Terça-feira, 16 de julho.

Primeira Leitura: crise de liderança dos EUA agrava colapso das bolsas

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16 de julho de 2002, 9h03

Crise de liderança

Os EUA vivem uma grave crise de liderança, que contribui para agravar o colapso das Bolsas no mundo todo. O presidente George W. Bush não consegue dar respostas políticas à onda de escândalos contábeis que assola o país.

Ele fez, segunda-feira, mais um discurso onde pregou responsabilidade nos negócios e atribuiu a culpa, indiretamente, aos excessos que seu antecessor, Bill Clinton, teria cometido. Para Bush, o país vive uma “ressaca” causada pela “euforia econômica dos anos 90”.

Inútil

A fala de Bush caiu no vazio. A Bolsa de Nova York, que operava em baixa de pouco mais de 2% antes do pronunciamento, chegou a cair mais de 5% depois do discurso, recuperando-se no fim do dia e fechando com queda de 0,52%. As principais Bolsas européias fecharam com quedas de mais de 5%.

O euro atingiu a paridade com o dólar pela primeira vez desde fevereiro de 2000. A crise de confiança que se instalou em Wall Street levou os investidores a fugir de ativos americanos.

Sinais claros

A credibilidade de Bush sofreu um duro golpe com a divulgação, no fim de semana, de reportagem do jornal The Washington Post mostrando que, dias antes de vender suas ações na Harken Energy, em junho de 1990, Bush recebeu um relatório detalhando a grave situação financeira da empresa petrolífera.

Isso caracteriza inside trading – negociação com informações privilegiadas –, um dos crimes econômicos mais graves do país.

Outros números

Uma pesquisa Gallup mostra, que apesar de manter alto índice de aprovação (73%), Bush pode ter sua popularidade ameaçada. Para 41% dos americanos, o terrorismo é a principal preocupação, mas 27% já apontam a economia, e 6% as fraudes contábeis.

Saída pela direita

A crise financeira e de credibilidade pode resultar na radicalização de Bush na campanha contra o terrorismo mundial. Nessas circunstâncias, a ofensiva militar contra o Iraque, já em preparação no Pentágono, pode receber, finalmente, o sinal verde da Casa Branca.

Recorde ignorado

Com o agravamento da situação externa, o mercado brasileiro praticamente ignorou o resultado da balança comercial na segunda semana de julho – US$ 712 milhões –, recorde do Real. A cotação do dólar fechou em alta de 1,70%, a R$ 2,855. Ao longo do dia, a alta chegou a 2,1%.

Mais pesquisas

A alta do dólar foi também embalada por boatos sobre a pesquisa Ibope que será divulgada na noite de hoje. Segundo operadores, os números indicariam novo avanço do candidato da Frente Trabalhista à Presidência, Ciro Gomes, que apareceria isolado em segundo lugar.

Assim falou… George W. Bush

“A América precisa se livrar da ressaca que temos agora por causa da (…) farra econômica que vivemos.”

Do presidente dos EUA, jogando a culpa pela crise financeira americana em cima de seu antecessor, o democrata Bill Clinton.

Ironias da história

Quando representantes dos EUA, União Européia, Rússia e ONU se reunirem hoje, em Nova York, para discutir propostas para a crise no Oriente Médio, o governo de George W. Bush vai defender que Yasser Arafat seja transformado em um presidente com poderes esvaziados, em um Estado palestino de feições parlamentaristas.

A idéia, segundo a revista Newsweek, tem a simpatia do secretário de Estado americano, Colin Powell. A hipocrisia americana beira o escárnio: numa região onde a ditadura é a norma — a Arábia Saudita, por exemplo, apenas para citar um aliado dos EUA —, a Casa Branca estipula que a Autoridade Palestina, que não conta nem com fronteiras definidas, terá de ser mais democrática que os países árabes constituídos…

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