Conclusão

Conclusão: 'Retaliação contra Afeganistão pode ser soco no vazio'.

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17 de setembro de 2001, 16h05

Especialistas não descartam a possibilidade de grupos de extrema-direita norte-americana terem participado os ataques terroristas ao World Trade Center e ao Pentágono, nos Estados Unidos. Existem dois motivos para isso. Primeiro, pelo grande porte do ataque. Segundo, pela participação do americano Timhoty McVeigh no atentado a um prédio público em Oklahoma, em 1995, no qual 167 pessoas morreram vítimas de uma explosão.

Os EUA têm aproximadamente 25 milícias armadas de extrema direita, entre grupos terroristas, racistas, anti-semitas e nazistas. São cerca de 100 mil homens armados recebendo treinamento militar. Timhoty MacVeigh estava ligado a um desses grupos de extrema direita norte-americana. Ele foi condenado à pena de morte e executado em junho, no Estado do Texas.

Com as ameaças de colapso econômico mundial, com a própria economia agonizando, as disputas pelos recursos financeiros então ofertados será ainda mais acirrada e porque não dizer dos poderosíssimos interesses das indústrias de guerra dos próprios EUA, que tem necessidade em desovar seus estoques de produtos de alta tecnologia, dentre os quais, os mísseis. E quem ainda tem poder de aquisição de toda essa instrumentária senão os próprios EUA que já aprovaram 40 bilhões de dólares para a guerra?

A queda do muro de Berlin e falta de adversários à altura levou os EUA a uma certa perda de parâmetros, sobrevalorizando o emprego da força sem a necessária mediação político-diplomática. Desta forma, atraiu contra si um ressentimento generalizado e difuso, mesmo quando revestido de certa admiração. Ao contrário da Guerra Fria, na qual a antiga União Soviética se colocava como o principal alvo dos EUA, a guerra que está por vir não tem um alvo certo. Tem apenas o tormento da certeza de que a maior potência do mundo continua sendo presa fácil para adversários terroristas ousados e suicidas.

Provas irrefutáveis de que o dissidente saudita Osama bin Laden – acusado de operar uma rede terrorista que teria articulado a explosão do mesmo WTC, em 1993, e de duas embaixadas americanas na África Oriental em 1988 – estaria envolvido no massacre de 11 de setembro, de fato, não existem.

O cientista político Samuel Feldberg avalia que George W. Bush, pressionado é obrigado a encontrar um alvo para uma retaliação, mesmo que as provas não sejam contundentes. Mas poderão alegar que os indícios são fortes e justificam a retaliação, que está sendo exigida pela população americana.

Segundo pesquisas, 94% dos cidadãos exigem a adoção de uma atitude de guerra contra os sangrentos ataques terroristas. Mas atacar quem? A resposta do governo dos EUA é evasiva e aleatória: organizações terroristas responsáveis pelos ataques, seus santuários e nações que lhes derem refúgio.

Conclui Luciara Silveira de Aragão e Frota, integrante do Grupo de Estudos de Globalização da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, que determinar uma ação de revide precipitada é se colocar no nível dos terroristas. Os norte-americanos não podem se nivelar promovendo um bombardeio de massa sobre o Afeganistão. Nem o mundo pode entrar em guerra por causa de uma loucura de grupos terroristas nos EUA.

Para a professora Maria Aparecida Aquino, a condução de medidas internacionais duras contra países que têm grupos terroristas não resolvem o problema. Se começarmos a atacar os inimigos, vamos acirrar ainda mais os conflitos e a possibilidade de novos ataques terroristas no futuro.

Segundo a visão dos diversos analistas que divulgaram suas opiniões nos órgãos de imprensa, o fim da guerra fria, ao contrário de muitas previsões apressadas, criou um mundo de instabilidade. Privou Washington de um inimigo definido, que disputava, mas negociava os conflitos localizados. Era um cenário com forte previsibilidade.

Aliás, a América estruturou-se como potência mundial em contraposição ao outro. E este é, hoje, um inimigo sem rosto e sem endereço. O próprio alvo escolhido – o Afeganistão – se encontra completamente destruído por quase vinte e cinco anos de guerra, e não há alvos dignos para os mísseis americanos. Os pequenos acampamentos de terroristas podem se mudar do dia para a noite. Ocupar militarmente o país, depois do preço pago pelos soviéticos ou da lembrança do Vietnã, é algo impensável. Assim, a retaliação militar pode representar um soco no vazio.

O inimigo está diluído e não pode ser esmagado por meios militares convencionais. Muitos conflitos regionais perderam a importância estratégica e foram abandonados à própria sorte, evoluindo de forma anárquica (como na África e Ásia central), gerando movimentos políticos aparentemente irracionais. Antigos aliados, entre os quais os fundamentalistas, que a CIA armou contra os soviéticos, se converteram em rebeldes sem causa e acabaram se voltando contra os EUA.

O cenário internacional, literalmente “privatizado”, é hoje um excelente campo de ação para grupos de todo tipo, muita vezes confusos politicamente, mal orientados ou manipulados. Também há que se examinar os efeitos da globalização liderada pelos EUA, que produziu muitos perdedores e alguns poucos ganhadores, passando a exercer uma hegemonia unilateral, a ponto de desconsiderar os próprios aliados da Otan.

Veja o texto publicado no jornal O Povo

1)- Ameaça dentro da própria casa

Ao contrário do que diz o governo dos Estados Unidos, especialistas não descartam a possibilidade de grupos de extrema-direita norte-americana terem participado dos ataques terroristas ao World Trade Center, em Nova York, e ao Pentágono, em Washington

Movimento de protesto que marcou a queda do Muro de Berlim, em 1989: marco para fim da guerra Fria

Apesar do governo dos Estados Unidos já terem descartado, a hipótese da participação de grupos terroristas norte-americanos nos ataques ao World Trade Center e à sede do Pentágono ainda é uma incógnita.

Especialistas em relações internacionais não descartam a possibilidade por dois fatos: primeiro, pelo grande porte do ataque. Segundo pela participação do americano Timhoty McVeigh no atentado a um prédio público em Oklahoma, em 1995, no qual 167 pessoas morreram vítimas de uma explosão.

”Eu vejo a possibilidade de ter se repetido a mesma estratégia usada em Oklahoma. É difícil o ataque ter acontecido sem a participação de pessoas infiltradas nos EUA, daí a alta possibilidade da participação de grupos de direita norte-americanos”, desconfia a professora de História Contemporânea da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida de Aquino.

”Sem dúvida alguma, a estrutura dos EUA colaborou com a formatação dos atentados, a criação da estrutura logística para que eles acontecessem de forma simultânea. (O atentado) não pode ter sido importado como um pacote pronto”, suspeita o cientista político Samuel Feldberg, integrante do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da USP.

Os EUA têm aproximadamente 25 milícias armadas de extrema direita, entre grupos terroristas, racistas, anti-semitas e nazistas. São cerca de 100 mil homens armados recebendo treinamento militar. Timhoty MacVeigh estava ligado a um desses grupos de extrema direita norte-americana. Ele foi condenado à pena de morte e executado em junho, no Estado do Texas.

O professor de História Contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Francisco Carlos Teixeira, também não descarta a possibilidade de participação americana no ataque. ”Ninguém embarca em aviões, mesmo sendo fim do verão nos EUA, o clima meio tumultuado, e realiza pelo menos quatro seqüestros simultâneos com tamanha facilidade. Que houve infiltração, alguma conexão interna, sem dúvida nenhuma, parece inquestionável”, afirma.

Já o professor de Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Williams Gonçalves, acredita que o assunto deve ser tratado com cautela e prefere não levantar suspeitas sobre a participação de norte-americanos nos atentados. ”Há aspectos muito atípicos nesta ocorrência. Fica difícil pensar que a direita americana tenha sido capaz de lançar um ataque tão violento e brutal contra a própria nação”, acredita.

Luciara Silveira de Aragão, da PUC de São Paulo, também se mostra descrente em relação ao fato, sobretudo por determinantes culturais. ”É muito difícil que um ocidental aceite ser uma tocha humana”, conclui Luciara. (Déborah Lima)

2)- Em busca de um inimigo

Uma nação ferida em busca de vingança. Planos de ataques prontos sem alvos definidos. A imprevisibilidade e a ausência de uma face única do terrorismo deixam os Estados Unidos à procura de um inimigo para a guerra que está por vir – o suficiente para preocupar o mundo

A nuvem de uma guerra invisível paira no ar. Ferido de morte, os Estados Unidos procuram desesperadamente um inimigo sem rosto para vingar o assassinato de dezenas de milhares de civis norte-americanos, estraçalhados pelos ataques ao World Trade Center, em Nova York, e a sede do Pentágono, em Washington, na última terça-feira.

Ao contrário da Guerra Fria, na qual a antiga União Soviética se colocava como o principal alvo dos EUA, a guerra que está por vir não tem um alvo certo. Tem apenas o tormento da certeza de que a maior potência do mundo continua sendo presa fácil para adversários terroristas ousados e suicidas.

”Estamos vivenciando uma mudança na atitude dos grupos terroristas. No caso desses ataques, há uma clara tentativa de confundir a liderança norte-americana e dificultar uma retaliação”, explica o cientista político Samuel Feldberg, do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo.

”Usa-se dos golpes mais baixos e os jogadores não mostram sua face, aumentando muito o estado de insegurança”, analisa o professor de Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Williams Gonçalves, para quem a imprevisibilidade e a completa ausência de regras é a maior arma do terrorismo.

”A situação é singular: os EUA foram atingidos e não puderam localizar quem os atingiu”, afirma o professor de História Contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Francisco Carlos Teixeira.

Provas irrefutáveis de que o dissidente saudita Osama bin Laden – acusado de operar uma rede terrorista que teria articulado a explosão do mesmo WTC em 1993 e de duas embaixadas americanas na Africa Oriental em 1988 – estaria envolvido no massacre de 11 de setembro, de fato, não existem.

No entanto, os especialistas em relações internacionais ouvidos pelo O POVO alertam que apenas indícios do envolvimento de Laden no atentado terrorista podem, na ótica do governo norte-americano, legitimar o desencadeamento de uma série de retaliações sem precedentes na história.

”Pressionado, o presidente (George W. Bush) vai ser obrigado a encontrar um destino para uma retaliação porque as provas não são contundentes. Mas o governo (americano) vai alegar que os indícios são fortes e justificam a retaliação”, avalia o cientista político Samuel Feldberg.

A fúria do povo norte-americano traduz-se no resultado de pesquisas que apontam 94% dos cidadãos pressionando o governo da América a adotar uma postura de retaliação contra os sangrentos ataques terroristas. Mas atacar quem? A resposta do governo dos EUA é evasiva e aleatória: organizações terroristas responsáveis pelos ataques, seus santuários e nações que lhes derem refúgio.

Na prática, o primeiro alvo seria o Afeganistão, onde está instalada a base operacional da rede terrorista comandada por Laden. ”Eu temo que essas medidas assumam um caráter muito duro, uma configuração racista contra países árabes ou muçulmanos, criando os novos inimigos de plantão. O mundo não está precisando disso”, acredita a professora de História Contemporânea da USP, Maria Aparecida de Aquino.

A opção por uma política de retaliação tem duas faces. Se por um lado atende à sede de vingança da opinião pública norte-americana, por outro pode resultar na morte de mais civis inocentes e no comprometimento das relações internacionais.

”Determinar uma ação de revide precipitada é se colocar no nível dos terroristas. Os norte-americanos não podem se nivelar promovendo um bombardeio de massa sobre o Afeganistão, nem o mundo pode entrar em guerra por causa de uma loucura de grupos terroristas nos EUA”, afirma Luciara Silveira de Aragão e Frota, integrante do Grupo de Estudos de Globalização da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.

Para a professora Maria Aparecida Aquino, a condução de medidas internacionais duras pode forçar um acordo entre nações aliadas. E caso essa hipótese se concretize, a situação tende a se complicar ainda mais, agravando o conflito.

”Medidas contra países que têm grupos terroristas não resolvem o problema. Se começarmos a atacar os inimigos, vamos acirrar ainda mais os conflitos e a possibilidade de novos ataques terroristas no futuro”, alerta.

O autor é advogado trabalhista em Curitiba e em Paranaguá, Diretor de Assuntos Legislativos da Abrat (Associação Brasileira dos Advogados Trabalhistas), integrante do corpo técnico do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) e da comissão de imprensa da AAT-PR (Associação dos Advogados Trabalhistas do PR)

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