Terça-feira, 30 de abril.

Primeira Leitura: política de FHC prejudica candidatura de Serra

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30 de abril de 2002, 9h02

Doença eleitoral

A política econômica do governo Fernando Henrique Cardoso faz mal à saúde da candidatura de José Serra ao Planalto. A pesquisa CNT-Sensus, divulgada segunda-feira (29/4), mostra que o ex-ministro da Saúde de 19,1% (março) foi para 16,1%, enquanto Lula pulou de 32,1% (março) para 37,9%.

Causa e efeito

O levantamento captou a influência dos aumentos das tarifas de energia elétrica e dos combustíveis na popularidade de FHC. Pela primeira vez, desde maio de 2001, o governo apresentou queda nas avaliações positiva (de 28,1% em março para 25,6% em abril) e regular. A avaliação negativa subiu de 29,1% para 32,6%.

Ligação direta

Se ainda faltassem evidências de que a fraqueza do candidato tucano é diretamente proporcional aos erros do governo FHC, a pesquisa CNT-Sensus mostra que Serra tem um eleitorado espontâneo (7,3%) muito próximo dos que dizem votar apenas no candidato de FHC (7,6%).

Não é comigo

O prejuízo eleitoral não parece abalar a equipe econômica do governo FHC. Segunda-feira, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, fez questão de dizer que a “economia não deve ser gerida ao sabor das pesquisas”. Ou seja: apesar de o país caminhar para uma recessão brava, a política econômica não muda.

Sem entusiasmo

Os bancos de investimento Merrill Lynch e Morgan Stanley reduziram suas recomendações de compra de títulos brasileiros. O C-Bond, principal título da dívida, caiu 1,18%, e a taxa de risco do Brasil subiu 1,47%. Os bancos informaram que a decisão se deveu ao crescimento de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas.

À distância

A questão é que os tais fundamentos da economia do governo FHC estão perdendo influência na avaliação do mercado. Este já está olhando para a frente, para o próximo presidente.

Precipitação

O Morgan chegou a calcular o impacto da eventual vitória petista: aumento da taxa de risco em 5 pontos. O principal assessor econômico de Lula, Guido Mantega, lembrou que, mesmo com Lula há meses em primeiro lugar, o governo obteve sucesso nas vendas de títulos no exterior.

Responsabilidade

Uma coisa é certa: a relativa estabilidade que vive o Brasil, hoje (e as condições em que vai entrar em 2003), está inteiramente posta nas mãos de Lula e de Serra. Se agirem com responsabilidade, o Brasil tem um futuro muito distante das vizinhas Argentina e Venezuela.

Assim falou…José Serra

“A economia não deve ser um altar de sacrifícios permanentes.”

Do senador e candidato tucano à Presidência, em almoço na Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil, em São Paulo, numa crítica indireta à política econômica do ministro da Fazenda, Pedro Malan.

Estava escrito

Uma das principais pedras no caminho da candidatura governista é a festa dos reajustes da gasolina, protagonizado pela Petrobras. Primeira Leitura já alertava, em 18 de fevereiro, que a empresa usaria sua condição de monopólio para impor mais e mais aumentos – “Preço da gasolina vira farsa nas mãos de neoliberais”, dizia a manchete do site.

No dia 3 de abril, a estatal anunciou o terceiro aumento do ano, de 10,8% nas refinarias, e uma surpresa: a correção de preços seria quinzenal, sempre que o preço internacional variasse 5% ou mais.

A adoção do reajuste automático – o velho “gatilho” dos tempos da economia indexada – foi combatida de pronto pelo site, que ficou sozinho na crítica. Somente no dia 5 de abril, a opinião pública pareceu acordar. Economistas, políticos e empresários passaram a questionar a política da empresa.

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