Quinta-feira, 22 de agosto.

Primeira Leitura: Tasso Jereissati mostra apoio ostensivo a Ciro.

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22 de agosto de 2002, 9h42

Gol contra

Estava tudo organizado para um grande evento pró-Ciro em Fortaleza: o candidato da Frente Trabalhista posou para fotos com Felipão e astros da seleção pentacampeã, como Kaká, Roberto Carlos e Cafu, que concordaram em participar dos programas de Ciro no horário gratuito. Só esqueceram de combinar com a seleção paraguaia, que acabou vencendo o jogo.

Cristianização

Artífice da pajelança de quarta-feira em Fortaleza, o tucano Tasso Jereissati esperava capitalizar a vitória da seleção para Ciro. Seu apoio ostensivo ao afilhado político ficou sacramentado em carta enviada à direção do PSDB. A estratégia de Tasso é cristalina: ele lidera uma tentativa de “cristianização” de Serra.

Vocabulário político

O termo cristianização surgiu em 1950: Cristiano Machado, lançado candidato à Presidência pelo PSD, foi abandonado por seus correligionários, que preferiram apoiar Getúlio Vargas, que acabou eleito.

Dormindo com o inimigo

A estratégia do cacique tucano tem duas vertentes. Se Ciro Gomes vencer a eleição e chegar ao Planalto, Tasso tornar-se-á o líder natural do PSDB e jogará o partido no colo do novo presidente. Se Ciro perder, Tasso deve estimular a dissidência, jogando para rachar o partido.

Oligarquia

Ciro disse quarta-feira que Serra é o candidato “da oligarquia”. Deve ter esquecido do beija-mão protagonizado com ACM, na Bahia.

No divã

Para FHC, não há crise no Brasil, a crise seria da “percepção da economia” — uma “dissonância cognitiva”. Segundo ele, há “uma defasagem entre o que se passa e o que se informa e se percebe que está passando”.

Trégua

Os indicadores financeiros quarta-feira sugeriram uma trégua ao Brasil. O dólar voltou a cair, também ajudado por uma intervenção do Banco Central no câmbio, e fechou valendo R$ 3,08 (-0,64%).

A taxa de risco do país, que na terça havia subido, recuou 6,69%, para 1.882 pontos básicos. O C-Bond, principal título da dívida brasileira, teve valorização de 3,72%.

Visão do mercado

Não há um fator único a influenciar os negócios, mas todos levam operadores a considerar a possibilidade de o dólar estar caro demais – grandes bancos já estariam vendendo a moeda no mercado à vista.

Existe, no mercado, a leitura de que o horário eleitoral gratuito marca o início de uma nova fase nesta eleição, na qual o candidato José Serra (PSDB) teria chances de recuperação.

Enquanto isso…

…na economia real, a renda média dos trabalhadores continuou caindo, recuando 3,1% em junho, na comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo dados do IBGE.

No primeiro semestre, a retração foi de 4,3%. O desemprego manteve-se estável em 7,5% em julho. No mesmo mês do ano passado, havia ficado em 6,2%. Em São Paulo, o índice de desemprego passou de 8,5%, em junho, para 8,9%, em julho.

Assim falou…FHC

“Se punhalada houve, foi pela frente”.

Do presidente da República, ao ser perguntado sobre se considerava a adesão de Tasso Jereissati a Ciro Gomes uma punhalada nas costas. Segundo FHC, “Tasso sempre diz o que vai fazer”.

Tudo é história

Desde 1970, quando a ditadura capitalizou politicamente a conquista do tricampeonato de futebol, não se tentava fazer dos triunfos da seleção patrimônio de apenas uma parte do Brasil, a direita.

A operação que Tasso Jereissati armou em Fortaleza, para beneficiar Ciro Gomes, não é diferente, na essência, da liderada pelos militares no governo Médici. Que o ardil tenha fracassado nos pés de um jogador paraguaio foi uma concessão do acaso à democracia e aos bons costumes políticos.

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