Justa posição

Costa Leite deixa STJ para ser vice na chapa de Garotinho

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2 de abril de 2002, 19h07

O que leva um juiz – mais precisamente o presidente do Superior Tribunal de Justiça – a requerer aposentadoria, ingressar em um partido e fazer política? Falamos do ministro Paulo Costa Leite, 53 anos, que às 15 horas desta quarta-feira (3/4), depois de passar o bastão da presidência do STJ ao colega Nilson Naves, deverá anunciar sua decisão de se filiar ao PSB, partido do governador Anthony Garotinho (PSB). Feito isso, seu nome estará à disposição do governador para ser o candidato a vice na campanha à Presidência da República.

Fato inédito da história da Magistratura, nos últimos dois anos Costa Leite parece ter se habituado a quebrar tabus. Inicialmente ao emprestar sua imagem e, sobretudo, sua voz, a milhares de magistrados que até então rezavam na cartilha de que o juiz só fala nos autos. Costa Leite mostrou que, sendo um cidadão como qualquer outro, que paga as contas de luz, água, do crediário na loja e sofre com a Seleção Brasileira, pode também expressar seus pontos de vista, permitir-se a autocrítica e comentar, com franqueza, as virtudes e defeitos da justiça brasileira. Há limites, lógico, mas como não se noticiou que nesse período ele incorreu em alguma falta ética, Costa Leite, finalmente, acabou se credenciando para continuar a falar. Agora, nos palanques.

O fato é que Garotinho já vinha sondando Costa leite para o seu vice. Também é verdade que o ministro – que nesta quarta-feira mesmo vai se aposentar do STJ – vem sendo cortejado há meses pelos demais candidatos de oposição: Lula e Ciro Gomes. Com Lula, Costa Leite teria que se filiar ao PL; com Ciro, as portas do PDT foram abertas pessoalmente por Leonel Brizola.

Desse tempo para cá, o ministro continuou falando – como de hábito – mas não incorreu no pecado de se expressar politicamente. Detalhe: o anúncio que fizer nesta quarta será fora dos muros do STJ. O solo do Tribunal, para ele, continuará sagrado para essa prática.

Durante esse tempo de conversar de pé de ouvido, Costa Leite aproveitou para se envolver pessoalmente na defesa dos interesses dos magistrados no Senado Federal, onde se encontra, em reta final de votação, a emenda da reforma do Judiciário – segundo ele próprio, uma oportunidade para dar à sociedade uma justiça mais ágil e eficaz. Seu maior projeto, à frente do STJ, foi resgatar a credibilidade da justiça – algo ainda inacessível e caro para a grande maioria dos cidadãos brasileiros. Se Costa Leite ganhar o palanque, pode ser que esse debate deixe de ser restrito a um círculo de eruditos.

É um lance ousado, mas nem por isso deixa de ser um momento interessante para a política e para a Justiça.

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