Quinta-feira, 25 de abril.

Primeira Leitura: PSDB e PMDB têm dificuldades para fechar chapa.

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25 de abril de 2002, 9h14

Turbulência de campanha

O PSDB e o PMDB estão com dificuldades para fechar a chapa que disputará a eleição presidencial em outubro. Um veto indireto do candidato tucano, José Serra, ao nome do deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) para ser o vice na chapa acirrou os ânimos entre os líderes dos partidos na Câmara.

Queixas

Na noite da última terça-feira, o presidente Fernando Henrique Cardoso chamou a cúpula peemedebista para uma conversa no Palácio da Alvorada. Ouviu reclamações sobre os vetos tucanos e ao comportamento do ministro Pedro Malan (Fazenda), que estaria “atrapalhando” Serra.

Mais que o vice

O problema principal entre PSDB e PMDB, na verdade, é a composição da aliança nos Estados. As cúpulas dos dois partidos se reuniram quarta-feira e decidiram atuar regionalmente para aparar as arestas.

Saudável ceticismo

Apesar dos desentendimentos regionais, é difícil acreditar na possibilidade de que o PMDB vá abrir mão de indicar o vice de Serra depois que a posição de aliado preferencial na aliança governista lhe caiu no colo, na esteira da aventura chamada Roseana Sarney, protagonizada pelo PFL.

O PMDB e Serra

Afinal, se o partido faz uma aliança quando o candidato está com 7% de intenções de voto nas pesquisas, romperia o acordo quando ele chega a 19%? O PMDB pode ser acusado de tudo, mas sabe fazer contas.

Voz e veto

Mais: não é admissível o argumento de que não cabe a Serra interferir na escolha do peemedebista que será seu companheiro de chapa. Isso não é um casamento arranjado, em que o noivo só conhece a noiva na hora da cerimônia.

O tucano deve ter, sim, voz nesse processo, e o PMDB não pode fazer dessa indicação um capítulo de sua guerrilha interna.

Por falar em pesquisas…

…há números demais rondando o eleitor. A divulgação de levantamentos de intenção de voto tem se tornado excessiva e excessivamente apressada. O resultado é uma profusão de dados inúteis.

O público – incluído nele agentes do mercado financeiro e da economia real – fica sem saber se, afinal, tal ou qual candidato melhorou ou piorou seu desempenho. Muitas vezes, descobre ter perdido tempo analisando dados que mostram, apenas, um cenário inalterado.

Marketing paralelo

Os institutos descobriram que as pesquisas eleitorais têm espaço garantido na imprensa. Em conseqüência, não raro são utilizadas apenas para promover quem as realiza.

Sangria sem fim

O presidente argentino, Eduardo Duhalde, acaba de perder uma grande oportunidade. Poderia ter aproveitado a renúncia de seu ministro da Economia, Jorge Remes Lenicov, maior entusiasta de um acordo com o FMI, para tentar se descolar do organismo e buscar uma saída para a crise econômica do país.

Optou por um plano econômico baseado em cortes e mais cortes de gastos. Detalhe, antes de divulgado, o texto foi revisado por ninguém mais que o ministro demissionário.

Assim falou…Chris Patten

“Me parece que um dos aspectos menos agradáveis da integração européia está entrando pela porta.”

Do comissário europeu para Relações Exteriores, no momento em que o líder da extrema direita francesa, Jean-Marie Le Pen, ingressou no plenário do Parlamento Europeu, ontem. Candidato ao segundo turno da eleição presidencial na França, Le Pen foi vaiado ao fazer seu discurso.

Tudo é história

O espanto com que a mídia encara o resultado da eleição francesa tem um quê de hipocrisia. Como pode um país amante da liberdade dar votos a um político xenófobo, uma mente de raciocínio político primário, como Jean-Marie Le Pen? Essa pergunta serve bem para quem toma os eflúvios da Revolução Francesa, a liberdade, fraternidade e igualdade do século 18 como molde definitivo do comportamento político dos franceses.

Mas na Segunda Guerra Mundial, a França foi o único país ocupado pelos nazistas a ter um governo formalmente colaboracionista, o governo de Vichy. O marechal Philippe Pétain, à frente de Vichy, não foi um acidente histórico-político. Le Pen não é um acidente político-eleitoral.

Se sua vitória sobre o socialista Lionel Jospin significa alguma coisa – e significa -, a mídia deveria, em vez de se perder em espantos, perguntar-se sobre a incapacidade de a Europa, e não apenas a França, reformular o contrato social para impedir que a tensão entre mão-de-obra e capital rendam votos para a extrema direita.

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