país.

O Brasil continua tendo de captar US$ 55 bilhões por ano para fechar suas contas, num mundo mal saído da recessão e oferecendo em troca um mercado igualmente estagnado (para dizer o mínimo).

A coisa certa

O Banco Central fez o que é correto e, na reunião do Copom que terminou quarta-feira, manteve os juros básicos do país em 18,5% ao ano.

A novidade é a introdução do viés de baixa, que significa, formalmente, que os juros podem cair antes da próxima reunião, em julho.

Resposta

Reação do mercado: o dólar caiu 0,29% (para R$ 2,707), mas a taxa de risco do país disparou 5,25%, fechando em quase 1.382 pontos.

Pós-malanismo

No comunicado pós-reunião, o BC disse que “os dados recentes da inflação e as perspectivas para 2003 são favoráveis, mas o quadro conjuntural permanece adverso”.

Essa “conjuntura adversa” é uma tradução suave para a grave crise financeira e de confiança. Os presidenciáveis não conseguem dizer como farão a transição do malanismo para uma nova política econômica.

Mais uma

Lula disse quarta-feira que pode até negociar com o FMI, mas que não aceitaria ingerências, pois o Brasil já “tem maioridade” e não precisaria dos economistas do Fundo. Pode parecer apenas mais uma manifestação de soberania. Mas é um tremendo tiro no pé.

Pedras no caminho

Por quê? Porque a bravata é desnecessária. Para que se comprometer com uma coisa que, amanhã, se eleito, poderá ser forçado a descumprir? Deus só é Deus porque não cria uma pedra que não possa carregar…

A arte da negociação

Ademais, o FMI nunca impôs nada para ninguém. O organismo só age quando provocado e só empresta dinheiro se o tomador se comprometer com determinadas metas. Em geral, draconianas, é verdade. Por isso é preciso negociar.

A boa soberania

Teria sido muito melhor Lula dizer que, se eleito e se necessário, iria ao FMI, sim, mas jamais faria como a atual equipe econômica, que ofereceu considerar como despesa o investimento das estatais, dispositivo que está na raiz da crise de energia de 2001.

Poucas palavras

O FMI, por seu turno, falou para bom entendedor. Disse que, para ele, tanto faz quem vença as eleições, que o seu marco são os programas e, mais do que eles, o seu cumprimento. O recado para o PT é claro: programas, retórica e ação devem caminhar juntos.

Assim falou…Raul Velloso

“Se o Lula se pintar não sei de que cor; se mudarem as pesquisas eleitorais; se jorrar dólar do céu; só que eu estou esperando há muito tempo e não cai nada.”

Do economista e especialista em contas públicas, indagado sobre a possibilidade de o BC usar o viés de baixa e reduzir os juros.

A história se repete

“A intranqüilidade da sociedade é decorrente (…) da falta de uma presença permanente do Estado e de assistência às populações, que criam as fragilidades e abrem espaço para o crime organizado.” A frase, do comandante do Exército, general Gleuber Vieira, foi dita no dia 11 de junho de 2000, apenas um dia antes de o país assistir, aterrado, ao seqüestro do ônibus 174, na zona sul do Rio de Janeiro, que resultou na morte de duas pessoas.

Naquele dia, Fernando Henrique Cardoso afirmou que era necessário “pôr de lado quaisquer veleidades, sobretudo qualquer tipo de exploração política desses eventos” e “agir com mais energia para coibir esses atos que são francamente assustadores”. Pois bem. Passados dois anos e alguns dias, lá está FHC de novo a se assustar com o grau de violência do país e, em última instância, a pedir providências como se não fosse ele o governante capaz de tomá-las.

Já o ministro da Justiça, Reale Júnior, e o secretário de Segurança do Rio, Paulo Saboya, ocupam-se de veleidades políticas inúteis porque o Ministério Público não consultou o último antes de sua exemplar e impecável operação em Bangu 1. É inevitável concluir: o crime toma conta das grandes cidades brasileiras porque, em seu métier, Fernandinho Beira-Mar é muito mais organizado e eficiente do que FHC, Reale e Saboya em suas respectivas áreas de atuação.

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