Domingo, 16 de junho.

Primeira Leitura: nova estratégia dos EUA visa derrubar Hussein

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16 de junho de 2002, 8h46

Nova doutrina

A anunciada mudança da doutrina estratégica dos Estados Unidos – autorizando ataques preventivos a países hostis que possuam armas nucleares, químicas ou biológicas – está ligada à preparação americana para a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein.

Se depender do presidente George W. Bush, quanto antes, melhor. A tese foi desenvolvida em mais de um grande jornal americano nos últimos dias, em textos feitos sob a clara inspiração da Casa Branca.

Pegadas

Os sinais que apontam para um renovado interesse dos EUA em uma solução definitiva para a “ameaça iraquiana” podem ser encontrados também na expulsão de um diplomata do Iraque baseado nas Nações Unidas, sob acusação de espionagem, e no reforço dos efetivos americanos na região do Golfo.

Mantendo a pressão

Na sexta-feira, aviões da coalizão formada pelos Estados Unidos e pela

Grã-Bretanha bombardearam instalações militares iraquianas na zona de

exclusão aérea no sul do país. Foi o quarto ataque em um mês.

Tarefa difícil

Não há consenso no governo americano sobre a conveniência de uma invasão militar do Iraque – ou, pelo menos, tão cedo. Comandantes militares avisaram a Bush que a tarefa exigiria cerca de 200 mil soldados. Mais: depois da campanha no Afeganistão, levaria meio ano para preparar efetivos e armamentos para uma operação dessa envergadura.

Pelo cansaço

Em abril, a revista Primeira Leitura já apontava que uma das opções dos EUA para atacar o Iraque seria bombardear o país incessantemente, destruindo bases militares e outros alvos do governo.

Na visão americana, isso poderia tornar a vida dos iraquianos tão insuportável que Saddam Hussein acabaria sendo derrubado, provavelmente por seus próprios militares.

Ironia

Na turbulência dos primeiros dias depois dos atentados a Nova York e

Washington, em 11 de setembro do ano passado, vários dos principais

assessores de Bush discutiram sobre a oportunidade e a conveniência de

lançar um ataque contra o Iraque. O presidente ficou do lado daqueles que

recomendaram a contenção.

Fiapos de informação

Um das informações que alimentou a comunidade de defesa dos EUA teve origem nos serviços tchecos de inteligência: um dos seqüestradores do 11 de setembro, Mohammed Atta, tinha se encontrado, em Praga, com um agente do Iraque, em abril de 2001. Isso apontava para uma possível conexão iraquiana com os atentados terroristas a Nova York e Washington.

Falsas certezas

Recentemente, agentes da inteligência americana concluíram, depois de muito pesquisar, que não têm como confirmar se realmente houve tal encontro entre o seqüestrador e o agente iraquiano, em Praga.

Assim falou…George W. Bush

“Eu não sei do que eles estão falando.”

Do presidente dos EUA, em tom de contrariedade, ao ser informado de que chefes militares americanos estavam fazendo lobby contra qualquer invasão do Iraque a curto prazo.

Tudo é história

Parte da imprensa americana dedicou-se, nesta sexta-feira, a comparações entre o comportamento dos Estados Unidos em 1990, antes da Guerra do Golfo, e a postura atual de Bush, filho, na tentativa de prever quando o país lançará sua nova ofensiva militar para derrubar o ditador iraquiano, Saddam Hussein. Para alguns analistas, porém, não há como fazer esse paralelo.

No governo de Bush, pai, ficou evidente para o mundo que a guerra estava logo ali, virando a esquina. Agora, a se fiar na retórica dos falcões do Pentágono, o Iraque estaria pronto a, se ameaçado, desfechar um violento ataque contra os Estados Unidos, usando alguma arma de destruição em massa. A operação americana, assim, não poderia ser precedida de avisos ou de uma longa preparação.

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