Estado de alerta

Criminalidade no Brasil já se assemelha à da Colômbia

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19 de janeiro de 2002, 8h33

O forte impacto provocado pelo sequestro do prefeito de Santo André, Celso Daniel, está movimentando toda a polícia paulista e equipes da Polícia Federal.

De acordo com o comandante-geral da PM paulista, coronel Rui César Melo, os policiais estão orientados a fazer blitze, fechar acessos às estradas, revistar favelas e monitorar sítios suspeitos.

O cerco à zonas sul e oeste deve ser mantido pelo menos até a madrugada de segunda. A polícia acredita que, se Celso Daniel estiver sendo mantido refém nessas regiões, será encontrado até esta segunda-feira.

A proximidade das eleições associada ao pânico gerado pela multiplicação dos sequestros em São Paulo está levando os governos federal e estadual a agir aflitivamente. Mas a constatação imediata é a de que o sistema policial não está aparelhado para enfrentar o problema.

O prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), foi seqüestrado no final da noite de sexta-feira (18/1) após sair de uma churrascaria na região dos Jardins, na capital paulista.

De acordo com informações da Polícia Militar, Daniel, 50, estava em uma Pajero blindada, dirigida por um amigo, o empresário Sérgio Gomes da Silva. O carro foi perseguido por outros três carros, uma blazer, um Tempra e um Santana.

No bairro do Sacomã (zona sul de São Paulo), o carro onde estava o prefeito foi fechado pela quadrilha. Houve disparos. Eles atingiram os pneus e os vidros traseiro e dianteiro, na direção do motorista.

Homens armados desceram dos carros e arrancaram Celso Daniel da Pajero. O empresário que o acompanhava foi deixado no local.

A notícia gerou uma série de reuniões e trocas de telefonemas entre o presidente da República, o ministro da Justiça, governador paulista e as lideranças do PT. A Polícia Federal está no caso, juntamente com a polícia paulista.

Até a manhã deste domingo nenhum contato foi feito pelos sequestradores. A família autorizou a divulgação do sequestro. A grande repercussão e a revolta gerada, supõe-se, devem estar intimidando os criminosos.

Em entrevista à rádio CBN, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) afirmou que os tiros disparados contra o carro em que estavam o prefeito Celso Daniel e seu amigo poderiam ter matado os dois se os vidros não fossem blindados.

Suplicy acredita ainda que o seqüestro do prefeito pode ter finalidade política, já que o empresário que acompanhava Daniel foi deixado no local, e não descarta uma tentativa de homicídio.

“Poderia ter sido tentativa de homicídio, como foi com o Toninho (ex-prefeito de Campinas, assassinado no ano passado). E isso evidentemente preocupa o PT”, disse.

A Divisão Anti-Sequestro (DAS) da Polícia Civil foi acionada, mas enquanto nenhum contato for feito com a família, as equipes especializadas não poderão agir, pois oficialmente o prefeito está “desaparecido”. O secretário de Segurança Pública, Saulo de Castro, já foi avisado e está acompanhando as investigações.

Celso Daniel é prefeito de Santo André pela terceira vez, além de ser o coordenador do programa de governo do PT à Presidência. Professor universitário da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, desde 1982, coordenou o curso de economia dessa universidade no período de 1987 a 1989, dando aulas também no mestrado e no curso de administração pública da FGV.

Ameaças

Pelo menos 15 prefeitos petistas no Estado de São Paulo e senadores da legenda foram ameaçados de morte por carta em novembro do ano passado por um grupo que se denominava “Farb” (Frente de Ação Revolucionária Brasileira). Na carta, enviada inclusive a Celso Daniel, o grupo reivindicava a autoria do assassinato de Antônio da Costa Santos (o Toninho do PT, ex-prefeito de Campinas).

Na correspondência, a “Farb” dizia ter nascido em 1998, na Grande São Paulo, para acabar com “políticos ligados à esquerda que estão se aproximando de partidos de centro-direita”. A suposta milícia, em uma carta confusa e cheia de erros de português, disse ter nascido com sete pessoas e que contava, em novembro do ano passado, com cerca de 50 militantes ativo, dispostos a “lutar por um Estado justo e sem desigualdades”.

A carta chegou aos prefeitos em 13 de novembro, depois da tentativa de seqüestro de Airton Luiz Montanher, prefeito de Ribeirão Corrente (428 km ao Norte de São Paulo). Na ocasião, um grupo fortemente armado invadiu a fazenda em que Montanher estava e não conseguiu capturá-lo. A polícia interveio a tempo e evitou a captura.

O seqüestro do prefeito de Santo André, Celso Daniel – assessor do presidenciável do PT, Luiz Inácio Lula da Silva -, mostra que, diante de uma polícia inepta e de um governo que não consegue dar uma resposta política ao crime organizado, os bandidos estão deixando claro que podem seqüestrar, no limite, qualquer pessoa. Só estão a salvo, eventualmente, meia-dúzia de privilegiados que apenas saem às ruas protegidos por uma verdadeira brigada armada.

Na coluna distribuída pela revista República/Primeira Leitura, o jornalista Marcelo Mendonça aponta a semelhança da escalada do crime vigente no Brasil com o que ocorre há muitos anos na Colômbia. Não por acaso. Nos dois casos se percebe a tentativa de dar cores políticas para práticas nada ideológicas.

Lá, o grupo guerrilheiro mais poderoso, atualmente, autodenomina-se Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

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