Problemas hídricos

Conheça os problemas sérios de abastecimento de água na China

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18 de abril de 2002, 12h53

A China construiu há mais de 1.400 anos um canal de navegação ligando o norte seco ao sul produtivo, conectando cinco grandes rios, Haihe, Huanghe, Huaihe, Qiantang e Yangtsé. Chegou a ter 1.794 quilômetros de extensão. Foi iniciado por volta de 500 a.C. para levar água do Rio Yangtsé para o norte. O Grande Canal foi o responsável pelo progresso nas Dinastias Tang, Yuan, Ming e Qing. Obras desta amplitude, iniciaram o processo de busca das reservas hídricas nas regiões que hoje sofrem com a seca.

A população em 745 d.C. era de 43 milhões, e hoje, 1.257 anos depois, chega perto de 1 bilhão e 300 milhões de habitantes. Na geografia da água, existem duas chinas. O sul úmido, incluído a bacia do Yangtsé, e a população de 700 milhões. O norte árido, com o Rio Amarelo, Liao, Hai e Huai, e 500 milhões de pessoas.

O país depende das terras irrigadas para 70% dos grãos produzidos. Foram intensamente aplicados, nas últimas décadas, projetos de canalização de córregos e rios, com banhados e pântanos sendo ocupados com plantações de arroz, milho, soja e trigo. As áreas verdes sumiram da beira dos rios e lagos. O objetivo era plantar e colher o suficiente para alimentar o povo. Saíram de 130 milhões de toneladas de grãos em 1953 e em 40 anos colheram 500 milhões, entre arroz, milho, trigo e soja.

O povo come e a conta foi debitada no caderno da natureza. Agora, falta água em dois terços das cidades e das 617 principais, 300 possuem problemas sérios de abastecimento de água. As reservas hídricas, rios, lagos e represas, de 90% das cidades estão contaminadas. A “Lei da Água”, foi rigorosamente revista na Conferência Consultiva Política do Povo e no Congresso Nacional em 2001.

O especialista chinês em recursos hídricos Chen Bangzhu revelou que a China está entre os 13 países mais pobres em recursos hídricos do mundo. E a distribuição desta riqueza no território é desigual. O sul possui 80% da água do país. Para abastecer o desenvolvimento e o progresso do norte e nordeste, o governo aprovou a construção de um magnânimo projeto. Vão levar água do sul para o norte, através de três canais. O canal partindo do leste terá 1.150 quilômetros de extensão, levando cerca de 6% das águas do baixo Yangtsé, para as províncias de Shandong, 87,3 milhões de pessoas e à parte leste de Hebei, com 64,9 milhões de habitantes.

No canal central, de 1.650 quilômetros vão correr as águas do rio Hanjiang, afluente do Rio Yangtsé para os municípios centrais de Beijing e Tianjin, para o consumo urbano e aliviar a perene situação de seca assolando o meio-ambiente regional, aonde vivem 12,6 e 9,5 milhões de pessoas, respectivamente (1). No canal oeste passarão as águas dos rios Dadu, Yalong e Tongtian, do alto Rio Amarelo, em direção às regiões autônomas de Ningxia, com 5,2 milhões, Mongólia Interior, com 23,1 milhões e à província de Shanxi, aonde moram 31,1 milhões de habitantes.

O objetivo é suprir com 48 bilhões de metros cúbicos de água essas regiões do norte e nordeste da China, reduzindo a dependência das águas do rio Amarelo e também das reservas subterrâneas, que baixam anualmente, somente na região de Beijing, cerca de dois metros anualmente. A poluição é outro grave problema. Somente em 1999, segundo dados do MRH, dum total de 60,6 bilhões de metros cúbicos de esgotos domésticos e industriais, 80% foi jogado aos rios e lagos, sem tratamento algum. A erosão do solo afetou 3,67 milhões de quilômetros quadrados, 38% do território do país. Existem 9,2 bilhões de metros cúbicos de água em reservas subterrâneas, mas em 164 áreas elas se esgotaram.

Arnt Pettersen, presidente da empresa Interconsult Ensis, com sede na Noruega, possui experiência em mais de 40 países, entre eles Zimbabwe, Moçambique e Uganda. A Ensis monitora a qualidade da água, ar, solo e meio-ambiente através de um software, que posicionado em diversos locais, capta e envia os dados a uma central que prevê as situações que irão ocorrer no futuro próximo. Agora estão implantando o sistema na cidade de Yantai, província de Shandong.

O Governo Central escolheu-a para sediar o programa-piloto do projeto na China. Com aprofundado estudo sobre a qualidade da água e do ar, um inventário sai a cada hora, dos poluentes da água e do ar, estabelecendo assim um modelo para a possível dispersão destas concentrações.

Segundo Arnt, que também é professor honorário da Universidade Centro-sul de Hunan, de recuperação e manutenção do meio ambiente, a China possui algumas opções para poupar a preciosa água. Uma delas é iniciar a cobrança pelo tratamento de água, que até hoje, o país ainda é dos poucos aonde a população não paga pela água tratada, a outra, é ensinar a população a poupar, tarefa essa não muito difícil, já que, segundo ele, o povo tem respeito pela autoridade central e certamente a grande maioria iria absorver as novas normas de procedimento.

O uso de novas tecnologias como peças sanitárias econômicas, como uma descarga com apenas três litros de água, a utilização de equipamentos altamente sofisticados na agricultura, com técnicas e sistemas de irrigação inteligente.

Em julho de 2001, o Ministério dos Recursos Hídricos lançou um programa, de US$ 481 milhões para prover água potável a mais de 24 milhões de camponeses, que em sua maioria andavam uma média de 10 quilômetros para encontrar água contaminada com fluorine ou arsênico, altamente prejudiciais à saúde. O projeto prevê a implantação de sistemas de irrigação e abastecimento de água. Entre 1996 e 2000, mais de 225 milhões de pessoas foram beneficiadas pelo programa governamental, segundo o vice-ministro Zhai Haohui. Em fins do ano passado, outro vice-ministro dos Recursos Hídricos, Zhang Jiyao anunciou a reabilitação de 217 áreas de irrigação, num total de 7.766.700 hectares, focada na eficiência do uso da água. Outras 3.800 vilas receberam apoio técnico e financeiro para que 69 milhões de habitantes tivessem acesso a água própria ao consumo. (2). Dados de organizações internacionais, como o World Watch Institute, mesmo que as estatísticas apontem os números exatos, falham pois não levam em conta a poluição das águas. Dos 50 mil quilômetros dos principais recursos hídricos, 80% estão degradados, diminuindo gradativamente a produção de pescados.

Em recente visita à China, Roberto Gianetti da Fonseca, hoje diretor executivo da Cacex, revelou que o ideal para as pequenas e médias empresas, é unirem-se e vir à China, após consultar dados e contratar assessorias para não perder a oportunidade e a viagem. As possibilidades dos produtores brasileiros fornecerem, através de parcerias com empresas chinesas, sendo elas estatais ou particulares, estabelecendo joint-ventures, é das melhores.

Os chineses buscam parceiros no exterior, visando um futuro promissor, não só por necessidade do país, mas também para negócios. Os produtores brasileiros buscam recursos e novos mercados para sobreviverem. Para outras informações visite o Portal do Exportador.

Umas dicas de vários experientes negociantes estrangeiros aqui na China. Jamais venha acompanhado de políticos, não traga acompanhantes para fazer compras, os negócios são a médio e longo prazo. E no brinde chinês, o “Gambei”, beba até esvaziar o copo, e mostre ao seu futuro parceiro que o fez. O tal celeiro do mundo encontrou seu comprador?

Notas de rodapé

1 – Dados de 1996

2 – números do Ministério dos Recursos Hídricos da China

Revista Consultor Jurídico, 18 de abril de 2002.

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