Portas fechadas

A Internet perdeu: Museu do Spam encerra suas atividades

Autor

  • Omar Kaminski

    é advogado e consultor gestor do Observatório do Marco Civil da Internet membro especialista da Câmara de Segurança e Direitos do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e diretor de Internet da Comissão de Assuntos Culturais e Propriedade Intelectual da OAB-PR.

12 de fevereiro de 2002, 15h21

A Internet acaba de perder um espaço divertido, e que ao mesmo tempo tratava de um assunto muito sério. Depois de dez meses de funcionamento (foi inaugurado sugestivamente no dia 1º de abril de 2002), o Museu do Spam, sem alarde, fechou suas portas.

O “curador”, um web designer de 27 anos que prefere se manter no anonimato, disse que seu “senhorio” – que hospedava sua página sem ônus, sucumbiu à pressão daqueles que não gostaram da “honra” de figurar no “acervo” de spammers notórios.

“Queria ver se dentro de algumas semanas eu registrava um domínio próprio. Isso iria permitir o retorno do Museu”, disse o curador. “Com essa independência, poderia instalar gerenciadores de conteúdo e delegar responsabilidades a colaboradores. Mas isso gera custo financeiro e demanda tempo, e não estou me permitindo este luxo no momento”, lamentou.

Ele descreveu um fato curioso: no momento em que apagava as páginas do Museu e colocava a página de despedida no lugar, percebeu que a caixa postal do site estava com mais de 250 mensagens de erro. Todas provinham de contas inválidas da lista de um spammer que, naquele momento, por vingança, enviava um spam forjado, com o e-mail do Museu no campo de retorno. Veja o teor da mensagem:

Olá, Você costuma receber spams como este? Sim? Saiba que estou divulgando o meu site anti-spam, e como sou novo, gostaria muito de aparecer e encher a paciência dos outros, inclusive a sua! Preciso muito da sua colaboração, para que eu possa crescer e me tornar famoso. Acesse o meu site. Eu apreciaria muito a sua visita. http://museudospam.subversao.com

“Até agora ainda estão chegando mensagens de erro”, disse o curador. “Isso me faz lembrar que meu anonimato foi acertado, porque se um spammer quisesse, poderia destruir a minha imagem pessoal ou profissional na Internet.”

Como a luta simbólica do Museu do Spam contra as mensagens eletrônicas não solicitadas é também de todos os usuários insatisfeitos, espera-se que a exibição possa continuar em outro servidor, pois representa uma parcela da história da Internet brasileira.

Leia a íntegra do comunicado deixado no site:

“Não foram os spammers que ganharam.

Foi a internet que perdeu.

Caros visitantes, este Museu encerra suas atividades. O detentor do domínio Subversao.com, que não tem nada a ver com o conteúdo deste Museu, embora tenha cedido gratuitamente o espaço para que ele funcionasse, sofria constantes pertubações de gente incomodada em ver os nomes de suas empresas expostas aqui.

Sinal que o Museu atingiu um dos seus objetivos: Expor quem não dispõe do menor respeito aos usuários do e-mail.

Este Museu também tem muitos outros objetivos realizados: Em 10 meses de existência, reuniu boa quantidade de informação sobre a prática ilícita do spam. Várias vítimas de spam encontraram aqui neste Museu informação sobre como denunciar os spams que recebiam e uso de ferramentas para bloqueio. Foram identificados vários spammers notórios que infestam a internet brasileira com seus abusos. E vários golpes que usavam o spam como meio foram expostos.

Entretanto, o Museu falhou no seu ideal: Encontrar uma solução definitiva para o abuso do spam. Esta solução, infelizmente, não está ao alcance de ninguém, já que o spam existe apenas por que pessoas destituídas de qualquer senso comum querem tirar vantagem do formato aberto e amigável do e-mail.

E ainda não existe solução para a falta de senso humano.

Este Curador se considera um ativista anti-spam. Que num futuro menos atribulado, quer novamente investir energia numa maneira de acabar com o spam que nos assola. Pode ser que o Museu do Spam ressurja, ou talvez não, desde que seja em função de ações mais efetivas contra o spam.

Obrigado a todos os visitantes e colaboradores, que tanto ajudaram este Museu a funcionar.

E obrigado também aos spammers. Pois se não fossem eles, eu não teria tido a oportunidade de conversar e trocar idéias com tanta gente boa, pessoas estas que assim como eu, são diariamente desrespeitadas no seu direito elementar e constitucional à privacidade.

[ ]s!

Curadoria

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Leia também:

Entrevista: ‘curador’ do Museu do Spam fala sobre o spam eleitoral. (06/10/02).

Autores

  • é advogado, diretor de Internet do Instituto Brasileiro de Política e Direito da Informática (IBDI) e membro suplente do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).

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