Quarta-feira, 7 de julho.

Primeira Leitura: FHC torna pública a inoperância do governo.

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10 de julho de 2002, 12h59

Vitória do crime

O pedido de demissão de Miguel Reale Jr. desencadeou uma crise no Ministério da Justiça e provocou a saída de toda a cúpula da pasta, em desagravo ao ex-ministro. Pediram demissão o diretor-geral da Polícia Federal, Itanor Carneiro, os secretários nacionais de Justiça e de Segurança Pública e membros dos escalões inferiores.

Reale fez pesadas críticas ao procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, que decidiu não apresentar o pedido de intervenção federal no Espírito Santo. “O crime organizado deve estar festejando”, disse.

O engavetador

Reale afirmou que a força-tarefa idealizada para atuar no Estado não conseguirá combater o crime organizado infiltrado nos três Poderes e acusou Brindeiro de “atuar politicamente” para “engavetar” o caso.

Inoperância

O presidente Fernando Henrique Cardoso deu uma declaração que torna pública a inoperância do governo na área: segurança é um dos problemas cuja solução parece mais “inatingível”, disse.

Armado

O candidato tucano à Presidência, José Serra, defendeu uma política mais “agressiva” do governo federal no combate à insegurança. A declaração foi feita em Corumbá (MS), momentos depois de empunhar uma arma Glock 9 milímetros de um policial.

Um dia infeliz

FHC teve um dia infeliz. Não contente em considerar a solução para a criminalidade inatingível, o presidente criticou, no Rio, os presidenciáveis que defendem um crescimento maior do país, sem uma poupança interna que o garanta.

Enquanto isso, no Mato Grosso do Sul, seu candidato, José Serra, prometia crescimento entre 4% e 5%.

Uma gestão infeliz

Segurança e crescimento, de fato, não são especialidades de FHC. Durante suas duas gestões, o Brasil teve um crescimento médio de apenas cerca de 2% ao ano.

Debate exótico

No mesmo evento que teve a presença de FHC, de comemoração de oito anos do Real, o cientista político Hélio Jaguaribe disse que o Brasil precisa crescer 7% ao ano, nos próximos 20 anos, para conquistar independência perante os organismos internacionais.

Para o ex-ministro do Trabalho Edward Amadeo, no entanto, o país simplesmente não pode crescer mais de 4% ao ano sem gerar inflação. Oito anos de malanismo explicam tão exótico debate.

Ministro exótico

O ministro da Fazenda, Pedro Malan, não conseguiu fazer o país crescer, mas previu alta do PIB de até 5% em 2003, quando não estará no comando da economia. Como ele pode prever algo sobre a atividade no ano que vem? Talvez com a mesma mágica com que estendeu a meta de 3,75% de superávit primário até 2005…

Assim falou…Fernando Henrique Cardoso

“Falta muito, e falta o que parece mais inatingível, a segurança, a segurança física das pessoas. E também a segurança da nossa economia”.

Do presidente da República, no mesmo dia em que a cúpula do Ministério da Justiça pediu demissão em desagravo ao ex-ministro Miguel Reale Junior, que havia renunciado na segunda. A crise foi resultado da decisão de FHC e do procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, de engavetar o pedido de intervenção federal no Espírito Santo, apesar dos indícios de infiltração do crime organizado no aparelho de Estado.

Tudo é história

A Argentina está em perigo, afirmou o presidente Eduardo Duhalde, enquanto desempregados se preparavam para mais uma manifestação na Casa Rosada. Na Bolívia, o líder dos plantadores de coca, Evo Morales, passou para o segundo turno da eleição presidencial, embalado pelo voto da população mais pobre, que depende da coca para sobreviver.

No Peru, todos os ministros do presidente Alejandro Toledo, decidiram entregar os cargos. Toledo só pretendia mexer no ministério no fim do mês e enfrenta acentuada queda de popularidade em seu primeiro ano de mandato, além de uma onda de manifestações populares.

Os três países, mais o Brasil, compõem o quadro de uma América Latina devastada por crises. Mas são crises de naturezas diversas, embora combinadas. Daí porque a velha visão da Cepal (Comissão Econômica para América Latina), típica dos anos 60, de uma América Latina única, é incapaz de apresentar soluções.

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