Terça-feira, 27 de agosto.

Primeira Leitura: operação destrava-crédito do país teve sucesso.

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27 de agosto de 2002, 12h06

Sucesso

Um sucesso absoluto. Foi assim que o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, classificou a reunião com representantes de 16 dos mais importantes bancos internacionais para tentar restabelecer o crédito ao Brasil. “O resultado superou as nossas expectativas”, afirmou segunda-feira, durante entrevista à imprensa na sede do Federal Reserve (Fed, o banco central os EUA) de Nova York, acompanhado do ministro da Fazenda, Pedro Malan.

Segundo Fraga, o mais importante foi a decisão das instituições de manter o nível geral de negócios com o Brasil, e não apenas as linhas de crédito de comércio exterior.

Destrava-crédito

Independentemente da retórica vitoriosa, a operação “destrava-crédito” para o país teve, sim, algum sucesso, a se levar em conta a reação do mercado. O dólar fechou em baixa de 0,57%, a R$ 3,095, segunda-feira, também ajudado por um novo leilão de linhas de crédito para exportadores feito pelo Banco Central.

Destrava-Serra

Outra razão para o otimismo dos operadores é a expectativa de crescimento do candidato José Serra (PSDB) nas pesquisas. Hoje sai Ibope e Vox Populi. Amanhã, o levantamento da CNT-Sensus. Alguns juravam que os resultados confirmariam queda nas preferências pelo candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, e que o tucano ficaria com parte desses votos.

2003 melhor?

Segundo o diretor do BC, Luiz Fernando Figueiredo, Armínio e Malan mostraram aos bancos os números que indicam que a economia está promovendo um forte ajuste de suas contas externas e que a necessidade de financiamento em 2003 será entre US$ 10 bilhões e US$ 15 bilhões menor do que os US$ 50 bilhões previstos anteriormente.

O problema: a recessão em curso explica a melhora dos números, como no caso da balança comercial, que já acumula superávit de US$ 5,064 bilhões no ano, graças à redução das importações, principalmente. Mas sem dúvida esse ajuste distancia o Brasil da beira do abismo na visão do mercado — leia-se, de um cenário de argentinização. Em 12 meses, a balança já rendeu R$ 7 bilhões. Pode ser um sinal de um 2003 menos pior.

Se não houver guerra…

Para o Brasil e para o mundo, porém, não bastam indicadores domésticos para esperar um 2003 melhor. Se houver guerra dos Estados Unidos contra o Iraque, recessão vai virar regra, também embalada por nova crise do petróleo. Ontem, assessores jurídicos do presidente George W. Bush concluíram que ele pode atacar o Iraque sem autorização específica do Congresso do EUA.

Segundo o jornal The Washington Post, a Casa Branca considera que a aprovação dos parlamentares é desnecessária porque, entre outras razões, ainda estaria em vigor a resolução de 1991 que permitiu a George Bush (pai) iniciar a Guerra do Golfo. O vice-presidente americano, Dick Cheney, voltou a defender o plano do governo de derrubar o regime de Saddam Hussein com uma “ação preventiva”.

Assim falou….Ciro Gomes

“Eu digo de novo: não há força humana que me leve a ser domesticado para engolir os fundamentos de um programa que entregou o Brasil ao interesse financeiro internacional. Antes disso, serrem o meu braço”.

Do presidenciável da Frente Trabalhista, ao retomar a retórica belicista apesar dos conselhos que recebeu de sua assessoria — e segundo a imprensa, aceitou — de tornar seu discurso menos agressivo e explosivo.

Tudo é história

O governador do Acre, Jorge Viana (PT), defendeu segunda-feira a união entre PT e PSDB para governar o país, caso Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou José Serra (PSDB-PMDB) vençam a eleição. “Temos de estabelecer um diálogo”, disse, de olho no apoio tucano ao PT no segundo turno das eleições.

A busca de uma união entre partidos de centro-esquerda para evitar a ascensão de governos de direita foi inaugurada na histórica reeleição do governador Mário Covas, em 1998, contra Paulo Maluf, do PPB. A então candidata derrotada no primeiro turno, Marta Suplicy (PT), aderiu à campanha de Covas, sem titubear, apesar do discurso antigovernista de seu partido. Para surpresa da imprensa, foi prontamente seguida por sindicalistas da Central Única dos Trabalhadores (CUT), especialmente a ala do ABC, ligada umbilicalmente à Luiz Inácio Lula da Silva. Desta vez, não seria Maluf o ponto de união do centro-esquerda, mas Ciro Gomes (PPS), que aglutinou toda a direita em torno de seu nome.

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